Realizou- se no passado dia 18 no Palace Hotel, em Midões, a última sessão da sexta edição do Festival Literário Internacional do Interior (FLII), Palavras de Fogo, a Arte-Via. Depois das etapas de Alvaiázere, Ansião, Arganil, Coimbra, Condeixa-a-Nova, Góis, Lousã, Miranda do Corvo e Pedrógão Grande foi a vez de Midões fechar o Festival, num cenário algo simbólico, pois trata-se de um antigo edifício em Midões destruído pelo fogo em outubro de 2017 e que deu lugar a um hotel de charme, fruto do investimento e vontade assumida pela família do empresário Fernando Tavares Pereira.
Este evento traduziu uma espécie de pré inauguração deste requintado espaço e foi patrocinado pela MAAVIM, numa homenagem às vítimas dos fogos florestais e que teve como oradores a professora catedrática da Universidade de Coimbra e escritora Cristina Robalo-Cordeiro, o escritor Tabuense Ricardo Fonseca Mota e o professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra António Pedro Pita.
Poemas de Mário Cesariny lidos pelos moderadores, o surrealismo na literatura e a sua adaptação nos tempos atuais estiveram em foco para além das questões ligadas ao ostracismo a que o interior está votado pelos poderes públicos e a forma ultrajante como têm sido esquecidas as vítimas dos fogos de outubro 2017. Presente neste evento, o empresário Fernando Tavares Pereira frisou, a este respeito, que se for aprovada a Carta de Perigosidade de Incêndio Rural que foi suspensa até dezembro de 2024, essa medida constituirá um duro golpe nas pretensões de desenvolvimento destas regiões. Nuno Pereira relevou o facto de Coimbra se ter “fechado em si própria quando começou a albergar todas as universidades”, havendo um desinvestimento nos vários sectores nas várias regiões que dependem dessa capital de distrito.
Depois de ter referido na sua intervenção que a sua única excentricidade “é viver no interior geográfico e espiritual”, o escritor tabuense Ricardo Fonseca Mota falou ao nosso jornal sobre o tema do evento: “Se para assinalar os incêndios de 2017 se avança com um festival literário, há logo aqui um manifesto, pomos a cultura como plataforma de reflexão, de ação, recuperando o passado, não por saudosismo, mas para que no presente possamos desenhar e pensar o futuro.Com a ajuda dos poetas, dos filósofos, dos artistas podemos e devemos repensar questões como o interior”.
Sobre o momento atual da cultura, Ricardo Mota entende que a mesma “não virou uma prioridade, como aliás, nunca foi, pois quando é necessário cortar verbas nos ministérios a cultura está sempre na linha da frente, não esquecendo outros problemas mais graves, como o da Educação. A Cultura continua a ser um mau negócio, pois não há uma cultura de Mecenato em Portugal”, acentuou o escritor laureado com o Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís.
Na sexta edição do Festival Literário Internacional do Interior (FLII), Palavras de Fogo, a Arte-Via propôs uma homenagem às vítimas dos fogos florestais — sob a égide do lema “A arte e a cultura como reanimadores de uma região e de um povo”. Tratou-se de um evento intermunicipal, que decorreu em dez concelhos da região afetados pelos fogos, com o objetivo de levar os livros e os escritores aos locais mais inusitados e imprevisíveis, como fábricas, campos, praias, igrejas, mercados, romarias, locais onde as pessoas trabalham e convivem. Esta edição celebrou os centenários de Eduardo Lourenço, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny, Natália Correia e Urbano Tavares Rodrigues, bem como os 50 anos da Associação Portuguesa de Escritores, com o tema “Pensamento, palavras, poesia, Língua de fogo na Imensa boca dessa angústia”.
Texto: José Leite
Fotos: Nuno Pereira/J.L.
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