BERMAS TOMADAS PELAS ERVAS, PATRIMÓNO EM DERROCADA, RATOS E COBRAS EM EDIFICADOS QUE RUÍRAM
O Espadanal dista escassos 5 quilómetros da sede do concelho, mas é um exemplo gritante dos paradoxos em que vive mergulhado este Município de Tábua que assumiu como prioridade a recuperação do seu parque habitacional. E foi com esse intuito que decidiu criar naquela aldeia um Centro de Alojamento Temporário, num investimento de cerca de 240.000 euros, e que visa a criação de dois apartamentos T2 e um T1 no edifício da antiga Escola Primária do Espadanal. A obra está prestes a ser concluída (foi anunciado este mês de maio o seu término aquando da assinatura do auto de consignação) e o objetivo, segundo a edilidade, “visa dar uma resposta estruturada e transversal para as pessoas que carecem de soluções de alojamento de emergência, devido a acontecimentos excecionais ou imprevisíveis ou a situações de risco iminente, tais como incêndios, intempéries, derrocadas ou outros.”
Pela “sua localização, área e desenvolvimento do corpo e pisos do edifício”, foi escolhida a antiga Escola Primária do Espadanal, desativada há vários anos, depois de ter sido oferecida ao povo da localidade pela família do antigo banqueiro, Borges & Irmão, que deixou na localidade uma assinalável obra benemérita. Aliás, houve a preocupação de deixar na frontaria do edifício uma placa de agradecimento dos residentes na aldeia ao seu benemérito: “Ao doador e fundador desta escola Francisco António Borges. Os seus conterrâneos do Espadanal reconhecidos”. Corria o ano de 1914.
Explicando o investimento, o Presidente da Câmara Municipal de Tábua referiu que o mesmo se inseriu numa estratégia do município de recuperação do edificado urbano do Concelho, recuperando imóveis degradados para a criação de habitação, seja para respostas a nível social, como é o caso presente, seja para a disponibilização de habitação a custos acessíveis ou ainda para devolver dignidade a imóveis sem condições mínimas habitacionais, através do Programa 1º Direito”.
Ora, como diz o povo na sua sabedoria, é aqui que “a porca torce o rabo”. O Espadanal vive mergulhado há dezenas de anos num total abandono, desertificando-se gradualmente. Basta percorrer as ruas da aldeia para se verem inúmeras casas abandonadas, algumas em risco de ruir, outras que já ruíram – como é o caso de um vetusto imóvel, por coincidência, vizinho do agora pomposo e moderno centro de acolhimento – e que foi deixado ao abandono depois do incêndio de 2017, depois de ter sido devorado pelas chamas. Só restam as paredes e parte do telhado, havendo riscos para quem passe na rua, não vá soltar-se lá do alto uma das telhas que ainda restam, isto para não falar no imenso matagal que se vê no interior, assomando ao portão enferrujado que se encontra aberto, por incúria, pois por ali pode entrar facilmente uma criança e acontecer uma tragédia.

Descendo a rua num empedrado cheio de irregularidades depois de ter sido alvo de uma profunda remodelação no tempo do presidente Mário Loureiro para ser instalado o saneamento básico, vemos que a vegetação tomou de assalto as bermas, até chegarmos a uma curva, onde está situada uma antiga capela datada de 1743, que deveria ser considerada um património municipal (pela antiguidade e historial) mas que também se encontra rodeada de ervas. Mais abaixo, deparamos com um fontanário também degradado que foi oferta da família Borges & Irmão ao povo, depois de muitos anos ter fornecido esse bem essencial às gentes da localidade. Prosseguindo essa penalizante rota por esta aldeia, terra que deu no passado muitos padeiros ao mundo e que nos anos setenta regurgitava de gente, principalmente em épocas festivas, curvamos à esquerda, até ao chamado Canto, passando por outras casas abandonadas ou a ruir. É aqui que, no cimo, num local ainda ocasionalmente habitado, que deparamos com um amontoado de silvas e escombros de uma habitação e que o Sr. Castanheira, uma figura da terra, nos refere que “até mete medo”, tal a profusão de animais rastejantes, cobras de grandes dimensões e ratazanas, constituindo um centro tóxico e perigoso para toda a comunidade.
O Espadanal é um exemplo patético de um concelho que vive em múltiplos contrastes. E depois queixem-se que a população tabuense vá diminuindo…
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