“FUI EU QUEM A NOMEEI, POIS É UMA GRANDE PROFISSIONAL E OS CENTROS DEVEM-LHE MUITO”

RUI ANDRADE, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE TÁBUA, RESPONDE DE UMA FORMA FRONTAL A TODAS AS POLÉMICAS E REJEITA TER HAVIDO CLIENTELISMO NA NOMEAÇÃO DA ESPOSA DO VICE-PRESIDENTE E VEREADOR ANTÓNIO OLIVEIRA PARA COORDENADORA DOS CENTROS DE EXAMES.

BOMBEIROS VÃO FAZER A LIMPEZA DAS FLORESTAS COMO FORMA DE CONSEGUIR MAIS RECEITAS

EM DEZEMBRO VAI HAVER NOVIDADES NO PROCESSO EM TRIBUNAL RELACIONADOS COM O DESVIO DE FUNDOS NOS CENTROS DE EXAMES.OS ATRASOS DEVERAM-SE ÀS SUCESSIVAS  FALTAS DE UM PERITO

“CLARO QUE HÁ UMA ESTREITA LIGAÇÃO DOS BOMBEIROS COM A CÂMARA.EU DEI O MEU APOIO AO DR. RICARDO CRUZ E ESTAREI COM ELE ATÉ AO FIM”

“NÃO ERA NECESSÁRIO INFORMAR OS NOSSOS ASSOCIADOS DA CEDÊNCIA DE UMA AMBULÂNCIA A CABO VERDE, POR SE TRATAR DE UM BEM MÓVEL”

 “OS BOMBEIROS MERECEM SER MAIS VALORIZADOS PELA SOCIEDADE. REPARE QUE ATÉ O FACTO DA SIRENE TOCAR AO MEIO DIA AOS DOMINGOS FOI OBJETO DE CRITICAS.É UMA FORMA DE MOSTRAR QUE ESTAMOS VIVOS”

ENTREVISTA E FOTOS: JOSÉ LEITE

Os bombeiros de Tábua vão começar a fazer limpezas florestais, garantindo uma outra forma de rentabilidade. Isto apesar de a Associação ter apresentado no balanço provisional para 2025 um lucro de cerca de 65 mil euros. Teme que os centros de exames possam, no futuro, deixar de financiar os bombeiros (n.r – O orçamento aprovado pelos associados registou na parte respeitante às prestações de serviços dos centros de exames cerca de 1.600 mil euros)

Hoje está tudo bem, os centros de exames são uma boa fonte de receitas para os bombeiros. Mas não sabemos o futuro. Tento incutir na direção a necessidade de arranjar outras formas de angariar receitas. As pessoas estão habituadas a viver de subsídios. No nosso caso, dos centros, da Câmara, do Estado….Falo com os presidentes das juntas de freguesia, com particulares, e eles queixam-se que não têm pessoal para fazer as limpezas das florestas. É também uma forma de arranjar mais postos de trabalho, e, no futuro, poderemos fazer prevenção cortando mato em redor das casas. Não se deve chamar os bombeiros apenas quando há incêndios.

E não vão competir com as empresas do sector?

Não vamos competir com ninguém, porque, neste momento, há falta de mão-de-obra. Não vai ser preciso um grande investimento, mas se o houver, vai ser rentável.

Os associados foram ouvidos sobre essa matéria?

Nós levamos o assunto à Assembleia e, a partir daí, a direção está mandatada para fazer isso.

O Sr. Presidente falou que era uma forma de ocupar os bombeiros porque estavam sem fazer nada. Não acha que foi exagerado nessa apreciação? Que alguns bombeiros possam ter-se sentido melindrados?

  Sinto-me desconfortável e isso vai ser explicado aos bombeiros. Foi uma resposta às críticas de certas pessoas, que passam na rua e dizem que os bombeiros não fazem nada, que foram buscar um comandante caro. Essas palavras não foram dirigidas aos bombeiros, eles sabem que estou com eles. Não estou a criar divisões, estou a defendê-los, incluindo o comandante. Os bombeiros trabalham: muitas vezes, chega-se ao quartel e não está lá ninguém, andam envolvidos nas suas atividades.Os homens e mulheres que temos sentem-se bem a trabalhar porque criamos condições para isso. Os críticos deviam sentir orgulho de haver agora uma parada digna, da requalificação das garagens das ambulâncias, a construção de uma pala, porque não tínhamos onde estacionar os veículos, a colocação de novos portões. Todo o interior do quartel foi pintado pelos próprios funcionários, foram estes que requalificaram o salão nobre. Isto é o que as pessoas deviam saber, não é andarem na rua ou no café no bota-abaixo. Os que estão na direção são voluntários. O que eu ganho? É que em vez de estar na minha empresa a tratar dos meus assuntos, estou nos bombeiros a resolver vários assuntos. Há dois anos e meio, quando me convidaram para ser presidente, não foi fácil eu aceitar, não me via nesse cargo. Agora, sou eu que tenho de agradecer aos bombeiros, pois aprendi muito, sinto-me diferente.

