“DEIXEI DE VER TV NO DIA EM QUE ANUNCIARAM 300 MORTES”
Sentada num banco, em Loureiro, a aproveitar um pouco o sol do fim da tarde, encontramos a D. Maria Dionora da Conceição, de 90 anos, e metemos conversa com ela. Com surpresa, ficamos a saber que era uma sobrevivente da Covid-19, que esteve internada 14 dias em Coimbra e sobreviveu. No início começou a sentir-se muito cansada e com tosse, perdeu o apetite, apesar de lhe trazerem a comida do Centro de Dia, numa semana só conseguiu comer uma maçã e uma pera. Não sabe onde apanhou o vírus, se seria nesse Centro de Dia, quando foi lá fazer o teste, já que houve mais pessoas que o frequentavam que também ficaram infetadas.
Segundo nos disse, se não tivesse ido para Coimbra tinha morrido. Lá esteve umas horas na urgência e, por fim, foi para a enfermaria, onde esteve com mais duas senhoras e agradece a Deus o pessoal maravilhoso que as cuidava, enfermeiros e auxiliares. Só tem coisas positivas a dizer, a comida boa e farta, muito atenciosos e até conheceu uma enfermeira de Oliveira do Hospital.Gostavam de a ouvir falar dos tempos antigos, da sua vida de trabalho do campo, das suas peripécias. De queixas, também teve muitas dores nos artelhos e joelhos, insuportáveis. Tomou muito medicamento, está melhor, mas ainda se sente cansada e com um pouco de falta de ar, tem bronquite asmática e precisa das “bombas”.
Agora está na sua casinha e vão do Centro de Dia levar-lhe o almoço, dar-lhe banho, etc. Deixou de ver televisão no dia em que ouviu que tinham morrido mais de 300 pessoas, nem conseguiu dormir.
Sabe que para já não pode levar a vacina, vai aguardar calmamente que a chamem. E ali ficaríamos a ouvir contar histórias de vida de mais uma pessoa com uma bela idade, com uma sabedoria que hoje se começa a perder e que gostamos tanto de conhecer. As melhoras para a D. Dionora e que conte muitos mais anos, para nos permitir partilhar uns agradáveis momentos a escutá-la com atenção.
TEXTO: SÃO PEREIRA
FOTOS: MANUEL PEREIRA
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