UM ANO BOM NA COLHEITA DA AZEITONA

APESAR DAS CHUVAS ÁCIDAS, PRODUÇÃO EXCEDEU AS EXPETATIVAS. LAGAR EM MEDA DE MOUROS RECEBE DIARIAMENTE 20 TONELADAS

  Tino, um agricultor que divide a sua atividade entre o Espadanal e terras de França, maneja com destreza a máquina designada abanador na propriedade da Quinta Borges & Irmão, no Espadanal. A faina da apanha da azeitona tem-se modernizado e o abanador e a máquina de varejar substituíram a forma tradicional de varejar com um pau a oliveira, fazendo cair a azeitona no chão. “É melhor que a vara, há menos esforço, caiem menos folhas, não há tanto desperdício, apanha-se o dobro do que antigamente se apanhava. Mas o Paulito do Rato ainda andou este fim-de-semana com uma vara a varejar as oliveiras dele”, diz Tino, revelando que este equipamento custa mais de 2 mil euros, sendo “a bateria a parte mais cara”.

  Num outro canto do terreno, o Rui ia enrolando as redes contendo as azeitonas caídas da árvore, depositando-as num recipiente apropriado. Depois é o transporte para o lagar numa carrinha, neste caso, situado na Zona Industrial da Relvinha. “Este ano, foi uma boa colheita, mas já houve melhores”, referem a “O Tabuense”. No lagar é paga a chamada “maquia”, ou seja, uma percentagem que o produtor despende por cada litro que leva. No ano passado foi de 55 cêntimos, mas, por exemplo, na Cooperativa de Olivicultores de Meda de Mouros, segundo nos referiu o seu responsável, João Moura, essa percentagem cifra-se este ano nos 88 cêntimos.

 João salienta que este tempo está a dar uma grande ajuda na apanha da azeitona, “apesar das chuvas ácidas que caíram há poucas semanas e que estragaram parte da colheita”. Uma média diária de 20 toneladas do fruto são recebidas no Lagar em Meda de Mouros.

   Segundo dados revelados pela Olivum – Associação de Olivicultores e Lagares do Sul, com sede em Beja, baseados nos números do Instituto Nacional de Estatística e do portal Pordata, a produção de azeite na campanha 2021/2022 deverá render 150 mil toneladas, um valor recorde em Portugal.

. O Alentejo tem o maior peso nesta previsão, já que é responsável por 85%. Em Trás-os-Montes e Alto Douro o ano olivícola deverá ser normal, até 15 mil toneladas, mas de boa qualidade.

 A Olivum, que é a maior associação portuguesa do setor de azeite. representando  100 associados e 300 explorações, referiu  que “Portugal garante, desde 2014, a sua autossuficiência em azeite” e que as exportações “têm crescido de forma marcada nos últimos anos”. Em 2020, as vendas de azeite para o estrangeiro representaram “cerca de 600 milhões”, existindo “a perspetiva de superação deste valor” este ano.

  Por outro lado, a associação revelou que o investimento no setor olivícola em Portugal permitiu “passar de 80 mil toneladas, em 2014, para 135 mil toneladas de azeite produzido, em 2019”. De acordo com a Olivum, as empresas que exploram o olival nacional são “maioritariamente portuguesas”. Todavia também se conseguiu atrair investimento direto estrangeiro, oriundo de países como “Espanha, Inglaterra, Chile, Arábia Saudita, Suíça e Dinamarca”.

   São vários os fatores que influenciam a tomada de decisão da colheita por parte do olivicultor: o grau de maturação, a facilidade de desprendimento das azeitonas, a disponibilidade de maquinaria e de mão-de-obra, as condições meteorológicas, a possibilidade de entrega no lagar, o grau de ataque de pragas e doenças, entre outras.

   Da conjugação destas diferentes variáveis, não resulta, na maioria das situações, à realização da colheita no momento mais adequado, com prejuízo para a qualidade do azeite e para a quantidade de azeite por hectare que potencialmente se poderia obter.

   Segundo a revista técnico-científica Agrotec, colher mais tarde a azeitona, tem, geralmente, implicações negativas na qualidade e na quantidade de azeite. Em anos de outonos com temperaturas amenas e humidade do ar elevada, são maiores os ataques de gafa e de mosca da azeitona, com sérias implicações negativas nos parâmetros de qualidade (acidez, índice de peróxidos, entre outros) e na quantidade de azeitona colhida, pois parte da colheita acaba por cair ao chão, reduzindo a produção em largas centenas de quilogramas por hectare.

    Revela ainda a revista que os frutos que acabam por ser colhidos irão proporcionar um azeite de pior qualidade e menos quantidade de azeite por hectare. Atrasar a colheita também pode ter como consequência, em anos de invernos rigorosos, maiores quedas de frutos por efeito de temporais e maiores dificuldades de operabilidade da maquinaria (pesada) usada na vibração dos troncos das oliveiras. 

  Em muitas situações, áreas importantes de olivais em zonas de encosta ou terrenos encharcadiços não são colhidas ou acabam por serem colhidas manualmente, levando a uma redução da quantidade recolhida no olival ou a um aumento dos custos de colheita, com diminuição da rentabilidade da cultura. Mesmo sem problemas fitossanitários, a qualidade do azeite vai-se degradando nos frutos com maturação avançada, pois numerosos trabalhos científicos evidenciaram que o perfil de ácidos gordos se altera negativamente, diminuindo a quantidade de ácido oleico, e que o teor de polifenóis também diminui, passando os compostos a formas com menores efeitos benéficos para a saúde humana.

   Em resumo, diz a Agrotec,  atrasar a colheita tem como consequências, em muitas situações, colher menos azeitona, colher menos azeite por hectare e obter um azeite de pior qualidade. Importa, por isso, determinar o momento ótimo de colheita que permita obter a melhor conjugação: maior quantidade de azeite com a maior qualidade possível. É este binómio que conduz à rentabilidade máxima da colheita.

Texto e fotos: José Leite

Fontes :Agrotec 34 (Francisco Mondragão-Rodrigues1 e Elsa Lopes) / Olivum

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