ANDRÉ RUI GRAÇA, CANDIDATO À ASSEMBLEIA MUNICPAL PELA COLIGAÇÃO PSD/CDS:
André Rui Graça, 30 anos, nasceu em Coimbra, vive em Tábua. É professor universitário com percurso internacional, homem da Cultura (ver biografia em caixa) e vai integrar a lista à Assembleia Municipal da candidatura da coligação do PSD/CDS-PP liderada por Fernando Tavares Pereira. É filho do Dr. Rui Graça, figura histórica do concelho, já falecido, e, nesta entrevista a “O Tabuense”, confessa alguma mágoa pelo facto dos representantes políticos do concelho não terem prestado a devida homenagem ao homem que tanto deu à comunidade e que a serviu de forma brilhante e solidária.
Responde de uma forma calma, apontando as maleitas do regime que se tem perpetuado ao longo dos últimos anos, propondo, de uma forma convicta, a necessidade de uma mudança que considera benéfica em termos democráticos e desenvolvimento económico. ”Chegou a vez de o PS mostrar o que vale na oposição”, frisa.
“Acho que o atual executivo não homenageou de formas digna a memória do meu pai. Nem a um beco deram o nome dele”
“Fernando Tavares Pereira é um empreendedor, uma pessoa que já demonstrou ter capacidade de gestão e competência, tem preocupações sociais com as pessoas”
“Mostrem-me as credenciais do Dr. Ricardo Cruz, os seus atributos profissionais, as suas grandes concretizações. Eu desconheço-as”
Entrevista: José Leite
Fotos: Nuno Pereira
Na apresentação que fez sobre a sua candidatura, fala na falta de democracia atualmente existente em Tábua, na alternância necessária para desenvolver o concelho. O que o levou a aceitar candidatar-se pela coligação “Coragem para Mudar”?
É muto importante que deixe de haver uma certa cultura da ideia de “quem não está por mim é contra mim”. Especialmente por parte de quem ocupa cargos públicos. O debate democrático é necessário. Eu venho do ambiente universitário e científico. Estou habituado ao debate, à divergência de opinião e à busca da melhor solução. O que noto – e não é uma exclusividade de Tábua – é uma prevalência muito grande do que os poderes instalados querem. E acho importante a alternância política. Para além de um clientelismo que foi criado em Tábua – e isso só acontece quando um partido está há muito tempo no poder – cria-se associada a isso a ideia que muitas pessoas poderão ter em risco os seus postos de trabalho, as suas carreiras, a sua vida, se Tabua tiver um rumo diferente. Acho muito importante tranquilizar essas pessoas. A mudança governativa não significa que as pessoas vão sofrer represálias. Acho muito importante que a campanha do PSD/CDS diga aos tabuenses de uma forma clara que conta com todos; que não devem ter medo de mudar. Eu, neste momento, tenho mais medo da continuidade do que da mudança. Quando as coisas começam a inculcar-se, como os fungos nas pedras, acaba por não ser bom. Deixa de haver simbiose, deixa de haver pluralidade e qualidade democrática e é muito importante que isso não aconteça. As mudanças que tem havido ocorrem ao nível de algumas pessoas que estão no executivo, mas acho que é preciso muito mais. Está na hora de mudar, a mudança é benéfica.
Quais são as diferenças mais sintomáticas entre os dois principais candidatos, Ricardo Cruz e Fernando Tavares Pereira?
Bom, essa pergunta deve ser mais direcionada aos dois candidatos do que a mim. Mas se quiser a opinião de uma pessoa vinda de fora, confesso que não tenho com ambos uma relação longa. Conheço-os pela sua história. O Sr. Fernando Tavares Pereira é um empreendedor, uma pessoa que já demonstrou ter capacidade de gestão e competência. Tem preocupações sociais com as pessoas. Do Dr. Ricardo Cruz sei pouco. Conheci-o quando estava naquele ginásio na rotunda à saída de Tábua, depois disso, passou a fechar-se na Câmara e nunca mais o vi. Mostrem-me as credenciais do Dr. Ricardo Cruz, os seus atributos profissionais, as suas grandes concretizações. Eu desconheço-as.
Como se posiciona em termos ideológicos?
Assumo-me como independente nesta candidatura. Ideologicamente, comecei à esquerda. Ainda bastante jovem, deixei-me deslumbrar pelos movimentos então em voga.
Provavelmente influenciado pelo seu pai, o Dr. Rui Graça, um homem da esquerda?
Não propriamente. Ele era uma pessoa difícil de se enquadrar politicamente. Chegou a ser mandatário de uma candidatura da CDU e a única filiação que teve, foi a de ser fundador do Partido Popular Monárquico.
