RITA BORGES, A NOVA RAINHA DAS VINDIMAS DE TÁBUA, É JÁ UMA CONHECIDA CRIADORA DE CONTEÚDOS DIGITAIS (STREAMER), GANHANDO CADA VEZ MAIS SEGUIDORES, OS QUAIS MOSTRAM CURIOSIDADE EM SABER COISAS DO CONCELHO.
A nova Rainha das Vindimas de Tábua, Rita Borges, candidata pela freguesia de Midões, fala a “O Tabuense”, sem complexos, daquilo que a faz feliz, da sua atividade nos meios sociais onde canta, conversa e dança e vai ganhando gradualmente uma posição de relevo com inúmeros seguidores no canal que criou, RIITA BORGES, das suas memórias de infância em Midões e do futuro, do que faz falta à atual juventude, do ensino que sufoca os jovens, impedindo-os de serem mais pró-ativos. E, claro, da sua vontade em representar o concelho de uma forma digna na fase decisiva do concurso em agosto, estando na forja uma letra para uma canção sobre Tábua que empolgue o júri e os apoiantes que podem votar nela on-line.
Quem é a Rita Borges, eleita Rainha das Vindimas de Tábua?
Tenho 28 anos, sou metade midonense, metade tabuense, a minha mãe é de Tábua, o meu pai de Midões. Vivo com o meu namorado aqui na vila há 5 anos, sou empresária de redes de mercado, networker marketing, ou seja, crio canais de vendas para uma empresa norte-americana e sou streamer, com contrato estabelecido com a Twitch TV, uma plataforma só de diretos., disponibilizando-me a fazer orçamentos com outros streamers caso eles queiram músicas para INTRO’S no canal dele. Posso fazer uma letra e adaptá-la a uma música, partilhando o meu talento. Tirei um curso profissional na escola de Tábua de técnica de processamento e controlo da qualidade alimentar e frequentei um curso de inglês em Oliveira do Hospital conectado à British Council. Como a minha irmã teve um acidente de carro, decidi não ir para a faculdade e ficar a apoiar a família na recuperação dela. Mais tarde, tirei um curso de auxiliar de fisioterapia. Mas se fosse para a faculdade, iria seguir um curso relacionado com a música e o teatro. A música sempre me fascinou. Era nesse aspeto algo tímida, mas, há dois anos para cá, decidi sair da minha zona de conforto. Foi quando gravei as minhas próprias músicas para o YouTube e Instagram.
O que faz nesses “lives”?
Jogo, canto, danço, converso. Comecei em agosto mas estou a crescer muito rapidamente, as pessoas gostam da minha energia e eu estou a gostar dessa área.
Sobretudo, o que é preciso é assumir uma energia positiva?
Sim, claro, se eu não a tiver quando ligo a câmara ninguém lá vai querer estar. É como se fosse uma televisão: se não gostamos do programa, mudamos de canal. O canal chama-se RiiTa Borges, Rita com dois iis.
O facto de ter ganho o concurso deu-lhe uma maior projeção?
Sim, claro, os meus seguidores querem saber coisas sobre Tábua. E espero que me apoiem agora nos nacionais do concurso, pois vai haver votos on line.
É a primeira vez que participa num concurso com estas características?
Sim, embora já tivesse representado Tábua num concurso sobre empreendedorismo organizado pela escola, em que tínhamos de criar uma ideia inovadora para fabrico de algo aqui no concelho. Também participei num concurso de música, “Uma Canção para Ti”.
O que representa para si este título?
O facto de representar Midões, pois embora viva em Tábua, não fazia sentido representar de novo a sede do concelho num outro certame. Foi Midões que me viu crescer. Havia tanto para falar sobre a freguesia, a dificuldade foi expressar todos esses sentimentos, testemunhos e vivências em cinco minutos, de assumir ser a voz daquele povo, cativar as pessoas para conhecerem Midões. Mas sinceramente, não estava à espera de alcançar o título, embora fosse minha intenção dar o meu melhor. Estou muito feliz pelo facto de as pessoas me conhecerem de uma outra forma e estou disposta a projetar Tábua onde for necessário,
Tem sentido muito apoio?
