“SE EU FOR ELEITO DEPUTADO, VOU EXIGIR QUE A NOSSA REGIÃO NÃO FIQUE ESQUECIDA”

ENTREVISTA: JOSÉ LEITE

Fenando Tavares Pereira integra uma lista de candidatos a deputados do PSD às próximas eleições legislativas do dia 30, constituída por pessoas com as mais variadas histórias de vida e de diferentes pontos do território em que a sua experiência de vida, empresarial e social, terão sido fatores importantes na sua escolha pelo líder social-democrata.

  Mostra-se convicto na vitória de Rui Rio, considerando-o um homem sério, competente, com dignidade, transparente naquilo que faz, traçando uma caracterização muito concreta sobre este interior marcado por diversas assimetrias, assegurando que, se for eleito deputado, vai fazer a diferença na Assembleia da República. Uma conversa em tom coloquial que se estendeu, naturalmente, aos problemas da região em que foi eleito vereador.

Que balanço faz destes primeiros meses da presidência de Ricardo Cruz?

  Penso que deveria ter apresentado um conhecimento mais profundo dos problemas a nível do Orçamento recentemente aprovado pela maioria socialista. Falta-lhe alguma experiência e desconhecimento sobre algumas matérias. Cito o caso do saneamento básico em Loureiro que se fazia através das águas pluviais e ele referiu que desconhecia essa situação, tendo ele integrado o anterior mandato do executivo.

O Dr. Ricardo Cruz afirmou numa das últimas reuniões de Câmara que o concelho a esse nível está coberto em cerca de 67 por cento…

Dos quais só estão em plena atividade cerca de 30 por cento. O resto ou não funciona ou está inacabado, não sendo essa uma situação digna e  segura que as pessoas merecem. Basta percorrer as ETAR do concelho, em Vila do Mato, Midões, uma série delas. Eu até me dispus a acompanhar os elementos do executivo para constatar isso mesmo. Tendo o Dr. Ricardo Cruz integrado o executivo nos últimos oito anos é muito grave que não tenha conseguido ainda resolver essa situação ou que ignore alguns casos como aquele que apontei. Eu tive oportunidade de lhe dizer que quando se inicia uma obra é para acabar. É como quando colocam pisos de alcatrão à pressa antes das eleições, esquecendo de sinalizar as estradas,de fazer as valetas, já para não falar nas vias em que o alcatrão desapareceu, como acontece entre Pinheiro de Coja à Nacional 17. Isto só demonstra uma grande desorganização no sector das obras.

O PSD votou contra o Orçamento e as Grandes Opções do Plano para 2022. Pode explicar os motivos dessa decisão tomada pelos social-democratas?

  Nós votámos contra, porque ainda hoje não sabemos qual atual situação financeira do município, porque nunca nos entregaram documentos. Por exemplo, na dívida total fala-se em 11 ou 12 milhões. Consultando alguns documentos que nos entregaram durante a aprovação das contas,  a dívida é  cerca de 6.880 milhões, aos fornecedores ultrapassa os 3 milhões. Também não sabemos qual a dívida às associações e instituições, é tudo muito confuso. Por outro lado, verifica-se que a Câmara despende 47 por cento dos seus rendimentos com os custos fixos com o pessoal e a contratação de serviços externos. Não é necessário despedir pessoas para diminuir os custos. O que é necessário é organizar os serviços e as pessoas, ter uma boa gestão, de forma a colocá-las onde fazem falta. E diminuir a entrega dos trabalhos especializados a empresas de fora. Esses serviços especializados, que não são especificados no Orçamento,  totalizam 1.300 milhões. Penso que esses projetos podem ser efetuados, recorrendo  aos funcionários do Município… todos imbuídos do espírito de fazer desenvolver o concelho. Mas assim não há clareza ao apontarem “outros serviços”. O povo tem o direito de saber do que trata este item.

   Depois o Município é associado em cerca de uma dúzia de associações. Perguntei qual a rentabilidade que Câmara tira com essas parcerias e ninguém me soube responder. É óbvio que essas associações devem apresentar factura com as despesas que têm. Também gostaria de saber qual é o projeto intermunicipal que haja nesta região que a CCDR-C tenha aprovado. Nem há IC 6, nem IC 7, não há nada. Segundo consta, a CCDR-C não tem um  cêntimo para projetos intermunicipais que tenham sido aprovados.

 Mas vão chegar a estas bandas os milhões do PRR…

   Neste momento não há qualquer tipo de projeto que tenha sido aprovado nesse âmbito para esta região do interior. Este só serve para canalizar dinheiro que depois vai parar ao litoral. O Município de Tábua e os outros envolventes que demonstrem o que têm já aprovado no âmbito do PRR.O custo elevado das águas e da energia, a falta de acessibilidades, são exemplos de que não acompanhamos o ritmo do litoral.

  Qual a sua opinião sobre a transferência de competências para as Câmaras, na área da Educação, Saúde e Segurança Social. Será uma medida benéfica?

   Acho que os municípios não fizeram o contrato devido. Daqui a dois ou três anos, o dinheiro que vem do Estado para financiar estas competências não vai chegar. E eles sabem disso. Na verdade, esta região continua a ser a parente pobre. Dão-nos um rebuçado para estarmos mudos e quedos, enquanto os projetos estruturantes vão parar a outros lados.

