“EU CANTARIA NA FESTA DO AVANTE SE FOSSE CONVIDADO”

 TOY ENTREVISTADO NA EXPOH, ONDE DEU UM GRANDE “SHOW”:

É o atual fenómeno da música popular portuguesa contando com mais de 50 espetáculos nesta época, ultrapassando fronteiras, pois, dentro em breve,  vai atuar na República Dominicana e em Cuba. Conta quase cinco mil músicas registadas de vários géneros, figura incontornável da TV, faz publicidade, compõe, é entertainer, um homem também com cultura geral, como se pode ver na entrevista que nos deu por ocasião da EXPOH, o certame de Oliveira do Hospital, onde, na noite de sábado, encheu o anfiteatro do Parque do  Mandanelho. 

Começou a cantar aos 5 anos, Foi uma longa jornada até aos dias de hoje.Neste verão participou em mais de 50 espetáculos. O segredo desse êxito?

Pois é, faltam-me alguns meses para fazer 60 anos, e ainda aqui estou, para as curvas. O principal segredo é ter paixão por aquilo que faço, sempre com uma grande vontade de dar o meu melhor, respeitar toda  a gente e ser respeitado. E essa transparência tem sido importante para a minha carreira

O recente êxito, “Põe a cerveja no Frigorífico”, como surgiu?

Sim, esse tema fui eu que o escrevi. Foi na noite de Natal, família e amigos estávamos reunidos e há uma pessoa que não bebe vinho que diz, meio a brincar: “São todos uns egoístas. Sabem que não bebo vinho e ninguém se lembrou de pôr para mim uma cerveja no frigórico para arrefecer”. E alguém disse: “Então põe a cerveja no congelador”. Eu estava com a guitarra na mão e comecei a trautear a música. As canções nascem de qualquer coisa. Verdade que foi um êxito, como o foram as 50 canções que fiz para as novelas da SIC, (40 para o “Amor, Amor”, mais dez para o ”Lua de Mel”), e tantas outras…

 Dá a cara no mercado publicitário, por exemplo, a uma marca de cerveja e a um grande espaço comercial, mantendo as suas características de boa disposição nos temas que interpreta. Essa “incursão” no mercado publicitário não “ofende” o seu lado musical?

   Quero referir que a música do “Intermarché” não fui eu que a escrevi, a adaptação é minha. A música é uma ilustração audível de sentimentos, de coisas, de produtos. Nada na vida se conseguiria sem música. É a alma da vida. Experimente ver um filme sem música, ou estar a cozinhar sem ouvir uma boa música. A publicidade não é uma coisa de segundo plano. Aliás, há grandes realizadores de cinema que ganham concursos de publicidade – tenho um na família, que é o meu filho, que faz filmes sobre as grande marcas de automóveis – e isso não o impediu de fazer uma grande carreira internacional no cinema.

 Sente-se como se fosse o Cristiano Ronaldo da música popular portuguesa? Que está na moda e, por isso, é requisitado para estar presente em múltiplos eventos?

Acho piada dizerem isso…é sempre gratificante quando se é elogiado. Mas eu aceito todas as críticas, boas ou más, as pessoas têm direito à opinião. Mas, para mim, não há estilos de música: há boa e menos boa

Em tempos, tentaram achincalhar a música popular portuguesa…

Uma coisa é música popular, outra, bem diferente, é a música popularucha…O meu pai era alfaiate e estou à vontade para o dizer: posso vestir um fato colorido e ficar bem, se for bem confecionado, com as bainhas bem-feitas. Depois, é tudo uma questão de gosto e o facto de ser colorido não quer dizer que seja piroso. Pode ser de alpaca inglesa às bolinhas. A música é a mesma coisa, há a popular de grande qualidade, por exemplo, a do Fausto e do Vitorino. Se me disser que há pessoas que abusam dos dois acordes, do ritmo fácil, daquilo que é mais audível, que se tornam iguais, não tenho que as criticar, embora esse não seja o meu contexto.

Há alguma coisa que o desagrade no atual panorama musical?