Estou a ser bastante apoiada. Não fazia ideia de que iria ter esta repercussão. Mesmo a música que eu fiz para Midões foi muito bem recebida. Talvez ainda esta semana eu consiga gravá-la para ter um vídeo para o Facebook. Os responsáveis da junta de freguesia também solicitaram essa gravação para eu colocar no site deles. Foi um miminho que eu quis fazer para cativar e as pessoas aderiram muito bem. Não estava nada habituada a toda esta envolvência de carinho, de receber tantas mensagens de apoio.
Os trajes regional e de noite com que desfilou foram concebidos por quem?
O traje regional foi-me facultado pela Ana, que integra o rancho de Midões que, por coincidência, também tinha empestado à pessoa que ganhou no ano passado. Agora até estamos a criar um padrão que aquele fato é que dá sorte às pessoas de Midões (risos) para ganharem o concurso. Eu já o tinha o vestido de gala, apenas comprei os acessórios alusivos às uvas, ao vinho, tendo feito algumas pequenas alterações com a minha sogra que é costureira em Tábua. Ficou perfeito.
A fasquia agora está elevada para setembro, mês em que vai ter lugar a grande final da Miss Vindimas Portugal?
É possível. Antes vai haver uma semi-final no Douro. Mas já estou a elaborar uma música alusiva a Tábua, mas vai ser difícil a seleção de temas a contemplar.
Este concurso tem umas características diferentes e visa, sobretudo, sensibilizar a juventude para as questões do mundo rural. Como é que a Rita vê esse mundo onde vive, que a circunda?
Desde que me lembre, todos os anos dedicava-me às práticas agrícolas com os meus pais e avós. Semear batatas, arrancá-las, a apanha da azeitona, o cultivo do milho, que fizemos durante muitos anos. O meu pai tem ovelhas, a minha mãe fez queijo e requeijão, assim como a minha avó e eu aprendi, não esquecendo a vindima. Por acaso, este foi o único ano que eu não consegui ir vindimar, porque estava a trabalhar nesse dia. Costumo brincar com as outras pessoas, dizendo que eu não sei comprar uma garrafa de azeite, pois a minha família sempre fez essa produção. No futuro, não sei se vou continuar a cultivar, se vou ter uma casa com uma quinta. Mas é engraçado, porque sempre que vinham colegas de Lisboa passar férias aqui perto, eu incentivava-os a virem ver as práticas agrícolas na herdade dos meus pais e eu divertia-me a fazer uma coisa que eles nunca tinham experimentado na vida.
Que memórias guarda desses tempos de juventude em Midões?
Ir apanhar rãs na Fonte da Caricha, de participar nos desfiles e nas brincadeiras do Carnaval, os passeios de bicicleta, as entradas à socapa no Palácio. Foi uma juventude feliz.
Como vês a atual juventude? Estará preparada para enfrentar este mundo cada vez mais em ebulição?
Depende da educação que têm em casa. As escolas continuam na mesma, não ensinam os jovens a serem pró-ativos. Não podem pensar que não sabem fazer, mas procurar como se faz e, assim, facilmente, se arranjam soluções para o futuro. Agora, se nos vamos enfiar no quadrado em que a sociedade nos tenta pôr, em que temos de tirar x de nota para passar de ano, que temos de obter um canudo para termos um emprego, se acharmos que só vamos fazer aquilo, estamos a limitar-nos. Quando nos limitamos, dificilmente saímos da nossa zona de conforto. Tem de haver uma revolução no ensino, através do ensino de educação financeira, empreendedorismo, temas da vida real.
Às vezes, é difícil passar essa linha, muito ténue, do ensino e a vida real…
Sim, limita-se a informação ou a formação para os jovens não pensarem e questionarem o mundo como ele é atualmente, se poderia ser melhor.
