GNR ENVIOU NOTIFICAÇÃO PARA A CÂMARA ALERTANDO PARA “SITUAÇÕES DE RISCO”…   3 ANOS DEPOIS, CONTINUA TUDO NA MESMA

VILA CHÃ E AS SUAS MISÉRIAS

   Agostinho Pereira, um reformado com residência principal na Damaia, é uma espécie de porta-voz das reivindicações do povo de Vila Chã, onde passa sempre esta temporada de verão.

  Sempre atento a tudo o que possa estar menos bem na aldeia, foi mostrar-nos alguns desses problemas. Os mais graves respeitam à existência de várias casas de habitação em ruínas, situadas no interior da aldeia, que apresentam um estado de degradação bastante acentuado, rodeadas de silvas, restos de madeiras apodrecidas e com bastante lixo no seu interior, pondo em risco as pessoas, bem como as habitações contíguas. E têm razão essas preocupações: os incêndios continuam a flagelar estas regiões do interior, e há que manter as medidas cautelares para que não aconteça uma tragédia.

  Na sua companhia, percorremos algumas ruas da localidade onde não se via vivalma, até chegarmos a um conjunto de casas abandonadas, completamente atafulhadas de vegetação, que chega a tocar no telhado das mesmas.

  ”Há muitos anos que ando a batalhar para que se faça uma limpeza destas habitações, muito antes do 25 de abril. Até a GNR cheguei a chamar, em maio de 2019, tendo sido notificado o então Presidente da Câmara Municipal de Tábua, Mário Loureiro, a fim de tomar providências nada aconteceu até hoje. Está tudo na mesma e ainda fui criticado pelo então chefe de gabinete do presidente, o Sr. Rui Brito Pereira”, diz, mostrando-nos a comunicação assinada pelo comandante do Posto Territorial de Arganil da GNR enviada ao município. Refere que se os proprietários ou herdeiros não forem localizados, como parece ser o caso pelo menos no que respeita a algumas das edificações que ameaçam ruir a qualquer momento, a edilidade deveria ter poder para tomar posse administrativa e desencadear o processo de demolição, dado a evidente ameaça à saúde pública e à segurança das pessoas ali residentes. Um caso surpreendente é o de uma casa em ruínas, com uma viga a atravessar um caminho, podendo desabar a qualquer instante. Esse tronco de madeira parede ser o único suporte de paredes que já indiciam um evidente degradação…isto sobre uma pequena quelha, onde passam pessoas.  

  Chegamos ao pé de um fontanário de cuja torneira não sai um pingo de água, localizado junto a um caminho que dá acesso ao afamado restaurante Caldeirão da Bruxa. Numa placa está lavrado o agradecimento de um grupo de amigos de Vila Chã ao então presidente da Junta de Freguesia de Covas, Cláudio Figueiredo, isto nos anos sessenta. ”Nem sequer respeitam os dizeres dessa placa”, frisa Agostinho Pereira. Um cenário que não dignifica o local nem o restaurante, nos antípodas das belezas tanto apregoadas pela autarquia de querer tornar este concelho um autêntico “Encanto das Beiras”: Acontece que os dois caixotes de lixo praticamente tapam a roda do poço, exalando um cheiro pestilento, o que torna o ambiente insuportável a quem se queira sentar nos bancos e trocar uns dedos de conversa…e são poucos os locais que existem na aldeia que tornem possível esse são convívio entre as gentes da aldeia, pois ali não há cafés, apenas de vez em quando a associação abre as suas portas. ”Em caso de incêndio, seria importante que este fontanário estivesse em condições de ser usado. Mas falta uma peça que, segundo consta, foi levada para uma outra localidade. E, assim, resolveram selar o poço e a roda. Nesta altura de seca que ciclicamente vivemos, essa água, mesmo que seja imprópria para beber, poderia servir para muita coisa, até para as regas”, refere o Sr. Agostinho. A “viagem” pelas misérias da localidade acaba junto da chamada Fonte Velha, cujo acesso está cortado pelas silvas e ervas que também a rodeiam. Agostinho Pereira ainda se lembra, em tempos remotos, de ver as pessoas lá irem buscar com uma malga ou cântaros a água dessa fonte. Faz parte do património e da memória de Vila Chã e ali está, ao abandono, no meio das ervas.

   “Era aqui que, nos anos sessenta, eu vinha lavar-me, por que os meus sogros não tinham casa de banho”, recorda Agostinho Pereira.

  O nosso interlocutor refere, a finalizar, os tempos em que Vila Chã era uma das mais ricas localidades do concelho de Tábua. ”As pessoas viviam dos rendimentos das terras, faziam-se pequenas fortunas só do amanho das terras ou das rendas”. Agora, o panorama é bastante diferente e, dos tempos desse apogeu, resta a memória.

Texto e fotos: José Leite

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