  Ser Presidente dos bombeiros não pode servir de trampolim para outro cargo? Por exemplo, uma candidatura política?

Nada me move. Claro que há uma estreita ligação entre os bombeiros e a Câmara, as pessoas dão-se bem. Não tenho nada que apontar à edilidade. Esta tem cumprido escrupulosamente tudo o que acordamos desde o primeiro dia. E toda a gente sabe que eu dei o meu apoio ao Dr. Ricardo Cruz e, corra bem ou mal, estarei com ele até ao fim.

  Esse bom relacionamento tem sido recíproco: os bombeiros cederam uma ambulância com alguma antiguidade a Cabo Verde, fruto da parceria entre a Câmara e o Município do Sal? E, segundo foi dito, os associados não foram tidos nem achados nessa oferta?

Nem precisavam. É um bem móvel e a direção está autorizada a fazer o que quiser dos bens móveis. Os imóveis é que têm de ir à assembleia geral. Também vendemos uma outra viatura antiga, mas essa foi por propostas.

A primeira fase do novo edifício do centro de exames de Tábua vai custar cerca de 180 mil euros. Mas o anúncio da compra do terreno surgiu, inicialmente, na sua página do Facebook, o que provocou algumas críticas…

O terreno custou cerca de 7 mil euros. Foi comprado em hasta pública à Câmara. Em reunião de direção fui mandatado para comprar esse terreno e os outros licitadores, ao aperceberem-se que era para os bombeiros, desistiram de cobrir as nossas ofertas. Não há nada a esconder, quando o compramos, sinalizamo-lo e alguém tirou fotografias, foi publicitado nos bombeiros e eu, na minha página privada, também coloquei, para as pessoas de quem sou amigo, ficarem a saber. Alguém viu e arranjaram-me um problema, pelo facto de ter publicitado a compra do terreno no meu Facebook. Não sei qual é o problema…

Em que ponto está o processo, que já se arrasta há muitos anos, envolvendo os desvios de dinheiro nos Centros de Exames?

  Tem-se arrastado porque um dos peritos tem faltado sempre. O juiz decidiu que se não houver quórum, os dois restantes peritos decidem. Espero que haja fumo branco até dezembro. Também há questões que estão em segredo de justiça, é tudo o que posso dizer.

Foi-me dito que a mulher do vice-presidente da associação dos bombeiros e atual vereador, António Oliveira, foi nomeada para um cargo relevante nos centros de exames, auferindo uma boa remuneração. Confirma esse fato?

  Vou-lhe responder com toda a verdade. O Presidente da Direção tem o poder de nomear pelouros. E fui o que eu fiz quando assumi o meu cargo. Cada um dos centros de exames tem uma diretora. Depois de visitar todos esses centros, achei que teria de nomear uma delas como coordenadora. E nomeei a Dr.ª Isabel Oliveira, obtendo a concordância da direção,

Ser casada com o vice-presidente da Associação não pode ser entendido como um certo clientelismo, um fator impeditivo?

Nada disso. O Sr. vice-presidente é uma pessoa de bem e absteve-se na votação. Há pessoas que eu defenderei toda a vida pelas provas que têm dado, por serem pessoas sérias. A Dr.ª Isabel foi remunerada para esse fim. Posso dizer que há, neste momento, problemas com os salários dos examinadores, por haver discrepâncias no que recebem, exercendo as mesmas funções. As diretoras também foram todas igualadas, porque não podia admitir que ganhassem menos do que os examinadores. E foi isso que aconteceu com a Drª Isabel. Não ganha mais por ser coordenadora, está a dar mais dela sem receber, está a fazer um trabalho voluntário, não foi premiada, não tem ordenados de ministros nem de secretários de estado. É uma grande profissional e os centros devem-lhe agradecer muito pelo trabalho que tem desenvolvido.

 Repare: doravante, uma associação como os  bombeiros não se pode compadecer por ter alguém como eu a liderá-la, mas sim, deveria ter um profissional. Tenho de recorrer a pessoas com provas dadas, como aconteceu na coordenação dos centros e na liderança dos bombeiros, em que tive de ir buscar um comandante fora do concelho.