O seu pai deu-me uma entrevista onde afirmou ser um monarca sem trono…
Exatamente. Há um aspeto transversal: todos nós queremos um país melhor. Neste momento, eu defino-me como um social-democrata a tender para o liberal – para o liberalismo clássico, não aquele tipo de liberalismo nocivo, o neoliberalismo, mas sim um liberalismo do século XIX.
Que ensinamentos colheu do legado do seu pai?
Acho que o maior legado que ele me deixou, foi o de compreender a política como um serviço à comunidade – o meu pai fê-lo, sempre serviu a população – privilegiando o espaço de debate, de convergência. Não me legou um partido ou uma ideologia, mas sim, a necessidade de intervenção, de me comprometer com a gestão da polis, ou seja, da comunidade, e poder estar ao seu serviço no melhor que as nossas capacidades o permitirem.
Tábua homenageou de forma condigna a memória do seu pai?
Acho que não. Os tabuenses sabem quem foi o meu pai. Era uma pessoa consensual, nunca criou grandes inimizades, mas, provavelmente, por cegueira ideológica, acho que este executivo nunca prestou a devida homenagem e reconhecimento ao meu pai. É verdade que lhe deram a Medalha de Mérito do Município, mas hoje vejo isso como a utilização da imagem dele para prestigiar essa condecoração. No funeral do meu pai não vi ninguém do executivo nem em representação. Mandaram-me cartas, mas foram incapazes de um gesto aberto e público. Andaram aí a pôr nomes nas ruas todas e nem a um beco lhe deram o nome. Tenho muita pena que isso tenha acontecido e estou certo que os tabuenses não concordam com o facto do meu pai ter sido relegado ao esquecimento. Recordo o episódio quando foi levantada a questão de se incluir o nome do meu pai na toponímia tabuense. Na altura, o Eng.º Ivo Portela, então Presidente de Câmara, era de opinião que só se devia dar nomes às ruas depois das pessoas falecerem. Não preciso de comentar o que aconteceu à Avenida de Lisboa, agora denominada Avenida Eng.º Ivo Portela, que ainda está bem vivo.
O que falta em Tábua e quais as suas propostas para melhorar a qualidade de vida das pessoas?
Tábua não age, reage. Está integrada na Comunidade Intermunicipal e, muitas vezes, funciona por reação. Ou seja, o primeiro sinal de muitas coisas raramente parte do concelho. Por exemplo, do ponto de vista do debate, há falta de democracia, ainda estamos muito próximos do antigo regime. Partiu do Sr. Fernando Tavares Pereira este convite para eu integrar a Assembleia Municipal, que é um órgão de deliberação, fiscalização e, também, de debate. As minhas propostas vão ao arrepio de um investimento numa Tábua que aja, não reaja; numa Tábua em que tudo o que acontece no exterior chegue aqui com menos atraso – antigamente, chegava com 20 anos de atraso, agora com 15, vamos encurtar isto para dois ou três – numa Tábua com um claro enfoque na valorização das pessoas e do seu potencial. Deve haver menos distância entre as pessoas e os políticos e haver um investimento concreto em mais e melhor cultura. Neste âmbito, seria imprescindível fazer-se um Plano de Cultura de forma consequente, porque, atualmente, este sector não corresponde aos anseios dos tabuenses, sobretudo, os mais exigentes. As cidades grandes são polos atrativos, não só por causa do mercado de trabalho, mas, também, por causa da experiência que oferecem a quem lá vive. Muito disso está ligado com a oferta cultural e com o dinamismo – um dado que parece ter escapado a sucessivos executivos. Por um lado, temos de celebrar as nossas tradições, que estão enraizadas nas freguesias – e as Juntas podem ter neste âmbito um papel importante. Por outro, valorizar de forma concreta a Cultura que tem de chegar cá, que tem de ser dinamizada. Onde está a articulação para implementar um Plano Nacional de Cinema? Não há. Onde está um plano que ajude as pessoas a terem uma literacia do ponto de vista das artes do espetáculo, ao nível do teatro, da performance….Não há. Os tabuenses não só podem usufruir de cultura mas devem estar mais sensibilizados para a sua interpretação e para aquilo que a Arte nos diz sobre o mundo. Há varias formas de literacia: a informática, a financeira (com uma aposta muito concreta na educação para o empreendedorismo), etc… Estão agora a construir um centro incubador de empresas… já cá devia estar há vinte anos. Fala-se em projetos e iniciativas ligadas com a juventude que deixaram de ser moda nos anos noventa. Por isso, eu digo que as coisas chegam aqui com atraso e quando chegam não têm já valia. É como se estivéssemos a instalar o Windows 95 em 2021…
Faltam, por conseguinte, estruturas a nível de ensino que cativem os jovens de forma a que não tenham necessidade de sair do concelho…
Eu faço parte de uma geração de ouro: da minha turma do 9º ano aqui em Tábua saiu um Adido Comercial na Embaixada do Canadá, uma gestora de laboratório do Instituto de Medicina Molecular, temos uma investigadora conceituada na Universidade de Aveiro, eu sou professor na Universidade da Beira Interior, temos médicos, advogados, temos, por conseguinte, pessoas que acabaram os seus estudos aqui e que, de uma forma ou outra, tomaram o elevador social. Mas não foi aqui que o encontraram e nem os jovens de hoje sabem que esses exemplos são. Tábua podia ter outros mecanismos para aproveitar o talento. O que tem faltado a este executivo (e a candidatura de Ricardo Cruz também não tem) é saber rodear-se de talentos concretos e não apenas de pessoas que se juntam a declarar o seu apoio, movidas pelos mais variados interesses. O que os grandes líderes sabem fazer é rodearem-se de talento, terem os melhores ao seu lado, independentemente das suas ideologias. A liderança em Tábua tem funcionado muito na base do amiguismo.