Não tenho que me desagradar. Fico satisfeito ao ver os cantores portugueses terem sucesso. São meus colegas de profissão e quanto mais sucesso tiverem, mais eu ganho com isso. Mas é muito gratificante ver que o público cada vez mais adere à música portuguesa

Como interpreta o caso Abrunhosa, que criticou Putin num espetáculo e foi muito criticado pela embaixada russa?

Tudo o que tenha a ver com a guerra, prefiro não fazer comentários. Acho que a culpa é sempre dos dois lados. As pessoas têm o direito de dizer as cosias que pensam nos sítios onde quiserem. Têm de ter essa liberdade. O que me preocupa em relação a essa guerra são as pessoas que estão a sofrer, as crianças e os inocentes que sofrem com essa coisa da qual eles não têm culpa.

E o que diz sobre os artistas que vão à Festa do Avante e que estão a ser criticados, até por colegas, por o fazerem?

Já cantei na Festa do Avante e cantaria este ano se fosse convidado. Não tenho partido, mas o que me parece é que as pessoas estão a fazer uma grande confusão: o Partido Comunista não está do lado do Putin nem do Zelensky. Aquilo que entendi é que o partido é a favor da paz e quando não recebeu na Assembleia da República o Zelensky também não receberia o Putin. Não apoia nem um lado nem o outro, porque não está de acordo com a guerra. Até pelo facto do Putin ser um imperialista. O que eu acho nojento é o aproveitamento político desses dramas, seja de que lado for. No outro dia, uma criança foi assassinada na minha terra, em Setúbal, vítima de maus tratos, e houve um partido que aproveitou isso para chamar á colação que determinadas leis deveriam ser alteradas. É nojento que o tenha feito para fazer política com esse triste episódio.

Não é um cantor de intervenção, mas tem uma posição muito própria sobre a política que atualmente se faz?

 Tenho uma posição a favor da paz, que a inveja acabe uma vez por todas, não gosto desta política/ espetáculo que visa “incendiar” as pessoas. Essa politica populista, que gosta de dizer aquilo que as pessoas querem ouvir, levando a que fiquem baralhadas. Um modo de proceder que não tem nada a ver com a minha forma de estar na vida. Se se quer que não haja mais de 50 por cento de abstenções, determinados políticos têm de ser mais sérios.

O que mais o desagrada nesta sociedade?

Tudo o que tenha a ver com falta de educação. Não há investimento público nesse sector e, por isso, as pessoas não têm culpa de como devem agir, surgindo os cancros da sociedade. Também me incomoda haver pessoas com problemas para resolver, por exemplo, aqueles que têm a sua conta congelada e que o Estado vem exigir que paguem impostos. Se não podem mexer na conta, como é que querem que paguem? Há aqui uma falta de critério um pouco complicada. Acho que se devia mexer mais nas géneses da educação, saúde e cultura. Uma pessoa pode ter maus instintos, mas se estiver educada, pode amenizar isso, pois terá alguma perceção daquilo que é a vida. É fundamental os pais educarem os filhos, assim como o Governo existe para educar as pessoas, principalmente quando estas vivem estados mais complicados É como dizerem que os subsídios do rendimento mínimo não deviam ser dados. Veja-se o que aconteceu no Brasil: não deram subsídios e surgiram as favelas que custam muito mais dinheiro, por causa do policiamento e do controlo do tráfico de droga, da degradação das condições de vida. Eu concordo que se deem, pois é uma forma de apoiar aqueles que andam desviados e que podem cair na marginalidade.

Conhece bem esta região e Tábua e Oliveira do Hospital? O que mais aprecia nesta região?

Conheço bem Tábua, Coja, Avô, Barril do Alva, Pomares, Arganil., entre outras terras desta zona. O meu pai era alfaiate e tinha um fornecedor desta região. Vínhamos aqui comer a famosa tigelada e beber o medronho que se faz no Barril do Alva que é também muito bom. A gastronomia é a identidade de uma região e a daqui é de enaltecer.

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