Quer especificar?

O dinheiro do FEDER e da Coesão que era para vir para o interior vai beneficiar os territórios da faixa compreendida entre Vila Nova de Gaia até Loures. As Câmaras desta Região deviam pugnar para que isso não aconteça. Como também deviam protestar em relação ao TGV: Espanha e Portugal acordaram que atravesse a região do Alentejo e a linha do Norte, como é o caso da Beira Alta, fica sem nada. Infelizmente, os políticos oriundos desta região só querem ir para o poder e quando ocupam esses lugares, esquecem-se dos seus conterrâneos, das suas origens. O que é que nós temos nas Beiras? A Floresta e alguma Agricultura. Temos água caríssima no consumo doméstico e, qualquer dia, falta-nos água para o que ainda existe na agricultura. Os agricultores e os empresários têm de ter muita coragem para enfrentar tudo isto, a que se acrescenta a elevada carga de impostos. Já para não falar nas multas em que o governo é pródigo em aplicar aos cidadãos.

Uma das formas de apoiar o interior passa por baixar os impostos? Por exemplo, o IRC para as empresas…

   Pode baixar alguma coisa, mas não ajuda muito. Penso, sim,  que devia haver uma baixa entre 5 a 10 por cento na Segurança Social de forma a cativar mais empresas. E um idêntico valor no IRS para as famílias que aqui se queiram instalar. No projeto eleitoral do PSD, à semelhança do que propus para Tábua, há uma proposta de apoio do estado à natalidade, entre 3 a 7 mil euros em dois anos, dependendo da região do interior onde a famílias estejam inseridas.

Está convicto que com o Dr. Rui Rio, como Primeiro-Ministro, podemos ter um país mais próspero e com menos assimetrias territoriais?

  É um homem sério, competente, com dignidade e tem uma coisa que aprecio: é transparente naquilo que faz. Se eu for eleito, não vou ser mais um deputado. Vou exigir que a nossa região não fique esquecida.

Quais os factores que, no seu entender, terão pesado na decisão de Rui Rio para o integrar na lista de candidatos do PSD por Coimbra? A sua experiência de vida? A solidariedade que tem demonstrado perante as pessoas vítimas de infortúnio?

  Provavelmente por que ele sabe que eu também sou exigente e que nunca deixei ninguém para trás, a nível social e empresarial. Se ganhar as eleições e constituir governo, sabe que pode contar ao seu lado com uma pessoa competente, com provas dadas, conhecedora dos problemas do Interior, onde as maiores necessidades existem e a coesão não tem chegado.

Neste percurso pré eleitoral que tem efectuado em conjunto com os restantes candidatos a deputados por Coimbra, o que mais o tem chamado a atenção?

  Em primeiro lugar, quero destacar a grande receção das populações e autarcas dos locais onde estivemos o que me faz acreditar que Rui Rio pode ganhar as eleições. Não há uma correspondência entre o que pretendem executar os vários municípios e a realidade existente. As acessibilidades, saúde, educação, segurança social e a justiça são um pandemónio. O distrito de Coimbra perdeu quase tudo, não tendo desempenhado o papel fulcral que deveria ter tido na Região Centro e a nível da competência que já teve. Já perdeu o turismo, o Tribunal Constitucional, o TGV. Qualquer dia, o hospital central passa a hospital distrital, dado que algumas terapias já ali não se fazem. Por exemplo, é inadmissível que de Coimbra à Pampilhosa das Serra se leve mais de uma hora através de uma estrada cheia de curvas, como ressalvou o Presidente da Câmara com quem nos reunimos. Ou que as crianças daquela localidade tenham de se levantar muito cedo para ir para a escola na Lousã, retornando às suas casas no final do dia. Reafirmo: tem havido uma falta de respeito para com os eleitos desta região e é tempo de acabar com esse ostracismo.

Outra questão focada foi a falta de mão-de-obra especializada, assistindo-se a uma fuga para outras paragens dos jovens?

    Nós temos os POT-Programas de Ocupação Temporária. No meu projeto eleitoral para a Câmara de Tábua havia uma proposta para que o Politécnico da Guarda criasse no concelho vários polos, onde havia o título de mestre para as pessoas que ainda possam ensinar os mais novos. São os antigos canteiros, carpinteiros, eletricistas, talhantes, entre outras atividades profissionais, pessoas que tivessem experiência e capacidade para ministrar os seus conhecimentos que deveriam obter o diploma de mestre, ensinando essas artes aos mais novos. O que se vê é que são os países estrangeiros que os vêm cá buscar para ensinar a juventude deles. Não sou contra os POT s, sou é contra a sua multiplicação sem que isso corresponda a uma aprendizagem mais eficiente. Cito o que se passa com a Torredeita, escola profissional sediada em Viseu, na qual, meio ano antes de terminarem o seu curso, os formandos que lá estão têm todos emprego assegurado, consoante as necessidades de mão-de-obra dos sectores em cada região.

Diz-se que em Tábua não há desemprego…

 Os jovens partem para outras paragens porque não há aqui uma formação profissional que preencha  as necessidades sectoriais existentes.

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