NA VENDA DO PORTO E ANDORINHA TRABALHADORES DE VÁRIAS NACIONALIDADESDEDICAM-SE NESTA ÉPOCA A APANHAR FRUTOS SILVESTRESE SÃO UM EXEMPLO DE INTEGRAÇÃO NA COMUNIDADE TABUENSEE DA BOA APLICAÇÃO DAS NOVAS REGRAS DE IMIGRAÇÃO.
EMPRESÁRIO NUNO PEREIRA FOI RESGATAR INDIANO DENTRO DE UM CONTENTOR EM ARMAMAR.
AGORA, KHASMIR JÁ TROUXE A MULHER E OS FILHOS QUE ESTUDAM NA ESCOLA EM TÁBUA
Khasmir, 47 anos, é um exemplo de integração na comunidade. Tem os dois filhos a estudar no 11º ano da escola em Tábua e trabalha nas plantações da Lusoberry com a sua mulher, Mandit Kor, 39.Vimo-los em Andorinha a apanhar framboesas, mas, dias antes, também os vimos na colheita de mirtilos na Venda do Porco, onde a empresa tem uma vasta plantação. Há cinco anos que deixou a India e se encontra em Portugal. Diz que gosta desta atividade, das condições que encontrou. Um percurso que contou com alguns percalços: contratado por uma empresa de trabalho temporário, Khasmir foi deixado à sua sorte em Armamar, Moimenta da Beira, e foi lá que o empresário Nuno Pereira o foi resgatar, quando vivia em condições degradantes dentro de um contentor. Com a mulher, que, entretanto, veio para Portugal no ano passado, ganham o salário mínimo, mais 100 euros de subsídio de refeição, por mês e têm direito a habitação. Já foram duas vezes à India visitar os parentes. Em 2022 fez o pedido de reagrupamento familiar e já têm o cartão definitivo de residência em Portugal.
Nuno diz que a nova lei da imigração é importante para regularizar a situação dos trabalhadores, terminando com situações ilegais e ultrajantes para os mesmos, pois viviam debaixo de exploração dos engajadores, que chegavam a mantê-las em condições ultrajantes nos limites da escravatura humana. Agora, só com contrato é que podem ingressar no país é a diferença fundamental.Moram no Coito, mas Nuno Pereira espera poder conseguir dentro em breve uma habitação com melhores condições, em Midões. “Os colegas estão num apartamento e eu separei-os, de forma a ficarem o casal e os filhos juntos”, diz o empresário.
Refere que a produção da framboesa está boa, “estável este ano, conseguimos controlá-la durante vários meses, e é bom que as condições atmosféricas se mantenham, não havendo muito calor”, estimando que possa atingir as dez toneladas, é claro, tudo derivando dos imponderáveis que possam surgir, por exemplo uma doença, “pois neste modo de produção biológica não podemos usar as mesmas armas de cura, é tudo à base de alimento e de recurso aos insetos e ao uso de armadilhas para a mosca não entrar aqui dentro”.
No que respeita ao mirtilo, este ano a geada afetou a produção que pode atingir as 54 toneladas. O mercado nacional é privilegiado na venda destes frutos silvestres, sendo efetuada uma distribuição porta-a- porta nas zonas de Lisboa e Porto, a preços mais competitivos dos que se podem encontrar nos supermercados. O restante vai para Inglaterra, Holanda e Espanha.
O empresário realça a dificuldade em contratar mão-de-obra nacional: “Às vezes, vêm quando têm necessidade, mas abandonam o posto quando arranjam outro tipo de trabalho, aproveitando as oportunidades; o problema da agricultura é esse, não é bem remunerada, nós não conseguimos pagar mais do que a lei obriga, porque não é fácil atendendo aos preços a que a fruta é comprada, mesmo com todas estas estratégias que seguimos de tentar vender diretamente ao comprador final. As próprias ajudas comunitárias para a produção não são suficientes, devido à carga salarial e aos impostos. Basta fazer as contas: 50 toneladas de framboesa podem render 50 mil euros. Isso não dá para pagar aos trabalhadores no ano inteiro. E se não houvesse esses subsídios, mesmo que sejam escassos, já tinha acabado a maior parte da agricultura, pois foram criados com o intuito de combater os produtos que chegam de outros países, principalmente exteriores à EU, que vêm com preços baixos, porque a mão-de-obra é muito mais barata e não há condições de sanidade como há cá”.
A concorrência espanhola é uma evidência, principalmente pelo facto de ter introduzido plantações em Marrocos, conseguindo aumentar a produção nacional.
Frisa a esse respeito Nuno Pereira: “Alcançam o monopólio quando entram nos supermercados, conseguindo ter preços muito competitivos. E porque isso acontece? Porque os apoios dados pelo governo espanhol são três vezes superiores aos nossos. Basta pensar nos subsídios ao combustível, no acesso à água, e nos apoios às plantações e na genética. Produzem os frutos em regiões onde os custos são menores e importam-nos para Espanha, uma situação que é difícil de combater pelas empresas portuguesas”.
Nuno Pereira contesta os motivos que impedem que os jovens, no período das férias escolares, não possam ser contratados para apanhar fruta nas explorações.“Agora, para os contratar, tenho de fazer contratos de estudante ou de curta duração. E a muitos são-lhes cortados os abonos do ano todo. Isso deveria ser permitido com a autorização dos pais, pois estão a aprender e não deveriam descontar para o IRS, pois é uma mais-valia para o território, ganhando o gosto pela terra”.
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