Os incêndios de 2017 e agora a pandemia podem servir de explicação para a crise, por exemplo, que se vive no comércio local, com muitos estabelecimentos fechados?
Foram dois grandes testes para os quais, penso eu, nenhum executivo estava preparado. Mas isso não pode servir de desculpa para tudo, há limites para a responsabilização. É claro que podem ser implementadas mais medidas para promover o comércio local, embora este dependa da atividade privada. Não é bom ver os estabelecimentos a fechar, as pessoas a ficarem desempregadas. Provavelmente, há que mudar de estratégia para resolver esse problema. Talvez as politicas para combater a pandemia não tenham sido as mais adequadas. É preciso investir em oportunidades, em outras fontes de rendimentos, estabelecer ligações com polos de empresas aqui à volta do concelho e, assim, tentar resolver este problema. Mas para todos os tabuenses, não só para os que apoiem determinada lista.
Que mensagem final quer deixar aos tabuenses?
Sinto que esta é a minha terra, tenho apreço por toda a gente. Estou seguro que este projeto liderado por Fernando tavares Pereira está preparado para tomar as rédeas do concelho e elevá-lo onde ele merece, a uma prosperidade maior. Peço que tenham coragem para mudar e que não temam essa mudança, pois esta é para melhor – do ponto de vista político, do rumo e do discurso. Ou seja, não e uma mudança que vá influir do ponto de vista negativo na vida das pessoas. Não queremos perpetuar esta cultura de compadrio e caciquismo. Isto sem excluir as boas intenções, a capacidade e a valia de pessoas noutras outras listas. Por isso é que eu digo que é muito importante o diálogo
BIOGRAFIA
André Rui Graça é professor convidado na Universidade da Beira Interior, investigador na Universidade de Coimbra (Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX – CEIS20), investigador do LabCom UBI e consultor nas áreas de cultura, gestão e estratégia junto de associações culturais e empresas. É coordenador de um grupo de trabalho internacional, em teoria do cinema, da Associação Portuguesa dos Investigadores da Imagem em Movimento. Colabora, também, com o website cinéfilo “Cinema Sétima Arte” e com a “Aniki: Revista Portuguesa da Imagem em Movimento”. Tem escrito regularmente para o caderno P3, do jornal Público, participado em publicações internacionais e apresentado o seu trabalho, em vários países, em dezenas de conferências científicas.
Possui uma licenciatura em estudos artísticos e uma pós-graduação em gestão pela Universidade de Coimbra. Doutorado pela University College London, André Graça tem-se interessado sobre o comércio do cinema e do audiovisual, cinema português, políticas culturais, programação e gestão.
“É preciso estudar mais o cinema português e ajudar a divulgá-lo” e que “ainda há falta de livros sobre cinema português em inglês. Se não os houver de todo, nunca poderemos efetivamente ajudar à divulgação do cinema português.”, afirmou André Rui Graça ao Cinema Sétima Arte que o entrevistou a propósito do recente lançamento do seu livro “Portuguese Cinema (1960-2010): consumption, circulation and commerce”.
“Este livro é uma versão atualizada da minha tese de doutoramento e a ideia nasceu quando estava em 2012 a fazer a minha tese de Mestrado em Inglaterra. Nessa altura de crise, interroguei-me: quais os motivos que impedem que o cinema português não dê o salto? E numa noite escrevi uma proposta que apresentei à Fundação para a Ciência e Tecnologia que me valeu a Bolsa de Doutoramento. Fui convidado pela Universidade de Londres para escrever o primeiro grande livro sobre o cinema português em língua inglesa. Nós não temos muito essa consciência, mas a cultura portuguesa lá fora é completamente desconhecida. A obra teve grande aceitação e foi recentemente publicada por uma editora académica de referência no mundo inglês”.
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