MISÉRIAS EM TÁBUA – SPLASH

TÊM A MÃE ACAMADA E O APOIO DOMICILIÁRIO RECUSA-SE A IR AO LOCAL POR CAUSA DA “PICADA”.

Alguém nos alertou para o estado degradado da estrada nas traseiras do Stand Nunes, na Gândara de Espariz, Tábua, que rivalizava com as piores do concelho. Da N17, ao lado do Stand, sai uma estrada para a Pereira, Mouronho. Passados alguns metros, surge um cruzamento à esquerda que dá acesso a uma quinta e uma casa, virámos nesse sentido. Começa tudo muito bem, alcatrão e bom piso, mas, de repente, parece que se chegou a um outro planeta. A estrada transforma-se numa picada, buracos profundos que a água da chuva nem deixa perceber a profundidade, lama, temos que tentar seguir pela valeta com o risco de nos atolarmos. Um matagal cerrado, com mimosas de cada lado, no meio das quais passam os fios elétricos.

A muito custo lá seguimos e fomos fotografando, para,  percorridos cerca de 100 metros, tornarmos a encontrar, com surpresa, alcatrão.

E não só, descobrimos os habitantes ( já há 15 anos) da quinta que alugam, a Quinta do Vale da Vaca, rodeados de um imenso rebanho com mais de 140 cabeças de gado ovino e caprino, e ainda uns póneis.

Simpaticamente receberam os inesperados visitantes e contaram-nos do suplício em que vivem, por falta de uns simples metros de alcatrão, aliás, prometido há muito pelo presidente da Junta de Mouronho, à qual pertence a zona, por já ser considerado Pereira, apesar da proximidade com Espariz.

A D. Maria Cristina Almeida e o Sr. Carlos foi o casal que nos recebeu, enquanto olhavam pelo rebanho e desfiaram as suas desgraças, apesar de tudo com um largo sorriso, num misto de resignação, de simpatia e de terem alguém com quem falar e desabafar.

E o rol das queixas foi longo e deixou-nos espantados. A D. Cristina tem a mãe (com mais de 90 anos) acamada e em casa. A acrescentar ao trabalho do gado, da casa, tem a responsabilidade de tratar a mãe, dar-lhe banho, mudar as fraldas, etc. Foi pedir apoio domiciliário ao lar, para essa tarefa mais específica, e a resposta foi negativa, não podiam dar cabo dos carros naquele troço de estrada… Nem o carro do lixo lá vai, pelo mesmo motivo, e têm que ser eles a levá-lo para os contentores que encontrem, quando saem. 

 “Para os bombeiros é um problema deslocarem-se, caso a minha mãe precise de alguma coisa”, diz-nos com uma certa tristeza. Se chamam um táxi, ouvem reclamações!

O leiteiro que vai buscar o leite do vasto rebanho, fá-lo com dificuldade.

Água têm de um furo próprio, saneamento nem pensar, eletricidade têm, mas poste de iluminação público só na casa que está uma parte do ano desabitada. Para terem alguma luz, instalaram um holofote, ligado à sua corrente, pagam o que gastam, para não viverem na mais completa escuridão. Mas em relação a isso, reconheceram que não lhes compete a eles pedir um poste público, não são proprietários. Também contam, num encolher de ombros de desalento, que se há muito vento, lá se parte uma árvore e tapa o acesso, mau, mas é o único que possuem. Referem que, além do presidente da Junta, funcionários da Câmara também estão a par, mas se precisam de ali passar fazem-no de jipe.

A única coisa que lhes faz falta é mesmo aqueles metros de alcatrão, resolvia quase todos os seus problemas, sentem-se abandonados, depois das promessas feitas.

E já agora um poste público, bem como a EDP limpar as linhas, qualquer dia está aí o Verão à porta e com os incêndios não se brinca.

Regressamos com direito a mais uns valentes safanões ao percorrermos “estrada”, esperando sinceramente que esta família veja o seu grande problema resolvido. Afinal são uns míseros metros de alcatrão, nem se pedem modernas ciclovias, ou calçada portuguesa, muito menos semáforos contadores de tempo. Simplesmente há uma família que exige melhores condições de vida, um direito constitucionalmente garantido.

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