ISA ANTUNES DIZ QUE JÁ NASCEU COM UMA BOLA DEBAIXO DO BRAÇO
“Filha de peixe sabe nadar”, como se diz no velho ditado. E Isa Antunes, aos 30 anos de idade, fez jus a esse velho ditado, pois sendo familiar de José Manuel Antunes, o antigo guarda-redes e presidente do Tourizense, manteve-se fiel a esse legado. Demonstra grandes dotes futebolísticos como ala na equipa feminina de futsal da Académica, que milita na principal divisão da modalidade, numa posição que lhe permite manter-se nesse escalão a cinco jornadas do termo do campeonato, “o que será um grande feito, tendo em conta as diferenças nos apoios em relação a outras equipas”, frisa.
É licenciada na Escola Superior de Educação de Coimbra, exerce funções como secretária clinica na Santa Casa da Misericórdia de Condeixa, desde 2018. Na Académica, desde 2019, ganhou praticamente tudo o que havia para ganhar a nível distrital e no ano passado a equipa da briosa conseguiu o feito histórico de subir à 1ª divisão, a elite do futsal feminino.
“É sempre um sentimento especial quando se vai jogar ao pavilhão da Luz contra o Benfica ou ao João Rocha, do Sporting. É sempre muito motivante jogar contra as nossas internacionais. O futsal feminino tem crescido cada vez mais e ainda há pouco ficamos em terceiro lugar no Campeonato da Europa. A modalidade tem tido muita visibilidade ao nível da comunicação social, principalmente através do Canal 11, que é o canal da Federação Portuguesa de Futebol”, sublinha Isa, relevando a “grande qualidade das jogadoras, em que 2023 marcou o ano em que há mais federadas de sempre numa modalidade em franco crescimento”.
Foi precisamente num jogo com o Benfica, na Luz, que Isa se lesionou num joelho, estando atualmente a fazer fisioterapia, não devendo regressar à “quadra” esta época.
Acumula a sua prestação na equipa sénior da Académica como treinadora dos Petizes, os jovens até aos 6 anos de idade, referindo a esse respeito, “que não é fácil esse treino, mas é muito gratificante”, revelando que o convite foi feito por parte da direção da Académica e do treinador, João Filipe.
“A secção de futsal da Académica é uma equipa muito familiar. Todas as treinadoras dos escalões de formação são jogadoras seniores do clube. É um organismo autónomo do futebol, com um presidente e uma direção próprios”, acentua, não fugindo à questão que lhe colocámos que a Académica, em termos de futebol onze, atravessa um momento menos bom, ”o que é complicado para a população”.
“Ficamos orgulhosas ao ver que, enquanto os homens estão na terceira liga, são as mulheres da briosa que se levantam e transportam a Académica à elite deste desporto, com o público a aderir, com casas muito bem compostas quando jogamos”, sublinha, com entusiasmo.
Como nasceu este “bichinho” do futsal, numa terra do interior (referimo-nos a Touriz onde passou grande parte da sua juventude), onde as oportunidades para singrar nessa modalidade não abundavam. Isa diz que nasceu praticamente “com uma bola debaixo do braço”, até pelo facto do pai ter sido presidente do Tourizense, assim como o avô ( que infelizmente não conheceu) também tinha exercido esse cargo.
“O meu primo ainda joga no Tourizense.Com nove anos ingressei nos infantis e era a única menina a jogar futebol sete com os rapazes. Como a partir dos doze anos já não podia haver escalões mistos, estava em risco esse meu sonho do futebol, pois teria de passar para uma equipa exclusivamente feminina e não havia na zona. Curiosamente, nesse ano organizaram um torneio de futebol de praia no recinto do clube, que encheram de areia. Deu-se a coincidência de que nesse torneio participou uma equipa feminina de Arganil que, nesse mesmo ano, iria ingressar no futsal federado e fizeram-me o convite. E desde aí, nunca mais parei. Passei depois para a AFRODECO, uma equipa de uma aldeia nos Covões de Cantanhede, quando tinha quinze anos em que estudava em Coimbra no secundário. Lembro-me que a minha mãe arranjou lá um trabalho e íamos todos os dias, às sete da manhã, de Touriz para Coimbra, e depois ao fim do dia, para Cantanhede para jogar ou treinar, e regressávamos à meia-noite. Devo muito à minha mãe o meu percurso no futsal, valeu a pena o sacrifício. Depois fui para o Orentã, um outro clube de Cantanhede, tive em seguida uma experiência no CB Mortágua, onde estive dois anos, joguei um ano no Tabuense, quando o clube estava a iniciar o futsal feminino, passei para a Venda da Luísa, Condeixa, onde militei já na 1ª divisão e ingressei, em 2019, na Académica”.
