RENASCEU DAS CINZAS APÓS SER DESTRUÍDA PELO INCÊNDIO DE OUTUBRO DE 2017
A Casa Grande de Loureiro impressiona pela sua fachada em pedra, pela harmonia arquitetónica, onde sobressaem os ornamentos em madeira, pelo requinte e conforto na decoração interior, estando rodeada por um extenso terreno agrícola e muitas árvores – até de um avantajado pinheiro que “emigrou” da casa de família no Porto e aqui sobreviveu, encontrando as raízes o espaço e terreno com 40 hectares necessários para se expandirem. Na paisagem avulta ainda uma piscina e um tanque em pedra onde vai escorrer água límpida e fresca. Neste espaço, onde a natureza é “rainha” e os horizontes são amplos, de perder a vista até à vinha lá ao longe onde se produz um afamado vinho a Região Demarcada do Dão, explorada por uma empresa em parceria, nasceu um projeto turístico de Alojamento em Agroturismo com capacidade para 28 pessoas, ideal para grandes grupos conviverem, amigos ou família, se reunirem com toda a tranquilidade, longe do bulício das grandes cidades. E a procura não tem faltado, até de paragens longínquas, de países do leste, norte americanos e ate de Singapura, como vai acontecer em breve.
Carlos Lourenço, um dos proprietários, conta-nos que o primeiro projeto turístico começou a ser estudado em 1998 e o empreendimento acabou por ser inaugurado na passagem de ano de 99 para dois mil. Inicialmente a intenção não era de criar um Alojamento Local, ser um local para passar férias. Acabaram por se encantar com a tranquilidade da aldeia de Loureiro, quando ele e a mulher visitavam, com regularidade, um amigo comum em Vila Nova de Oliveirinha. Havia uma casa apalaçada, edificada em 1890, que estava à venda. “A casa mais emblemática da aldeia de Loureiro”, conta.
“Nessa altura ainda vivíamos em Viseu e depois mudamo-nos para o Porto. E numa dessas visitas surgiu a ideia de adquirimos esta casa que estava á venda muito degradada, propriedade de uma família de advogados em Mangualde. Foi sendo restaurada gradualmente, pois não tinha luz elétrica, nem água canalizada”, sublinha. Segundo relatos a que tiveram acesso, no passado surgiram litígios entre antigas famílias feudais que ocuparam o palacete, uma obra que marcou a transição entre a monarquia e a República. Tempos conturbados esses, aos quais os então ocupantes não foram imunes, especialmente devido a regalias que acabaram por perder.
Durante vinte anos, foi apenas uma casa de férias da família de Carlos Lourenço. ”Mais tarde, quando se começou a falar na evolução positiva do turismo rural, surgiu a ideia de estabelecermos uma atividade nessa área, com o intuito de conseguirmos uma forma de negócio que gerasse fundos para, pelo menos, assegurar a manutenção e não deixar degradar a casa como tantas outras que se veem por aí e que ficam ao abandono”, sublinha.
Conseguiram apoios de fundos ligados ao turismo, o imóvel foi totalmente restaurado e, no primeiro piso, foram inicialmente instaladas seis suites. “O grande desafio arquitetónico foi tentar encaixar uma casa de banho em cada quarto”, diz Carlos, que relata ter havido algumas dificuldades iniciais em manter o empreendimento, “pois estávamos longe de tudo”.
O crescimento foi sendo sustentado pelo “passa a palavra”, aliás, como ainda atualmente acontece. “Há sempre alguém que aparece cá por recomendação de um antigo hóspede”. Mas o grande desenvolvimento teve lugar em 2007, quando o alojamento integrou os packs promocionais da empresa ‘A Vida é Bela’.
“ A casa passou a ser conhecida em todo o país, apareciam turistas de norte a sul, “boom “ esse que aumentou com o aparecimento das redes sociais e outras formas de publicidade pela internet”, frisa.
Em 2017 este sonho esteve em risco de colapsar. A casa apalaçada de Loureiro foi devorada pelas chamas no grande incêndio de outubro de 2017. “ Se não houvesse nenhuma solução para a reconstrução, pensamos em vender o espaço. Mas surgiram apoios para a reconstrução e melhoria das instalações danificadas, como foi o caso do Apoio ao Investimento Turístico do Turismo Centro de Portugal. Como nós cumpríamos todos os requisitos necessários da legislação que foi, entretanto, publicada, aprovaram a nossa candidatura”, sublinha Carlos, esclarecendo que o apoio se saldou em cerca de 50 por cento do investimento. A remodelação iniciou-se em julho de 2018. Estava prevista para dois anos, mas prolongou-se até ao final de 2020.
“Foi um grande esforço, a família mobilizou-se, tivemos quatro anos de obras, com a pandemia pelo meio que provocou alguns transtornos, pois, muitas vezes, as equipas de trabalho não podiam deslocar-se, havia também dificuldades no seu alojamento. Mas lá conseguimos chegar a bom termo e aumentámos para doze suites completas, com capacidade para 28 pessoas. Não há muitas casas deste estilo que tenham essa capacidade de alojamento”, frisa, lembrando o trabalho de decoração (excelente, por sinal, aliando, com requinte e conforto, o antigo ao design moderno) efetuado pela irmã, Alexandra, decoradora profissional no Porto.
Sobre o recente pacote para a Habitação avançado pelo governo, em que os alojamentos locais foram contemplados, Carlos Lourenço refere que “a legislação tem de ser equitativa, permitindo que toda a gente trabalhe em igualdade de direitos e obrigações, pois, diz-se, que o alojamento local tem sido beneficiado em detrimento do turismo rural”.
E no que respeita a apoios à atividade nestes anos de crise, Carlos realça a “agradável surpresa que teve ao saber que o Presidente da Câmara Municipal de Tábua pediu à RTP para visitar este espaço no âmbito da divulgação do concelho que passou na Tábua de Queijos e Sabores.
“Veio cá a Serenela Andrade do “Aqui Portugal”, Foi gratificante saber que o próprio concelho reconhece esta casa como um símbolo importante do turismo de Tábua”.
Contactos: casa.grande.loureiro@gmail.com
Telefone: 964030025
Texto: José Leite
Fotos: Nuno Pereira
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