E foi muito criticado por causa disso, ao não aproveitar os quadros de tabuenses nos bombeiros…

  Tábua já está no mapa dos bombeiros do país e ainda não chegamos ao fim do mandato. O comandante Rui Leitão já faz parte da Escola de Bombeiros e as pessoas deveriam ficar orgulhosas disso. Hoje há rigor e disciplina nos bombeiros. Antigamente, as pessoas passavam por esses operacionais e viam-nos trajando uma camisola de uma cor, calças com outra cor. Hoje isso não acontece. Aquilo não é o meu quintal, nem do António Oliveira. Nós não precisamos dos bombeiros, estamos ali para fazer pontes, não contem comigo para fazer divisões. Custa-me estar nas assembleias e ninguém elogiar o trabalho que está a ser feito para relevar o papel dos bombeiros.

Há uma questão que foi aflorada na última assembleia ordinária em que um bombeiro surge  no Relatório e Contas como tendo auferido um subsídio de 30 mil euros, mas que  garantiu não ter recebido nada. Pode esclarecer isso?

Essa situação aconteceu no mandato anterior, não temos nada a ver com isso. O valor que lá estava era da Segurança Social. Bem ou mal, a anterior direção fez o seu trabalho.

  Também foi dito nesse plenário que apesar da rentabilidade expressa nas contas dos bombeiros, houve um prejuízo de 144 mil euros…

  Isso teve lugar no ano anterior. As pessoas sabem quanto custou a reparação da parada, os custos da pala, a repavimentação das garagens, não ficamos com o dinheiro, fizemos investimentos na parte dos bombeiros.

Há investimentos vultuosos projetados?

 Um novo Centro de Exames, com um parqueamento ao lado, tendo sido já feito um protocolo com a Câmara que cedeu esse terreno, porque, neste momento, há dificuldades com o estacionamento dos carros de exames. Não há segurança e até houve assaltos a essas viaturas com  roubo de gasolina. Essas obras vão ser feitas pela associação. Uma outra infraestrutura que vai ser criada são as novas camaratas masculinas no quartel, além de uma nova Central de Telecomunicações.

 Os carros e camiões dos centros de exames continuam a provocar transtornos na circulação em Tábua. Tem havido queixas dos tabuenses?

  Realmente, sofremos todos um pouco com essa circulação. Mas imagine Tabua sem as escolas de condução e os centros de exames. O que seria do comércio, da restauração. Movimentam uns milhares.

 Há outras dificuldades que urge resolver?

  Temos viaturas com 20, 30 anos. Não temos capacidade financeira para gastar 200, ou 300 mil euros num carro. E os mecenas acabaram.

E estão a surgir novos associados?

  Sim, tem havido uma grande adesão. Mas há muitos associados antigos que nunca mais pagaram quotas

Não tem havido problemas com o INEM, que está adstrito aos bombeiros?

  Tem havido alguns atrasos. O Sr. Comandante tem dado bom seguimento a isso e até nos trouxe faturação dos hospitais de Tondela e Viseu, graças aos serviços prestados.

Uma última mensagem?

Reiterar o que disse: orgulho-me muito dos órgãos sociais que tenho, do corpo de bombeiros, do comandante que tenho, dos centros de exame, da coordenadora, são pessoas incansáveis. Mereciam mais alguma atenção da população, não deviam ser tão criticados. Muitas vezes não é preciso ir à luta para vencer a batalha.

Mas sente que está a viver uma “batalha”?

  Isto é um recado para os outros, há pessoas que andam em guerra com elas próprias, não com os bombeiros.

 São questões políticas?

  Que eu me apercebesse, nunca vi política nos bombeiros. Ali, o nosso partido são os bombeiros. Estes mereciam ser mais valorizados pela sociedade. Repare que até o fato da sirene tocar aos domingos ao meio-dia foi objeto de críticas. É uma forma de mostrarmos que estamos vivos. Mas a maioria dos tabuenses gosta.

ASSOCIADOS NÃO FORAM INFORMADOS DE VIAGEM AOS EUA

 A viagem do Presidente, Rui Andrade, do vice-presidente, António Oliveira e do comandante Rui Leitão, a New York para estarem presentes no próximo sábado, dia 23, numa festa de angariação de fundos promovida pela comunidade lusa, foi também comentada pelo Presidente desta Associação, depois de o temos informado de algumas criticas de associados que chegaram à nossa redação, argumentando que não foram informados dessa deslocação na última Assembleia Geral. Disse-nos Rui Andrade: “A viagem é feita às nossas custas, não tem nada a ver com a Associação, esta não vai ter despesas. Fomos convidados particularmente. Não tinha de dar satisfações disso, embora o pudesse ter referido nessa reunião. Mas não era obrigado. Quando regressarmos, vamos encaminhar psra os bombeiros os fundos angariados nessa festa. Tudo já está pago com cheques nossos, para depois mostrarmos aos sócios”.

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