“NÃO HÁ UMA VISÃO ESTRATÉGICA PARA O TURISMO EM TÁBUA”

EMPRESÁRIO NUNO PEREIRA MOSTRA-SE MUITO CRÍTICO AO FAZER O BALANÇO DO SECTOR:

Alargar o Trilho dos Gaios a todo o território tabuense e aproveitar para fazer a ligação à ciclovia que vai até Viseu e que está programada seguir pelo Mondego até Coimbra, sem esquecer de criar melhores estruturas de apoio a quem visite este trilho, são algumas ideias aqui lançadas pelo empresário Nuno Tavares que se mostra muito crítico a respeito da política camarária para o sector do turismo seguida pelo vereador responsável pelo turismo, a quem acusa de ter uma visão redutora, privilegiando a Ronqueira em detrimento de outros polos igualmente importantes.

Qual o balanço que faz deste ano turístico em Tábua?

Como já referi, não é gastar-se milhares de euros em feiras e publicidade que se promove o território. O turismo cresceu em Tábua, mas isso foi, em grande parte, fruto do trabalho dos privados, dos hotéis, dos turismos rurais, das empresas que investem em promoção

Um dos principais polos de atração, refiro-me ao Trilho dos Gaios, teve a promoção devida por parte do Município?

Nota-se que não, pois foi inaugurado há cerca de um ano e só nesta época é que teve frutos. E isso aconteceu porque em 2023 não houve qualquer promoção. Graças aos privados, às publicações de pessoas que  visitaram o concelho, à reportagem no jornal “Expresso” na secção “Boa Cama, Boa Mesa”, promovida pelo Turismo do Centro, o Turismo em Tábua  passou a ser mais conhecido e houve uma grande procura. Não só do trilho, mas as Cascatas de Sevilha, o Penedo C` Abana. Eu fiz o acompanhamento de muitos desses visitantes, mostrando, igualmente, não só os pontos turísticos mais relevantes, os locais para comer, as tradições, assistindo-se a partir daí a um autêntico “boom” que no ano anterior não tinha acontecido devido a uma estratégia errada.

Quer especificar? Que estratégia errada foi essa?

  Basta pensar que o Município de Tábua gasta mais na promoção do turismo na Ronqueira do que no resto do concelho todo junto. E fica ao critério e ao encargo dos privados, elaborarem os folhetos das suas unidades e locais turísticos para distribuírem aos seus clientes, explicando-lhes o que podem visitar. Por exemplo, o Município devia apresentar folhetos para distribuir a quem nos visita para explicar os vários tipos de trajetos.Deviam, igualmente, estar a ser divulgados “on-line”. O que gastam no Boletim Municipal dava para financiar todo esse trabalho…mas, pelo que se vê, o Boletim só serve para fazer a propaganda do Presidente de Câmara, surgindo Ricardo Cruz em trinta ou quarenta fotos, em vez de se promoverem os negócios, o tecido empresarial que há em Tábua, seja indústria ou comércio, sem esquecer a divulgação das reuniões, as atas…Essa é a minha opinião, obviamente bem diferente da dos políticos, os quais gostam é de se promover.

  Na sua opinião, o que é que o Município deveria já estar a preparar para a próxima época?

 Já deveria estar a delinear o seguimento do Trilho dos Gaios em direção à zona de Sevilha, e depois até Ázere, estudando os percursos e os locais possíveis para fazer esse percurso, aplicando os mesmos fundos comunitários utilizados no roteiro inicial. Não é o Município que gasta dinheiro nisso, esses investimentos só são possíveis através desses fundos que veem da Europa, que existem para serem aplicados no território como uma mais-valia. Sendo um concelho pequeno, porque não fazer um trilho em redor do território que se estendesse até ao Covelo e à zona da Ronqueira, daqui até à ponte romana em Meda de Mouros e ao baloiço do Lajedo?… E aproveitar para fazer a ligação à ciclovia que vai até Viseu e que está programada seguir pelo Mondego até Coimbra. Tem de se pensar numa estratégia global e não estar à espera do calendário eleitoral.

 E, entretanto, há que gastar algum dinheiro para manter as estruturas que existem. Por exemplo, ao nosso jornal chegaram reclamações que as tábuas do passadiço do Trilho dos Gaios estão já descoloridas, que nesse local não há casas de banho, muito menos um ponto de água….

  As tábuas estão descoloridas porque houve um erro técnico ao serem pintadas quando estava a chover. Mas, sobretudo, falta um bom mapeamento de toda a zona, um local onde as pessoas possam estacionar, tomar um café, facilidades de acesso á internet ou um telefone para chamar uma ambulância em caso de acidente, já para não falar na contínua retirada do lixo dos caixotes que ali estão colocados Eu próprio, através da minha marca Trilho dos Gaios, em conjunto com a Associação local, tentei angariar dinheiro para resolver essa situação da falta de casas de banho e de outras infraestruturas. E porque não haver um guia para orientar as pessoas sobre as várias opções de roteiros no Trilho?

