FRANCISCO ABRANCHES QUER RECUPERAR A CASA DO VISCONDE DE MIDÕES

DESCENDENTE DO CARTEIRO DO REI

   Francisco Abranches, 33 anos, tem sangue azul: é descendente do Visconde Midões, morando atualmente na Casa do Ribeirinho pertença dessa antiga e nobre família das Beiras. Reside com a noiva num anexo na propriedade – vai casar daqui a três semanas – depois de a habitação ter sido consumida pelas chamas em outubro de 2017.

   Roque Ribeiro de Abranches Castelo-Branco, o Visconde de Midões, nasceu a 15 de julho de 1770. Foi Perfeito da província da Beira Alta, Par do Reino, ligado ao Conselho de Sua Majestade D. Pedro IV, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real e Senhor das Casas de Midões, Cabanas, Travanca de S. Tomé, Várzea de Cavalos, travanca de Lagos, Arganil, S. Martinho da Cortiça e Pombeiro, deputado da Nação em várias legislaturas e figura em destaque na revolução liberal de 1833.O seu título de Visconde deve-se a D. Maria II através de carta datada de 23 de outubro de 1837.

Foto antiga do interior da Casa do Ribeirinho, antes do incêndio, onde se via o apinel representando o Avô Carteiro de Sua Majestade

 “As minhas tias avós, Júlia e Modesta, são descendentes dele, a casa ficou para o meu avô, depois para o meu pai e agora está na minha posse. Agora só tem as quatro paredes por causa desse incêndio”. Recorda as duas tias irmãs como pessoas simples, que viveram sempre em Midões, acarinhadas pela população, muito sociáveis, que adoravam receber pessoas na sua casa. ”Quero ver se consigo voltar a retomar essa tradição, pois aprecio esta região. Quero ver se, vindo para cá, ajudo a combater a desertificação, essa fuga para o litoral que continuamente se assiste”, diz, sorrindo, firmemente apostado em honrar o legado da família.

Ainda sinto aquele cheiro a queimado das cinzas da habitação

   Francisco ainda se lembra desse dia de outubro de 2017.Morava então em Lisboa e tencionava radicar-se em Midões. “Vim a correr para cá e foi uma semana muito difícil. Ainda sinto aquele cheiro a queimado das cinzas da habitação. Ficou-me impregnado. Senti um aperto no coração ao ver aquela destruição de uma casa que me dizia muito, onde eu vinha passar regularmente temporadas de férias, onde tinha as minhas recordações guardadas”.

 Agora tem um plano para reconstruir a Casa do Ribeirinho, “como estava antes”. Naturalmente que faltam aquelas memórias que lhe são mais queridas, as peças do espólio riquíssimo, como aquela pintura em  painel do avô carteiro que mandava e recebia correspondência para o Rei. “Há uma gravura gémea no Palácio de Bento onde funciona a Assembleia da República”, sublinha.

Uma casa de grandes tradições consumida pelas chamas naquela noite de outubro

   Diz, de forma convicta, que não está nos seus planos vender a casa. Quanto à suas inclinações politicas, por mais paradoxo que possa parecer, Francisco não se identifica com o Partido Popular Monárquico nem com qualquer outra força política. “Tirando esta linhagem do Visconde, não tenho muita afeição pela monarquia. Apreciei sempre a forma de governar dos antigos gregos: eu vou para lá e faço como eu acho, ninguém me impõe nada. A democracia é a tirania da maioria, embora seja o melhor sistema que há. Mas as pessoas acima de tudo. Tenho sangue azul mas sou pouco azul”, diz, a rematar.

Texto: José Leite

Fotos: Manuel Pereira

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