Cultivar…

Foi com interesse que assisti à inauguração do tão aguardado espaço “Cultiva” e à cerimónia de comemoração do feriado municipal. Nos dois eventos foi destacado um ponto que considero essencial: que Tábua seja, cada vez mais, amiga do empreendedorismo, do investimento e do desenvolvimento empresarial (sem prejuízo de outras atividades multidisciplinares). Para que isso aconteça é preciso ter coragem política. Como se sabe, o PS central tem dificuldade de relacionamento com a iniciativa privada, uma vez que não é aí que reside a sua base de apoio. Porém, as políticas autárquicas devem ser (e, normalmente, são) mais pragmáticas e próximas das realidades locais. Para que Tábua seja mais competitiva também é preciso dar passos concretos. Creio que é evidente aos olhos de todos que a narrativa criada durante a campanha das eleições autárquicas de que o interior haveria de ser contemplado com uma fatia generosa do PRR tem cada vez menos adesão à realidade, num país que continua a ter imensos problemas de execução orçamental. Daí ser tão importante que as políticas se foquem na capacidade de criação de riqueza, e não só na sua (re)distribuição.

Temos que pensar a uma escala local e com ambições sustentáveis. É evidente. No entanto, temos de reconhecer que a realidade tabuense não é a mesma de há 20 anos. Por outras palavras, enquanto outras localidades (Santa Comba Dão, Oliveira do Hospital e Seia, por exemplo) foram elevadas a cidade e, com isso, beneficiaram, Tábua teve que trabalhar e esperar o dobro para compensar o que acarreta a (ainda e cada vez mais) injusta categorização de vila. Ao ter perdido o comboio da reorganização territorial, Tábua ficou de fora de várias iniciativas estruturais – tanto ao nível de financiamento público e de infraestruturas, como também do mapa de atratividade e de relevância política e social. Veja-se o problema com os saneamentos e com as instalações de gás, por exemplo. Ou o atraso com que chegaram importantes equipamentos. O caso do novo espaço Cultiva é um bom exemplo: os arautos da modernidade chegam a Tábua praticamente já quando se tornaram comuns (e, por isso, imprescindíveis) ou obsoletos noutros locais. No meio de tudo isto, há aqui um aspeto positivo: enquanto que, noutros municípios, a gestão de certos equipamentos públicos se revelou ineficiente e incapaz de aproveitar o seu potencial, Tábua tem a possibilidade de aprender com os erros cometidos e, assim, rentabilizar ao máximo os seus investimentos.

Sobre o “Cultiva”: é obra que entra pelos olhos (e pela estrada) dentro. Interessante recuperação de um espaço que era necessário revitalizar. É muito maior do que imaginei. Arquitetonicamente minimalista, é um espaço polivalente, que nos induz no zen dos locais desabitados. Lá dentro, podemos imaginar tudo e o seu contrário. A expectativa é alta. Muito se tem augurado para o edifício. Será que pode vir a ser uma extensão do Politécnico de Coimbra? Ou o novo polo da EPTOLIVA? A avaliar pelo acordo ontem assinado, poderemos esperar um satélite do Instituto Pedro Nunes? Ou ficar-se-á pela nobre função de dar apoio ao empreendedorismo de base local? Certamente não poderá ser tudo isto ao mesmo tempo, nem que as suas dimensões tivessem sido ainda mais ampliadas.

Há uns anos, a grande “guerra” entre autarcas estava relacionada com o fenómeno de expansão do ensino universitário e politécnico. Este último, sempre com uma componente mais local, atomizou-se, e, de facto, foi motor de algum desenvolvimento. Reivindicavam-se instituições de ensino superior em cada capital de distrito, se não mesmo em cada sede de concelho. Mais recentemente, há cerca de uma década, surgiu a “febre” das incubadoras.

Não irei elaborar sobre a relevância desses equipamentos, a sua utilidade e funcionamento ou os interesses que, na prática, servem em muitos locais. Porém, há que reconhecer: é um passo de abertura à iniciativa empresarial e um sinal de estímulo para potenciais empreendedores. E é isto que é preciso assinalar. É este espírito desenvolvimentista que deverá permanecer daqui em diante. Se, por um lado, o rol dos agraciados na cerimónia no CCT nos demonstra que Tábua consegue exportar talento, por outro lado, é importante que se multipliquem os exemplos de quem consegue prosperar e realizar-se no concelho. Cultivemos essa semente.

André Rui Graça

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