UMA FEIRA DE SÃO MARTINHO QUASE SEM CASTANHAS

  Não fora a presença, ao fundo do recinto, do Sr. Eugénio Ribeiro,77 anos de idade, com o seu assador à moda tradicional, era caso para dizer que as castanhas andaram arredias na Feira de São Martinho que teve lugar em Tábua, no passado domingo. Vendidas a 2,5 euros a dúzia, elas lá iam saindo, quentes e boas, biológicas, saborosas, colhidas na Quinta do Margarido. Reformado, antigo proprietário de um café na Rua dos Combatentes, Coimbra, residente na Aldeia de Nogueira, Eugénio recebeu o convite particular da Câmara para marcar presença neste evento. E se não fora ele, o produto que dava nome à Feira passaria despercebido.

   De resto, tratar-se-ia de uma mostra igual às que se realizam todos os meses.Com a venda dos artigos habituais. E onde nunca falta o chamado Rei dos Ciganos, o Alfredo Joaquim, que, aos 67 anos de idade, talvez seja o mais antigo feirante. ”Agora as condições são melhores, mas, quando chove, isto aqui é um rio no meio das bancas, pois faltam lancis”, diz, criticando, ao invés, a resolução de uma Câmara vizinha, de Seia, de mudar o local da Feira, ”um autêntico atentado”. Em Tábua paga 21 euros pelo aluguer mensal (quem quisesse estar nesta Feira especial de São Martinho teria de pagar 42 euros) e, no domingo, não se queixava do negócio: “Está bom tempo, as pessoas tinham necessidade deste tipo de eventos, de sair de casa, e estão a ser cumpridas todas as normas de segurança, como o uso obrigatório das máscaras”, diz, ao mesmo tempo que atendia os clientes que, naquele momento, até se aglomeravam na banca. E lá iam saindo os casacos a 10 euros, não havia mãos a medir, pois o frio já está a apertar. Mais à frente, uma sua “patrícia”, D. Antónia, é que se lamentava da fraca venda de roupa interior, mesmo a 5 euros três peças. ”Não se faz nada”, frisava.

  O novo espaço até estava bem composto de público, e foi lá que encontramos o futebolista do Oliveira do Hospital, André Fontes, um jovem que já passou por clubes da primeira divisão – Feirense, Penafiel, Académica, entre outros – e que se mostrava agradado com o ambiente envolvente: “É salutar ver que estas tradições se mantêm, depois de um longo período em que as pessoas estiveram confinadas”. Desejamos uma boa recuperação, pois o André lesionou-se recentemente.

 Numa outra banca, deparamos com as tradicionais panelas de ferro fundidas, sim, essas que os nossos antigos usavam para colocar nas fogueiras e das quais saiam aqueles cozinhados com um sabor inigualável e que duravam toda a vida. Fabricadas na Fundição Guimarães, o preço rondava os 80 euros por uma panela de 10 litros, os tachos a 59 euros, e, segundo nos referiu o vendedor, António José, “há o risco de acabar esta produção por falta de matéria prima a tonelada do ferro chega a atingir os 2 mil euros a tonelada – e,  por isso, estão sempre  a valorizar, qualquer dia são uma relíquia”.

  A animação do espaço foi feita pelo Grupo de Concertinas A.C.O.A (Associação Cultural os Oliveirenses & Amigos). Agostinho Pereira, o coordenador, disse-nos que este grupo de Oliveira do Hospital tem uma escola de música de concertinas e cavaquinhos, com cerca de 40 alunos e a aposta passa pelas músicas do Cancioneiro português, ”pelo qual temos um grande respeito”. Vão mudar a sede para a Aldeia da Nogueira e não faltam os convites para estarem presentes neste tipo de eventos: “Em 2019, tivemos até uma receita de 20 mil euros, não foi mau”, revela. E lá formaram um círculo perto da entrada da Feira, manuseando os instrumentos, atraindo as atenções das pessoas com os seus acordes, antes de rumarem ao Mercado Municipal.

  José Carlos, vendedor de roupa, depois de trocar umas impressões com o vereador David Pinto, falou também à nossa reportagem, sustentando que a Feira deveria ter sido mais promovida, ”pois é a mais importante do concelho”.

  “Seria importante que a feira habitual se realizasse todas as quinzenas e não mensalmente”, referiu, antes de aliciar o repórter para que lhe comprasse uma samarra, “veio de Mirandela, é uma categoria, e a pele de raposa da gola é genuína”. E lá conseguiu os seus intentos. Ficámos mais aliviados na carteira, mas com a certeza que iremos enfrentar em melhores condições o inverno beirão, mesmo que nos falte o quentinho das castanhas. 

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