BOMBEIROS RECUSAM-SE A TRANSPORTAR DEFICIENTE NO HORÁRIO COMPATÍVEL COM AS SUAS NECESSIDADES

FICA IMPEDIDO DE IR ÀS SESSÕES DE FISIOTERAPIA NO HCC

   Jorge Alberto Espírito Santos, residente em Mancelos, Quintela, 62 anos, deficiente, entrou em contencioso com os bombeiros de Tábua, depois de lhe ter sido negado o transporte para o Hospital dos Cuidados Continuados no horário que pretendia, afim de efectuar  vinte sessões diárias de fisioterapia, segundo o que  fora prescrito através de uma credencial passada pelo médico de família do Centro de Saúde.

   Ao que parece, a hora que indicou, das 14 às 15 horas, não é compatível com a agenda da corporação, tendo escolhido esse horário por necessitar de ser acompanhado pela mulher, Anabela,  que só pode estar disponível  durante aquele período por motivos de trabalho.

Foi em 2011 que  Jorge sofreu um acidente de trabalho e ficou com mobilidade reduzida, com recurso a uma cadeira de rodas. ”Há dois meses atrás, pedi à médica de família para me passar novas credenciais. E quando fui marcar o horário em que podia fazer esse tratamento, pois necessito de ser acompanhado dado ter de fazer esvaziamentos da bexiga, a senhora dos Hospital disse-me que o horário entre as 14 e as 15 horas não era compatível com os horários dos bombeiros. A minha mulher trabalha, não saio de casa sozinho, tenho dificuldades em deslocar-me no hospital, dependo de ajuda”, diz-nos este ex-trabalhador da construção civil que viu a sua vida voltar-se do avesso quando sofreu um acidente de trabalho.

   Jorge esclarece que no HCC não têm enfermeiros para fazer esse serviço de esvaziamento da bexiga, “ só têm para o seu próprio serviço, não para o exterior”.

  Conta que no dia 2 de maio ligou para os bombeiros a pedir esclarecimentos e de lá disseram-lhe que nada constava sobre esse transporte na plataforma estabelecida com o Centro de Saúde.

  “Estranhei, falei depois com um responsável da corporação que me disse que eu tinha ligado para os Continuados a impor um horário. Eu respondi que esse horário era o que sempre tive, compatível com as minhas necessidades, pois quem está numa cadeira de rodas era eu não era ele. Há dez anos que sabem disso. Houve uma troca acesa de palavras, até me propôs que eu poderia ir do meio-dia à uma, eu respondi-lhe que se eles iam buscar pessoas no final do concelho, a quinze quilómetros, quase junto a Arganil, era estranho recusarem-se a fazer um transporte de Quintela para o HCC, uma distância que não ultrapassa os oito quilómetros, já contando com o regresso. E não me deram qualquer justificação: naquele horário não podia ser”.

 Provavelmente, uma medida tomada pelo facto de não haver utentes nas redondezas a precisar de serem transportados pelos  bombeiros, alvitramos. Jorge responde: “Se nunca houver pessoas desta zona a precisar desse serviço, nunca mais poderei ir á fisioterapia. Mas se for eu a pagar dez euros pelo transporte  logo aparecem. Ainda no dia 28 do mês passado tive de ir à Tocha e vieram logo, não houve problemas com o facto de também não constar na plataforma essa credencial na altura em que liguei a solicitar o serviço. Levaram-me e trouxeram-me, sem problemas. Porquê? Por ser longe e serem muitos quilómetros para faturarem?”.

  “Provavelmente deve haver restrições por causa do aumento do preço dos combustíveis, mas os utentes, ou seja, quem paga os impostos, não têm nada a ver com isso, Eles devem é entender-se com a Segurança Social”, alvitra Jorge Espírito Santo.

E, a finalizar, depois de nos dizer que não gosta de injustiças nem de desleixos, revela: ”`Já caí por três vezes na carrinha dos bombeiros pelo facto das cadeiras terem sido mal apertadas, já para não falar nas horas em que as pessoas estão à espera do veículo dos bombeiros para regressarem, depois de terem ido às consultas. Uma vez, uma senhora idosa da Fundação Sarah Beirão esteve mais de uma hora à espera sem comer. Há sempre uma desculpa, não há carro, não há motorista, etc….”.

 E o nosso entrevistado não tem dúvidas: os bombeiros estão a precisar de serem reestruturados, “de levar uma limpeza de alto a baixo, têm de melhorar o serviço que prestam à comunidade”, lembrando o próximo ato eleitoral que vai ter lugar para a nova direção.

 Instada a pronunciar-se sobre as questões levantadas pelo Sr. Jorge Espírito Santo, recebemos da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Tábua o seguinte esclarecimento:

“Por determinação do Presidente da Direção desta Associação e em resposta ao solicitado, informa-se que esta Associação serve aproximadamente 6000 utentes, e a credencial é para transporte em grupo, sendo os serviços coordenados de modo a satisfazer todos os pedidos da melhor forma.

   O utente Sr. Jorge, é transportado com bastante frequência desde o ano de 2012 e a situação descrita reporta três incidentes, sendo que o motivo se devia a equipamento que, entretanto, há muito foi alterado, não havendo por isso, risco de se voltar a repetir a situação, não tendo a AHBVT conhecimento de quaisquer outros sinistros para o utente Sr. Jorge Alberto Espírito Santo.

   Acrescenta se ainda que o utente em questão, nunca foi transportado com acompanhante para efetuar as sessões de fisioterapia no Hospital de Cuidados Continuados Integrados em Tábua”.

Texto e fotos: José Leite

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