Fala-se muito no interior, dos problemas daí resultantes. Sente multo essa dicotomia entre o interior e as grandes cidades? As pessoas desta região poderiam e deveriam ter mais oportunidades?
É diferente. Por exemplo, se eu quisesse arranjar um part time como complemento, é mais difícil do que se eu estivesse em Coimbra, Viseu, ou no Porto. Particularmente, gostava que Midões crescesse e voltasse a ter mais população.
Já foi sede de concelho…
Exatamente. Acho que a abertura do hotel vai movimentar muitas pessoas para a freguesia, mas precisamos também de ser empreendedores e querer que as pessoas fiquem. Vejo em Midões muitas casas desabitadas, palácios devolutos e uma mais valia seria restaurar o Palácio das Quatro Estações (que só dá para ver o exterior, os turistas ficam à entrada) e transformá-lo num museu, criando um circuito turístico com percursos, lojas de lembranças e o hotel, para que levem alguma coisa para recordar e terem vontade de regressar. E uma fábrica faz muita falta na freguesia. Poderia haver uma grande empresa, como os Aquinos, que fizesse ali uma extensão para que as pessoas não saíssem do concelho.
O Palácio que vai dar origem a um hotel foi destruído por um incêndio em 2017. Que memórias guarda dessa tragédia?
Foi muito complicado. Os meus pais tiveram de forçar a entrada da casa dos meus avós para os conseguir tirar, salvaram a habitação apenas com baldes de água que tiravam da piscina. Eu nunca pensei que o incêndio chegasse ao centro de Midões e que ardesse a escola onde eu e a minha família estudamos. No dia a seguir, fui para lá e levei garrafões de água para os meus pais, para eles conseguirem tomar banho.
O que mais aprecia em Tábua?
Acho que o concelho tem tudo o que é preciso para se ter uma vida tranquila. Muitos amigos que me visitam exprimem o desejo de vir para cá residir, mas não chegam a dar esse passo, por causa da pouca escolha de emprego.
Sonhos para o futuro?
Ser o ídolo de alguém, que a minha história consiga incentivar as pessoas a lutar pelos seus sonhos. Quero ter uma família grande, talvez cinco filhos, não sei se depois do primeiro desisto da ideia (risos), desfrutar da vida e fazer o que me faz feliz, que não tem de ser estático. Agora posso ser feliz a fazer streams no Thitch, cantando e conversando, como posso ser feliz daqui a uns anos a empreender, a viajar, explorar locais, outros pontos do Globo.
Para já, ganhou uma viagem a Cabo Verde…
Pois, conheci o presidente da Câmara da ilha do Sal quando estávamos no ensaio geral e tirou uma foto comigo e um grupo de candidatas. E eu comentei com essas minhas colegas que era engraçado ganharmos uma viagem à ilha do Sal. E aconteceu comigo.
UM POEMA PARA MIDÕES
Este é o poema que Rita Borges apresentou no Concurso Rainha das Vindimas de Tábua. Uma adaptação da música “Sol de Inverno”, de Simone Oliveira.
Sabe Deus que eu quis
Em Midões ser feliz
Passear ao sol nos
Trilhos de Gaios…
Dançar no rancho
Ou comer um queijo
Vindimar com amor,
Ao sol de outono…
Ver um jogo em Touriz,
Cortar cachos Tinta Roriz,
Cozer o pão com as avós,
E comer tijelada e filhós.
Nos escuteiros inscrever,
Do Adro água beber,
Jogar à malha e sueca,
E andarmos de festa em festa.
Enfeitarmos as ruas com muitas flores,
Para a procissão poder passar…
Não esquecer os palácios,
A missa na igreja,
E a feira mensal.
Ver um jogo em Touriz,
Cortar cachos Tinta Roriz,
Cozer o pão com as avós,
E comer arroz doce e filhós.
Cultivarmos vinhas no quintal,
Comprarmos na feira anual,
Visitar Midões é fundamental
Entrevista: José Leite
Fotos: Nuno Pereira
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