“JOGAVA À BOLA COM OS RAPAZES NO ADRO DA IGREJA”

KIKA NAZARETH,A MAIS NOVA JOGADORA DA SELEÇÃO A MARCAR NUM MUNDIAL, FALA-NOS DAS SUAS MEMÓRIAS DE INFÂNCIA EM VILA NOVA DE OLIVEIRINHA

Uma das mais talentosas jogadoras da nova geração do futebol feminino, com 20 anos apenas, Kika Nazareth tornou-se a mais nova jogadora da equipa nacional a marcar um golo num Mundial a nível sénior. Aconteceu na Nova Zelândia no jogo disputado contra o Vietname, em que Portugal venceu por 2/0, tendo Kika sido a responsável pelo segundo golo.

 Com casa e família em Vila Nova de Oliveirinha, falou em exclusivo a “O Tabuense”, destacando as suas memórias das passagens por Tábua na infância, principalmente a ligação forte e fraterna que manteve com a avó e dos tempos em que jogava à bola com os rapazes no adro da igreja daquela localidade.

A KIka Nazareth tem raízes familiares em Vila Nova de Oliveirinha, Tábua, onde costuma passar alguns períodos de férias. Que memórias guarda da sua passagem pela terra dos seus avós maternos?

 Até aos meus onze anos, antes dos meus avós nos terem deixado e partirem para o céu, eu costumava passar com a minha irmã, Rita, as férias escolares de verão em Vila Nova de Oliveirinha. A minha avó era a alegria e bondade em pessoa, tinha o maior coração do mundo e queria deixar-nos sempre com um sorriso na cara. Lembro-me que, à noite, o meu avô era o primeiro a deitar-se e nós ficávamos com a avó a ver as telenovelas da TVI – ela dizia sempre que as via até ao fim mas, passados cinco minutos, já estava a dormir. E nos adormecíamos também, mas acordávamos cheias de fome e a avó ia à uma da manhã fazer pataniscas de bacalhau que nós sorvíamos com agrado. Isso demonstra bem o coração que ela tinha e que eu nunca esquecerei. Lembro-me ainda que eu e a minha irmã íamos nessa época buscar dois coelhinhos ao café Carriço, o único da aldeia, recordo ainda das nossas idas à missa todos os domingos. Eu sentia-me bem, partilhando esse momento com as pessoas da aldeia, dos afetos que havia.

   O que mais aprecia nesta região. Por exemplo, um prato preferido? O que a marcou nas suas passagens por V.N. de Oliveirinha?

A minha avó era uma excelente cozinheira e confecionava os pratos tradicionais da região. A minha melhor memória era estar com a família, sentir que Vila Nova de Oliveirinha era um ponto longe de Lisboa em que eu me sentia bem, tranquila, onde se reuniam as pessoas mais importantes da minha família.

   Uma amiga disse que quando vinha cá  “andava sempre com a bola nos pés”. É verdade? Onde jogava por estas bandas? Como começou esse gosto pelo futebol?

   Jogo futebol desde miúda e Vila Nova de Oliveirinha não era exceção. Seja no jardim, ou o adro da igreja, no final das missas, a bola estava sempre nos pés nos jogos que disputava com os rapazes. E o meu pai também entrava na “competição”, ele foi a minha principal fonte inspiradora para o futebol. Apesar de ter jeito, o futebol não era uma prioridade da minha irmã Rita. Ah, e também jogava nas margens do rio…íamos muito banhar-nos, espairecer, principalmente nos dias de calor que se fazia sentir na aldeia, e também jogávamos muito futebol nas margens.

  Ter ultrapassado Cristiano Ronaldo como a jogadora mais nova de sempre a marcar num Mundial é um marco fundamental na sua carreira?

 Claro que atingir estes marcos é importante enquanto jogadora, a nível individual. Mas há que olhar a tudo o que está por detrás. Fui eu a mais nova a marcar um golo, mas há todo um trabalho de equipa que não pode ser descurado. Não esquecer que foi a Telma que marcou o primeiro golo no Mundial,, que há toda a equipa técnica por detrás, a equipa médica, os analistas, as minhas colegas… O recorde tem lá o meu nome, não deixa de ser um recorde, mas é um recorde de todas”. Fico sempre nervosa quando me comparam com outos nomes como o de Ronaldo…mas é um bom nervoso, tenho orgulho nisso. Mas não podemos esquecer o que nossa equipa tem feito até atingir o Mundial. Fui eu que apareci nos jornais mas acredito que, um dia mais tarde, vai surgir o nome de uma outra jogadora.

É verdade que o seu pai, um “doente” pelo Benfica, marcou a sua carreira? Nunca pensou em jogar por outro clube? O que representa jogar no Benfica?

  Sim, é verdade, o meu pai é fanático, mesmo “doente” pelo desporto, mas, sobretudo, pelo Benfica. Eu não tinha muito para onde fugir (risos)…e ainda bem, porque eu não queria. Cresci no Benfica como tenho dito, o clube é a minha segunda casa, muito devido ao meu pai que sempre me incutiu este amor pelo Benfica. Desde pequena que vou aos jogos, que canto as músicas, que choro e rio pelo clube.

Entrevista : José Leite

Fotos: S.L. Benfica

ENTREVISTA NO DIA DE TESTES NO BENFICA PARA AS INTERNACIONAIS PORTUGUESAS

Esta entrevista teve lugar no dia em que, depois do seu regresso do Mundial  da Nova Zelândia e da Austrália, as benfiquistas e internacionais portuguesas Rute Costa, Catarina Amado, Ana Seiça, Carole Costa, Sílvia Rebelo, Lúcia Alves, Andreia Norton, Francisca Nazareth e Jéssica Silva iniciaram os trabalhos da pré-época 2023/24 no Benfica Campus, tendo este dia ficado marcado pelos habituais testes físicos. As tricampeãs nacionais de futebol feminino têm o primeiro embate oficial agendado para 2 de setembro, referente às meias-finais da Supertaça, frente ao SC Braga.

 O jornal “O Tabuense” agradece toda a disponibilidade demonstrada pelos assessores de imprensa do clube da Luz para a concretização desta entrevista à Kika Nazareth.

DESPEDIU-SE EMOCIONADA DO MUNDIAL

  Kika Nazareth despediu-se do Mundial feminino muito emocionada, depois do empate da Seleção Nacional frente aos Estados Unidos (0-0) que ditou o adeus da equipa das quinas na fase de grupos da competição. Na retina de muitos portugueses ficou aquele lance final da partida em que a boa rematada por Telma Monteiro foi embater caprichosamente no poste da baliza norte-americana. Se fosse golo teríamos eliminado as campeãs mundiais.
  “Acho que temos de sair daqui orgulhosas. Não nos podemos esquecer que jogámos num estádio com 43 mil pessoas frente às bicampeãs do mundo e o jogo foi nosso. Saímos com a certeza que, neste patamar, não podemos desperdiçar as oportunidades que criámos. Também saímos com um sabor um bocadinho amargo. Faltou-nos um bocadinho de sorte, o resto esteve lá. O talento, o trabalho, a equipa, o esforço e a dedicação…”, referiu Kika Nazareth, na zona de entrevistas rápidas.

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