CENTRAL FOTOVOLTAICA EM SÃO JOÃO DA BOA VISTA E INSTALAÇÃO DE CENTROS DE RECOLHA DE BIOMASSA
Greenvolt e Altri assumem um papel fundamental na economia do concelho sendo empresas com fortes ligações e que se destacam nos sectores das centrais fotovoltaicas e de recolha de resíduos vegetais. Mas o processo demorou quatro anos e saldou-se na ocorrência de alguns imprevistos…entre os quais, a mudança de personagens, um dos quais chegou a ser investigado pelo Ministério Público. Por enquanto ainda não se perspetivam efeitos visíveis para os fregueses, falando a presidente da JF de S. João da Boa Vista, Marisa Bernardo, que há que aguardar pela entrada em plena produção da central para pôr em prática um protocolo estabelecido com a empresa que vai explorar a central.
Foi em janeiro de 2018 que teve lugar nas instalações da Junta de Freguesia de São João da Boa Vista uma reunião acalorada, contando por intervenientes o então presidente da Câmara, Mário Loureiro, Miguel Barreto, responsável da Muki Solar, a empresa que fora escolhida para construir o projeto de instalação de uma central fotovoltaica na freguesia. Objetivo do encontro: expor os benefícios para a população e para o concelho do referido empreendimento. Como se costuma dizer, houve muita parra e pouca uva. Ou seja, só agora, quatro anos depois, se fez finalmente luz sobre essa obra envolta em muita polémica com a instalação dos primeiros painéis solares. Foi divulgado na passada semana que será agora a Greenvolt a investir 30 milhões de euros na compra, instalação e ligação de cerca de 90 mil painéis solares na freguesia de São João da Boavista. E anuncia-se que a central vai estar concluída no último trimestre do ano, numa área de aproximadamente 90 hectares, com uma potência instalada de 48 megawatt. “Podemos estimar que irá fornecer energia limpa, energia verde, a mais de 20 mil habitações”, sublinhou o diretor executivo da empresa em declarações à Lusa.
Voltando a essa reunião de apresentação realizada há quatro anos nas instalações da JF em S. João da Boia Vista. Na altura, os populares que compareceram manifestaram as suas dúvidas sobre o projeto, questionando se a destruição da mancha florestal não iria prejudicar a qualidade de vida e contribuir ainda mais para a desertificação, indagando, sobre quais eram as contrapartidas para a freguesia onde existiam muitas carências, particularmente no saneamento em Sergudo. Os então responsáveis camarários descansaram essas mentes inquietas: falaram em mais rendimentos para a edilidade através das derramas (que “O Tabuense” saiba, a autarquia ainda não divulgou pormenores sobre essas mais valias para o concelho), desobrigando os proprietários nas despesas com a limpeza das florestas, possibilitando, às pessoas, duas formas de rentabilidade: o aluguer ou a venda dos terrenos onde a mega central vai ser implantada. Garantiram que não iria haver expropriações, tudo foi negociado com os proprietários e o clima de paz parece reinar na freguesia. Se bem que, nos últimos tempos ( como “O Tabuense ”reportou), a instalação da central no Sergudo tivesse indignado os proprietários de alguns terrenos, que viram cortado o acesso às suas propriedades. “Há pelo menos três caminhos que eram públicos que foram cortados, um deles o que dá acesso ao túnel debaixo da estrada”, disse-nos um desses proprietários, que se viu impedido de circular para aquilo que é seu.
E sobre as melhorias para a freguesia, contactamos a presidente da Junta de Freguesia, Marisa Bernardo, que falou num memorando estabelecido com aquela autarquia “ por termos disponibilizado o espaço no tempo em que a empresa era a Muki Solar”.
E acrescentou: “ Quando a central entrar em produção, teremos direito a uma parte da receita que reverterá para a população. Como ainda não está a funcionar, não há ainda qualquer avaliação. Não podem haver contrapartidas, pois tratam-se de propriedades privadas cujos proprietários negociaram com a Greenvolt. Para já não tenho muita informação a prestar”.
A autarca finalizou, sublinhando que, apesar do impacto visual, “não me parece prejudicial ter aqui essa central e espero que tudo corra bem”, falando que a maior parte dos terrenos onde se situa não estavam limpos e esta obra, em termos de prevenção de incêndios, não deixa de ser uma mais valia”.
Quatro anos depois desse debate em São João da Boa Vista, Loureiro já não é responsável pela Câmara, Miguel Barreto e a sua empresa Muki Solar “eclipsaram-se” de Tábua surgindo agora em seu lugar a Greenvolt, que já mostrou serviço na vila, ao instalar as torres de iluminação do Estádio Municipal, enquanto a empresa a que está ligada, a Altri, estabeleceu um protocolo de colaboração com o Município tabuense para a instalação de 5 Unidades de Receção Experimental de biomassa e resíduos vegetais (ver caixa).
Miguel Barreto, que foi diretor-geral de Energia e Geologia entre 2004 e 2008, no tempo do governo Sócrates, chegou a ser investigado no processo judicial instaurado sobre os alegados favores à EDP, sobretudo por ter tomado a decisão de atribuir à elétrica uma licença vitalícia para a exploração da central de Sines, sem contrapartida financeira para o Estado. Foi mesmo constituído arguido, chegou também a ser investigado pelo Ministério Público da Suíça por suspeitas de branqueamento de capitais, segundo avançou na época o jornal “Observador”, mas o juiz de instrução criminal Ivo Rosa – o tal que tem entre mãos o processo que investiga José Sócrates e que é conhecido por tomar decisões polémicas de âmbito judicial – anulou esse estatuto processual por questões formais.
