UMA PASTORA COMUNITÁRIA EM ALVOEIRA…

D. ALICE TOMA CONTA DOS REBANHOS DA ALDEIA

Ali para os lados da Alvoeira, Mouronho, deparamos na berma da estrada com uma senhora sentada numa pedra, sorridente, afável, com aquela beleza serena de muitos anos de vida e muitas histórias para contar. Ali, a sentir-se em paz no meio da natureza, acompanhada por um rebanho de cabras e algumas ovelhas, que se deliciavam nos pastos verdejantes e nalgumas silvas que por lá se viam.

No início, mostrou-se um pouco desconfiada, o que até convém tratando-se de desconhecidos. Mas, logo de seguida, mostrou-se dialogante, contando um pouco da sua vida com o mesmo sorriso que nos fascinou.

Chama-se Alice, tem 77 anos, é dona de umas cabritas e toma conta das de todos os habitantes da aldeia, já que tem que sair com as dela. Ao fim do dia, regressa, os donos esperam-na e as cabras e ovelhas seguem cada uma para o seu destino, nunca se enganam.

Além daquelas, diz haver nos currais bastantes cabritos.

É uma espécie de pastora comunitária, mas, em vez de ser em cada semana uma pessoa a sair para os campos, é sempre ela. Diz que não suporta estar em casa. Nestes pastos, ao menos respira ar livre na companhia dos animais. E mostra ter uma pontaria digna de realçar; umas irrequietas cabritas tentaram escapar para o meio da estrada. Pegou numa pequena pedra e, com grande destreza, atirou-a mesmo ao lado das fugitivas para as meter na linha, assustando-as, não foi para as atingir. Contou que, já em miúda, depois da escola, guardava gado, prática que adquirira dos pais e avós. Só se queixa das pernas, pois tem um bocado de dificuldade em mover-se sem a ajuda dos cajados. De resto, denota uma grande serenidade, espelhada no rosto e no sorriso. E vê-se que não renega ter este espírito solidário para com as pessoas da aldeia onde habita, ajudando a cuidar dos seus animais.

E lá viemos embora, com uma agradável sensação de ter conhecido alguém genuíno, simples, mas, ao mesmo tempo, com um ar de muita sabedoria. Por ali ficaríamos mais um bocado à conversa, não fosse um trator aproximar-se e, sendo a estrada boa mas estreita, obrigou-nos a seguir o nosso caminho. Para trás, lá ficou a D., Alice e o seu rebanho de cabras e ovelhas, à espera do fim de tarde e da hora do regresso à aldeia. Um exemplo genuíno do nosso povo!

Texto: São Pereira

Fotos: Manuel Pereira

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