AFINAL, HOUVE AUTOCARRO PARA TRANSPORTAR OS ANTIGOS COMBATENTES DE TÁBUA

E LÁ PARTIU DA CARAPINHA EM DIREÇÃO A UMA CERIMÓNIA EM QUE FOI DITO QUE O PODER POLÍTICO PRETENDE SUBJUGAR, ADORMECER E DESVIRILIZAR A CLASSE CASTRENSE

  O “toque de Alvorada” foi dado na Carapinha por volta das sete da manhã e o grupo de mais de uma vintena de antigos combatentes de Tábua e Arganil fez-se à estrada rumo à cerimónia do XXIX Encontro Nacional de Antigos Combatentes que se realizou em Lisboa, no passado dia 10 de Junho.

  Depois da nega da Câmara Municipal em fornecer transporte (ver caixa), o autocarro, afinal, sempre apareceu, mas fornecido pelo Grupo TAVFER, que correspondeu de pronto ao pedido daquela associação tabuense. Esta fez questão de agradecer através do nosso jornal a oferta por parte de Fernando Tavares Pereira que possibilitou a estes antigos militares, com mais de setenta anos e muitas memórias de guerra no seu esforço de combate por terras ultramarinas e até em Goa, reencontrar antigos camaradas, associando-se a um evento interrompido nos últimos dois anos por causa da pandemia. O ambiente era de unidade e camaradagem, e houve até quem, durante a viagem, nos contasse alguns episódios que protagonizou durante o seu serviço militar.

   Como foi o caso de Salvador, especialista em armas pesadas em Cabo Delgado, Moçambique, onde esteve 26 meses. ”Era uma zona de grandes combates e cheguei a ficar ferido devido ao  rebentamento de uma mina debaixo da viatura que me transportava. Na minha companhia registaram-se nove baixas, uma delas de Oliveira do Hospital e o outro foi o pai do presidente da Câmara de Vila Nova de Poiares. Dou graças a Deus ter ficado vivo, essas são as minhas recordações. Fiquei com a impressão que éramos carne para canhão numa guerra de negócios entre Moçambique e a Tanzânia. E a guerra lá continua, depois de termos saído, exatamente na mesma zona“. Respondendo a uma nossa pergunta se os antigos combatentes estão a ser bem tratados, Salvador é perentório: “Fui ferido e não recebi nada, nenhuma indemnização. Dizem que dão 100 euros por ano…Eles querem é que os antigos combatentes se extingam, pela lei natural da vida”.

  Anselmo Costa foi 1º cabo mecânico quando, no início dos anos sessenta, a Índia invadiu Goa. Agora com mais de oitenta anos, esteve para ser fuzilado num quartel com mais cerca de mil camaradas de armas, uma situação que fora provocada por uma tentativa de fuga. “Os oficiais indianos queriam que não fizéssemos mal a um traidor que denunciou outros três camaradas nossas que tentaram fugir no interior de um caixote de lixo. Nós revoltávamo-nos contra esse traidor. Foi o tenente-capelão Ferreira da Silva, que hoje está enterrado na Póvoa de Varzim, que conseguiu apaziguar os ânimos e demover o comandante indiano dos seus intentos. Mas nunca mais esqueci estar rodeado de militares com metralhadoras em redor e vê-los puxar a culatra”.   

     A cerimónia evocativa dos combatentes começou por volta da uma da tarde, debaixo de um sol abrasador. Mas ninguém arredou pé. Centenas de pessoas, antigos combatentes, alguns trajando a sua farda de combate, muitos levando os símbolos da sua Arma na boina, na camisa ou num bastão, assistiram a uma parada militar dos três ramos das Forças Armadas desfilando em frente ao monumento do combatente, viram personalidades depositar palmas de flores junto ao padrão, como foi o caso de D. Duarte de Bragança, assim como representantes das várias associações de antigos militares presentes, entre os quais, o presidente da assembleia geral da associação de Tábua, Fernando Carvalho, que disse “presente” apesar dos seus 92 anos.