Além da Muki Solar, Barreto detinha também a Gesto Energia, uma empresa que está a desenvolver várias centrais fotovoltaicas na Libéria e no Senegal, em paralelo com a sua presença em países como o Quénia, Moçambique, Angola, Senegal, Libéria, Ruanda e Cabo Verde.
Depois dessa súbita aparição em Tábua, nunca mais se ouviu falar nesta personalidade. Para a posterioridade, fica uma frase sua numa entrevista que deu a “O Tabuense”: “Tábua será um concelho de vanguarda e amigo do ambiente”. Não foi com a Muki, mas vai ser, muito provavelmente, com a Greenvolt, que faz alarde de publicitar a nível nacional este megaprojeto em Tábua através da agência noticiosa estatal “Lusa”, logo depois de ter concretizado o aumento de capital.
GREENVOLT AUMENTOU CAPITAL NO VALOR DE 100 MILHÕES DE EUROS
A Greenvolt, a empresa escolhida para instalar a central fotovoltaica em São João da Boa Vista, atua no setor da biomassa, na promoção de projetos eólicos e solares fotovoltaicos e na distribuição de geração de energia renovável. No principio deste mês, anunciou ter “concluído com sucesso” o aumento de capital no valor de quase 100 milhões de euros, uma operação marcada por uma forte procura dos investidores e que permitIU à empresa liderada por João Manso Neto “realizar mais depressa os investimentos, bem como estar atenta a oportunidades que surjam no desenvolvimento da estratégia de crescimento nas energias renováveis”.
De acordo com a informação enviada à CMVM, a procura global pelas 17.252.191 novas ações ascendeu a 186,8% da oferta. Os atuais acionistas garantiram a quase totalidade do aumento de capital – só com os direitos de subscrição ficaram garantidos 97% dos 99,9 milhões pedidos aos investidores –, com as ordens de subscrição pelas restantes 540.385 novas ações a superarem em 30 vezes o valor disponível.
Segundo refere o jornal “Negócios”, três dos principais acionistas da Altri (grupo europeu líder na produção renovável de pasta para papel e principal produtor em Portugal de energia renovável a partir da biomassa) Paulo Fernandes, João Borges de Oliveira e Domingos Vieira de Mattos, assumiram 26,45 % do capital social da Greenvolt, depois desse aumento de capital, o que significa dizer que esta última é subsidiária da Altri, um empório comercial que vai, paulatinamente, controlando a economia local com o apoio das altas esferas camarárias.
ESTABELECEU PROTOCOLO DE COOPERAÇÃO
CÂMARA DE TÁBUA DE BOAS RELAÇÕES COM A ALTRI
Foi com a Altri que o Município de Tábua celebrou, a 15 de junho passado, um Protocolo de Colaboração com o objetivo de apoiar e incentivar as boas práticas de gestão do território florestal no concelho de Tábua que permitam aumentar a produtividade florestal e, simultaneamente, reduzir os riscos de incêndios e potenciar a valorização energética através do aproveitamento da biomassa florestal.
O Protocolo foi formalizado em sessão realizada nos Paços do Município, na presença do Presidente da Câmara Municipal de Tábua, Ricardo Cruz, e dos representantes do Grupo ALTRI, Henk Feith e António Gravato, que salientaram a importância desta cooperação numa área de relevante para o desenvolvimento deste território.
Através desta parceria, serão implementadas 5 Unidades de Receção Experimental de biomassa e resíduos vegetais, complementados com 1 Central localizada em Tábua, estando em processo de identificação os locais onde serão instaladas, de forma a alcançar uma ampla cobertura do Concelho e otimizar os resultados que se pretendem alcançar.
Altri e Greenvolt assumem-se assim como dois grandes sustentáculos financeiros e económicos em Tábua. A bem do ambiente…
Texto: José Leite
JOÃO DINIS (CNA):
“NÃO ACREDITO QUE A POPULAÇÃO POSSA BENEFICIAR DE UMA ENERGIA MAIS BARATA”
João Dinis, responsável pela CNA (Confederação Nacional da Agricultura) também prestou um depoimento a “O Tabuense” sobre este empreendimento fotovoltaico em São João da Boa Vista:
“Constatamos que a instalação de grandes centrais fotovoltaicas para a produção de energia está a transformar-se numa moda a nível nacional.Com a particularidade de ocuparem um espaço com aptidão florestal e agrícola. Sendo também verdade que se destinam à exploração de energia limpa, o que constitui a maior vantagem que têm, sendo referido no caso de São João da Boa Vista, o significativo volume de investimento com uma produção igualmente significativa. Agora, está por provar, para já é só propaganda e aliciamento das consciências, que os consumidores venham a usufruir de grandes benefícios. Vão ter energia mais barata? Em que rede de distribuição vai ser introduzida? Que nos digam já o preço final que vai custar ao consumidor. Porque esse empreendimento vai gerar apenas meia dúzia de postos de trabalho. Eles não vieram para cá por causa das lindas paisagens, houve cálculos de aproveitamento económico e financeiro do capital investido. Nem sequer sabemos, e aconselho o presidente da Câmara a pronunciar-se sobre isso, se a empresa paga alguma derrama municipal, já que não acreditamos que a população possa beneficiar de ter uma energia mais barata.
Do que se vê do IC6, essa central está instalada em terrenos que eram eucaliptais e antes, tiveram pinhal, em regime de exploração intensiva. Houve um desrespeito pela propriedade privada dos pequenos e médios proprietários, isso ao longo de décadas, desde a eucaliptização, passando pela passagem do gás, às vias rápidas e, agora, com as centrais fotovoltaicas”.
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