A ÚLTIMA CASA A SER RECONSTRUÍDA NO CONCELHO DEPOIS DE UMA ÁRDUA LUTA CONTRA O ESTADO
“O trauma dificilmente se esquece. Ainda parece que vivo a tragédia daquela noite”. Paulo, de Vila Nova de Oliveirinha, e a mulher Rosa Peres, quatro anos depois do grande incêndio, já têm a sua casa concluída, embora ainda não a possam habitar. Falta a licença de habitação, ligar a electrcidade, a água, pagar (às suas custas) o equipamento de cozinha e o restante mobiliário. É a última habitação no concelho de Tábua a ser reconstruída pelo Estado depois de uma luta incessante de vários meses.
Vale a pena recordar essa injustiça que Paulo e Rosa viveram e que só foi possível de ultrapassar graças a uma pronta e expedida intervenção por parte da MAAVIM. Metido o processo para a reconstrução da habitação, este foi chumbado porque o imóvel estava em nome do pai da Rosa, que logo se ofereceu para passar a casa para o nome da filha – tal não foi suficiente para demover a CMT e a CCDR-C, que mantiveram o chumbo do processo. Não foi considerado um motivo válido o facto de apresentarem provas que viveram nessa habitação durante 28 anos, que essa era a sua morada fiscal, até ser destruída pelo fogo.
Convém sublinhar que essa regularização não foi efetuada porque a mesma acarretava custos que eram insuportáveis para a débil situação económica deste agregado familiar, protelando por isso, no tempo, essa regularização, nunca equacionando a catástrofe que os viria a vitimar.
Foi depois de uma intervenção da MAAVIM através da advogada, Alexandra Leal, e de sucessivas reuniões na CCDRC, que a justiça foi feita. Tarde e a más horas, pois tinham decorrido três anos após a tragédia e Rosa Peres teve de ir morar para a casa de uma filha que, por caridade, a cedeu temporariamente.
Entretido na sua faina de cuidar das couves, atacadas pelas lagartas e pelos caracóis, Paulo já agora pode respirar de alívio. ”Foram anos de luta até receber a luz verde da Câmara e da CCDR, mas não posso deixar de reconhecer o trabalho feito pelo Nuno Pereira e pela MAAVIM. Digam o que disseram, eles foram fundamentais neste processo”.
O trauma dessa noite, esse persiste, quatro anos depois. Na sua memória, não esquece aquelas bolas de fogo que o rodearam e o fizeram temer pela vida assim como da família. “Lembro-me que a bilha de gaz rebentou e levei com um pedaço na cabeça”. Dos esforços que fez, no negrume da noite, em procurar pela mulher e filha, da mágoa que sentiu ao ver os animais serem devorados pelas chamas, 5 ovelhas, 3 cabras e dois porcos. Mas não esqueceu a onda solidaria que recebeu: desde a MAAVIM, fundamental como dissemos no processo de legalização da sua candidatura que levou a que, quatro anos decorridos, a sua nova casa esteja já concluída, até de gente vinda de longe, de Grândola, que lhe trouxe um galo e uma cabra e ração para os animais.
Agora há que reconstruir a vida. Mas encara com um certo pessimismo o futuro: ”Se acontecer um incêndio como o de há quatro anos, pode ainda ser pior. Os campos estão abandonados, as pessoas, desanimadas, desapareceram”.
Texto: José Leite
Fotos: Nuno Pereira/ Arquivo
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