 Como vê a polémica em redor da marca Trilho dos Gaios da qual é detentor?

 Não vejo qualquer polémica. Já tenho a marca há muitos anos. O Município é que levantou burburinho em vez de resolver as coisas nos locais próprios, tentando registar uma marca de imitação da minha. O processo ainda demorará algum tempo a ser resolvido, só teremos de acatar as decisões do tribunal. Acho que tem havido falta de diálogo, porque o que interessa é promover o Trilho dos Gaios, que é de toda a gente, não tem dono, a marca é que é minha. Tem sido um êxito a venda das t-shirts, dos bonés. Futuramente, irei alargar essa minha ação a outras marcas para promover o concelho. Só lamento a inércia que o Município tem dado mostras a este respeito. Acredito que não tenha dinheiro ou até falta de criatividade, mas eu vou fazê-lo, por exemplo, com o Penedo C` Abana, com a Cascata de Sevilha, ou o Baloiço do Lajedo,  porque as pessoas gostam destes pontos, têm que levar alguma coisa para mostrar aos outros que estas atrações existem, o passar a palavra é importante. Mas o que acontece atualmente é que   o turista sai de Tábua e leva um vazio na mala.

 A cultura também pode ser um importante factor de atração turística. Por exemplo, acho inconcebível que sendo esta a terra do João Brandão, não haja um museu com o seu nome. Até a casa onde nasceu, no Casal da Senhora, está fechada. Por exemplo, aqui ao lado, o Município do Carregal do Sal empenhou-se em restaurar, em Cabanas do Viriato, a mansão onde viveu Aristides Sousa Mendes, transformando-a num belo museu que teve uma digna cerimónia de inauguração…

 Até digo mais: a ligação que Aristides Sousa Mendes tem a Tábua deveria ser aproveitada ao máximo para trazer pessoas aqui para o concelho, par exemplo, a Midões, onde nasceu a mãe dele e que o embaixador visitava com regularidade. Falta uma visão global que faz com que as coisas não evoluam. E é essa limitação que dá mostras a pessoa responsável pelo turismo na edilidade tabuense, pós a sua visão limita-se às festas, principalmente com jovens. Não tem uma visão estruturante da História e Cultura concelhias. Falta-lhe uma visão estratégica, englobando, claro, os aspetos turísticos, as paisagens, não esquecendo as tradições, a história, o queijo, a fruta, a vinha. Se até faltam casas de banho na sede da vila para o turistas…Fazem-se candidaturas a projetos mas não se pensa no retorno para as comunidades locais.

 Resumindo: o que falta ao Turismo em Tábua?

Falta tudo. Tirando o Trilho dos Gaios, o bar e o tanque da piscina de Ronqueira, Tábua não tem quase nada de turismo. E tem-se gasto muito dinheiro em slogans, em festas, mas faltam as infraestruturas necessárias a quem nos visita…por exemplo, quem vai ao Penedo C Abana, arrisca-se a que o carro tenha de ser rebocado devido ao mau piso da estrada que leva ao parque de estacionamento. E é importante que se saiba  que se o turismo enfraquecer, há menos receitas, o comércio não desenvolve. Basta ver o que acontece em Midões : desde que abriu o Palace Hotel movimentaram-se um grande número de pequenos negócios e ideias fruto da existência dessa unidade, e isto aconteceu numa localidade que estava praticamente sem vida. Já passamos os mil hóspedes desde dezembro até à atualidade, tudo isto à base de uma promoção que é feita englobando todos os agentes turísticos. O vereador responsável pelo turismo deveria preocupar-se com todos os que têm a sua atividade no território, e isso não acontece porque não há uma estratégia para o sector do Turismo.

 Entrevista: José Leite

PRINCIPAIS PONTOS TURÍSTICOS QUE DEVEM SER PROMOVIDOS

 “Graças aos privados, às publicações de pessoas que  visitaram o concelho, à reportagem no jornal “Expresso” na secção “Boa Cama, Boa Mesa”, promovida pelo Turismo do Centro,o turismo em Tábua  passou a ser mais conhecido e houve uma grande procura. Não só do trilho, mas as Cascatas de Sevilha, o Penedo C` Abana. Eu fiz o acompanhamento de muitos desses visitantes, mostrando, igualmente, não só os pontos turísticos mais relevantes, os locais para comer, as tradições, assistindo-se a partir daí a um autêntico “boom” que no ano anterior não tinha acontecido devido a uma estratégia errada”

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