  Os discursos iniciaram-se com uma intervenção do Tenente-General Bação da Costa Lemos, presidente da Comissão Executiva desta Homenagem, seguindo-se a leitura de uma mensagem do Presidente da República, ambas imbuídas do espírito da cerimónia: celebrar o 10 de junho e homenagear todos aqueles que se bateram por Portugal, em várias latitudes. Particularmente significativo e bastante aplaudido, foi o discurso proferido pelo Prof. Humberto Nuno de Oliveira, da Universidade Lusíada. De uma forma frontal, denunciou o “Portugal ao contrário, que não segue os exemplos generalizados de culto aos heróis que serviram a Pátria por todo o mundo, ao invés atacando quem tudo deu na sua juventude, preocupando-se em rebuscar os nossos eventuais crimes de guerra”, sublinhando haver nos dias de hoje “uma classe castrense que o poder político pretende subjugar, adormecer e, em muitos casos, desvirilizar”, manifestando-se abertamente contra aqueles que se opõem ao reatar do Serviço Militar Obrigatório, “decisões de quem não percebe nada da tropa”. Uma intervenção ouvida em silêncio e que correspondeu ao sentir de muitos dos presentes, que se sentem segregados pelo poder político.

Texto e fotos: José Leite

  CÂMARA DE TÁBUA CHEGA A EVOCAR DÍVIDA DE 400 MIL EUROS À TRANSDEV E A GUERRA DA UCRÃNIA PARA JUSTIFICAR NÃO TER CEDIDO AUTOCARRO À ASSOCIAÇÃO DOS COMBATENTES DE TÁBUA

  Não deixa de ser curioso (caindo até nos domínios do surreal) que o Município de Tábua tenha feito alusão à sua atual e calamitosa situação financeira – mencionando, inclusive, uma dívida de cerca de 400 mil euros à Transdev – para justificar a não cedência de um autocarro que transportasse cerca de uma trintena de elementos da Associação dos Antigos Combatentes de Tábua à cerimónia do XXIX Encontro Nacional que teve lugar em Belém.

  Transcrevemos extratos do email enviado gabinete de Ricardo Cruz ao secretário da associação, Abílio Rodrigues:

  “O Município de Tábua sempre assumiu como prioridade o apoio ao associativismo, no entanto, deve ser considerado o estado atual económico e financeiro do Município, que atravessa diversas dificuldades impostas pela pandemia COVID-19 e pela Guerra da Ucrânia, que condiciona os nossos procedimentos e apoios direcionados à comunidade, obrigando a efetuar ajustamentos que implicam limitações no âmbito do apoio ao associativismo e às atividades lúdicas e de lazer.

Neste âmbito, podemos afirmar que para 2022, o Presidente da Câmara Municipal de Tábua já anunciou publicamente a não realização do certame FACIT 2022/festas do Concelho, bem como a adoção de medidas que implicam restrições financeiras e que incluem a redução das verbas a transferir para o movimento associativo.

  Para além dos factos apresentados, informa-se que neste momento, o Município de Tábua tem uma dívida junto da empresa de transportes coletivos (Transdev), na ordem dos 400.000,00€ (quatrocentos mil euros), a que se junta um corte das verbas transferidas pelo Governo (Orçamento de Estado) de cerca de 572.000.00,00€ (quinhentos e setenta e dois mil euros).

   No entanto e sabendo a importância dos antigos Combatentes, o Senhor Presidente da Câmara Municipal, Dr. Ricardo Cruz, irá disponibilizar a viatura de transporte coletivo de 9 lugares do Município de Tábua, para que uma pequena delegação (8 pessoas) representativa da vossa Associação e dos Antigos Combatentes Tabuenses, possa estar presente nas iniciativas do dia 10 de junho, caso seja do vosso interesse”.

 Sem comentários…

J.L.

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