“Pouco foi feito e a floresta é um barril de pólvora à espera de mais uma catástrofe”

“O Governo e as diversas entidades não concretizaram as promessas que foram feitas. Não apoiaram como devia e o interior está cada vez mais desertificado, algo que se agravou com os incêndios de Pedrogão e de Outubro”. As acusações são do empresário Fernando Tavares Pereira que ontem participou no fórum da TSF sobre a homenagem às vítimas dos grandes incêndios de 2017. “Na agricultura o minifúndio foi desprezado. A floresta é um barril de pólvora que está à espera que venha mais uma catástrofe. Quase nada foi feito”, frisou o também líder da MAAVIM, um grupo que se tem dedicado a apoiar as vítimas dos grandes fogos de Outubro de 2017.

“Só depois de um novo incêndio, de repercussões catastróficas, é que se vai reflectir novamente sobre o que deveria ter sido feito e não se concretizou”, sublinhou, salientando que “o passado é o presente, o presente é o futuro e o futuro não existe”. “Somos uma região esquecida e julgados como pessoas de terceira. Já nem somos considerados de segunda”, atira, lembrando ainda que o processo de apoios foi mal conduzido e “houve casas que não existiam e foram feitas e outras que ficaram em ruínas e que não foram recuperadas”.

Fernando Tavares Pereira insiste em pedir contas ao Governo e às diversas entidades envolvidas no processo de apoio à recuperação destes territórios do interior. O empresário lembra que vieram milhões de euros para ajudar a recuperar estas regiões, mas diz que apenas 20 a 30 por cento foram investidos nestas áreas que não tem acessibilidades e vai perdendo valências à medida que o tempo passa.

“O resto não ficou cá. É um caso de polícia. Onde foi gasto o resto do dinheiro destinado ao apoio ao desenvolvimento, à reconstrução, aos serviços, para aqueles que tinham ovelhas e ficaram sem nada?”, interroga-se, concluindo que a população do interior está esquecida. “Somos uma região esquecida e julgados como pessoas de terceira, nem de segunda”, continua lembrando que também aqui a política deixou a sua marca. “Infelizmente, o processo foi também marcado pela velha máxima: és por mim faço, és contra mim não faço. Houve casas que não existiam na altura dos incêndios e foram feitas e outras que ficaram em ruínas e que não foram recuperadas”.

Fernando Tavares Pereira também não concorda que as vítimas daquelas tragédias sejam todas englobadas no memorial inaugurado em Pedrogão. Considera que se trata de incêndios distintos e que deveriam existir memoriais diferentes. “Temos uma região que engloba vários concelhos como Tábua, Oliveira do Hospital, Seia, Arganil, Penacova ou Pampilhosa da Serra que foi afectada de forma trágica pelos incêndios de Outubro. Foi um incêndio com menos vítimas mortais (cerca de meia centena de vítimas mortais, dezenas de feridos e destruiu total ou parcialmente perto de 1.500 casas e cerca de meio milhar de empresas), mas com mais prejuízos a todos os níveis. Mas apenas se fala de Pedrogão, esquecendo-se o incêndio de Outubro de 2017, o que, no meu entender, é lamentável”, concluiu.

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