Isa diz ter tido uma infância muito feliz: “Recordo-me da casa da minha avó, dos jogos de futebol com os meus primos. Tenho um grande amor por Touriz, e, por isso, faço sempre questão de estar na minha terra”. Isa considera que o concelho de Tábua está em crescimento, “já não se vê aquele interior rural como antes havia, acho que Tábua se está a tornar uma porta para o mundo, com aldeias desenvolvidas e bonitas e estamos num ponto geográfico em que está tudo perto”.
Tendo terminado a licenciatura em 2014, a situação atual vivida pelos estudantes em Coimbra não é um tema que lhe seja alheio, devido à crise que atravessamos.
“A habitação é o principal problema e o custo de vida que é transversal a todo o país. Mas o ambiente estudantil continua a ser o que era”, diz a nossa entrevistada, revelando que tem como colegas na equipa estudantes universitárias.
“A Universidade acaba por alimentar a equipa, pois vem gente de muita qualidade a nível de futsal estudar para Coimbra e que acaba por ingressar na Académica”, refere.
FICHA PESSOAL
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𝗡𝗼𝗺𝗲: Isa Carolina Pereira Fontes Antunes
𝗣𝗼𝘀𝗶𝗰̧𝗮̃𝗼: Ala
𝗝𝗼𝗴𝗮𝗱𝗼𝗿𝗮 𝗽𝗿𝗲𝗳𝗲𝗿𝗶𝗱𝗮 𝗲 𝗷𝗼𝗴𝗮𝗱𝗼𝗿 𝗽𝗿𝗲𝗳𝗲𝗿𝗶𝗱𝗼: Amandinha e Merlin
𝗧𝗿𝗲𝗶𝗻𝗮𝗱𝗼𝗿 𝗾𝘂𝗲 𝗺𝗮𝗶𝘀 a 𝗺𝗮𝗿𝗰𝗼𝘂 𝗲 𝗽𝗼𝗿𝗾𝘂ê: João Filipe, pelos infindáveis ensinamentos e pela influência que teve no meu crescimento como atleta, desde os tempos da Seleção Distrital. Sofia Ferreira, pelos valores, pela integridade e pelo exemplo do que é ser e estar na modalidade.
𝗣𝗮𝗹𝗺𝗮𝗿é𝘀 𝗱𝗮 𝗰𝗮𝗿𝗿𝗲𝗶𝗿𝗮 : Vencedora do Protocolar Inter Associações pela Seleção Distrital de Coimbra Sub-19;
Vice-campeã Nacional pela Seleção Distrital de Coimbra sub-19;
3 vezes campeã distrital da Associação de Futebol de Coimbra;
3 Taças da Associação de Futebol de Coimbra;
3 Supertaças da Associação de futebol de Coimbra;
2 Taças de Honra da Associação de Futebol de Coimbra.
𝗢 𝗾𝘂𝗲 𝗵𝗮́ 𝗱𝗲 𝗺𝗲𝗹𝗵𝗼𝗿 𝗻𝗼 𝗯𝗮𝗹𝗻𝗲𝗮́𝗿𝗶𝗼 𝗱𝗮 𝗲𝗾𝘂𝗶𝗽𝗮 : a alegria e o espírito de cumplicidade entre todas as atletas.
𝗢 𝗾𝘂𝗲 𝗰𝗮𝗿𝗮𝗰𝘁𝗲𝗿𝗶𝘇𝗮 𝗮 𝗲𝗾𝘂𝗶𝗽𝗮 𝗱𝗮 𝗔𝗰𝗮𝗱𝗲́𝗺𝗶𝗰𝗮: A raça, a resiliência, a tremenda união e a amizade.
-𝗢 𝗾𝘂𝗲 𝗲́ 𝗽𝗮𝗿𝗮 si 𝗮 𝗔𝗰𝗮𝗱é𝗺𝗶𝗰𝗮? Ser Academista é um sentimento impossível de expressar. A AAC tem uma grandeza e uma mística que só quem veste a “negra” é capaz de entender.
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