“ACHAVA NORMAL PAGAR 5 MIL EUROS PARA OBTER A CARTA DE CONDUÇÃO?”

PROSSEGUIU JULGAMENTO NO TRIBUNAL DE TÁBUA DE MULHER SUSPEITA DE FRAUDE NO EXAME TEÓRICO DE CONDUÇÃO COM O MP A COLOCAR UMA PERGUNTA INCISIVA:

   Prosseguiu no passado dia 6 de julho, no tribunal de Tábua, o julgamento de uma mulher suspeita da prática de fraude durante o exame de condução. Segundo a acusação, Emília Monteiro,43 anos, residente em Almeida, que se inscrevera numa Escola de Condução em Tondela, foi detetada a usar uma câmara de vídeo dissimulada numa bandolete, um telemóvel e um aparelho de internet, recebendo instruções à distância enquanto fazia o exame teórico de condução no Centro de Exames de Tábua. O caso, investigado pela PJ do Centro, passou-se em 2019 e a mulher responde por um crime de falsidade informática na forma tentada, em coautoria com o instrutor de condução e responsável da escola de Tondela, Carlos Alberto, que alegadamente a ajudou, além da própria escola, que a propôs a exame.

 Durante esta sessão, em que foi submetida a uma acareação com Carlos Alberto e o filho deste, Diogo, a arguida confessou ter pago a Carlos 5 mil euros para passar na prova, mas que, depois dos acontecimentos que levaram à sua detenção pela GNR, terá exigido o dinheiro de volta que foi devolvido “em notas”, em duas tranches. Revelou que lhe deram os aparelhos no dia do exame, que lhe terão pedido para trazer uma blusa com botões e o aparelho (microcâmara) ficaria no meio deles. Sublinhou que o filho de Carlos, que referiu que era também o seu instrutor de condução, dando-lhe aulas teóricas e práticas de condução, e que também compareceu em tribunal como testemunha, é que lhe entregou os equipamentos. Que fora ele quem a transportou de Tondela para Tábua, repetindo aquilo que havia dito durante a primeira audiência do julgamento, ou seja, que não tinha a noção que estava a praticar uma ilegalidade.

 Foi nesta altura que a delegada do Ministério Público interveio para perguntar se achava normal pagar 5 mil euros para tirar a carta de condução. “Porque nunca falou na fase de inquérito no Sr. Diogo?”, instou a delegada.  

  Vejamos alguns antecedentes deste caso que muito podem contribuir para determinar a sentença. A mulher já sido detetada a conduzir sem carta e usando um título ilegal, embora assumindo que não sabe ler nem escrever, disse que naquela escola em Tondela conseguira tirar a permissão para poder conduzir. Durante uma das sessões deste julgamento, Emília chegou a sublinhar que depois de se inscrever não esteve presente a qualquer aula, teórica ou prática, e que só a chamaram para efetuar o exame em Tábua. Revelou na altura que foi o filho do dono da escola, Diogo, quem a foi buscar ao comboio em Santa Comba Dão e a levou ao exame, tendo-lhe entregue os equipamentos. Salientou que só pagara a taxa de inscrição no valor de 200 a 300 euros e que só depois de concluir o exame lhe iriam dizer qual o montante final que teria de desembolsar. Revelou ainda que durante o exame quem lhe dava as instruções através de um telemóvel que levava na mala era o filho do dono da escola.

  Carlos, o co-arguido e dono da escola, apresentou uma versão diferente ao juiz, frisando que a mulher (que não sabia ler nem escrever, sublinhe-se) frequentou as aulas de código e de condução e que foi normalmente proposta a exame. Disse ainda desconhecer a origem dos dispositivos encontrados na candidata na altura em que esta efetuava o exame, apenas confirmando que o telemóvel que estava na sua posse foi por ele comprado a um sobrinho que tem uma loja de material informático. Sobre a câmara que também fora usada pela suspeita, o arguido explicou que era usada para vigiar uma empregada que tomava conta de uma criança dependente, transmitindo imagens para um computador.

   O julgamento tem a sua próxima sessão agendada para o dia 16 de setembro.

Texto e foto: José Leite

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