NUNO TAVARES PEREIRA, EMPRESÁRIO DO TURISMO, NUMA ENTREVISTA MUITO CRÍTICA
Numa antevisão do que poderá ser a época turística no concelho de Tábua, o empresário Nuno Tavares Pereira, de uma forma frontal como é seu timbre, põe o dedo na ferida sobre a atual situação do setor, aponta o dedo aos responsáveis camarários chegando a falar numa total inoperância e clientelismo, denunciando a perseguição que têm sido alvo as empresas do grupo empresarial liderado pelo seu pai – “há muito que deveria ser homenageado pelo Município por tudo aquilo que tem feito em prol dos tabuenses, se há por aí tantos que foram distinguidos e nada contribuíram para melhorar o concelho, era o mínimo que poderiam fazer”, é uma das frases marcantes nas suas declarações , onde nada ficou por dizer.
O Trilho dos Gaios foi registado como marca europeia, segundo o certificado que lhe foi concedido pelo organismo responsável pelo registo intelectual e propriedade (EUIPO). O que representa para si essa distinção?
Este é um processo com anos e que vai permitir apoiar as estruturas locais e a própria comunidade para melhor receber os visitantes.
O trabalho é voluntário e visa defender Tábua e as suas gentes. Faço-o com enorme agrado, porque o nosso passado merece. Por vezes, não é preciso gastar muito dinheiro, mas sim fazer com o intuito de melhorar.
O Nuno Pereira tem-se destacado, principalmente nas plataformas sociais, a divulgar os pontos turísticos de Tábua, como é o caso do Trilho dos Gaios. Por que o faz?
Há muitos anos que divulgo locais e ajudo principalmente os territórios mais esquecidos. O Trilho dos Gaios é um caso de sucesso devido a muitos fatores. Muita gente foi mantendo a teimosia de ir fazendo, ano após ano, o percurso, muitos ajudaram e eu sou, somente, um grão de areia com o objetivo de colocar no topo esta maravilha. É um processo longo. O município agora é que percebeu o erro na sua promoção turística e está a tentar corrigir, mas os turistas chegaram mais cedo, mas faltam muitas condições e essas são da responsabilidade da Câmara. Tem de se criar condições. Não pode colocar umas tábuas e uma placa a dizer proibido fazer nudismo e esperar que tudo seja resolvido.
O que falta em termos de apoios logísticos no Trilho dos Gaios?
É preciso criar condições para as pessoas chegarem e estacionarem, casas de banho, caixotes do lixo, informações dos locais onde estão as pessoas, telefones de emergência para qualquer acidente, bombeiros ao fim de semana e apoiar as pessoas e associações que estão a interagir com os visitantes, colocar guias turísticos no local, entre outras. Mas isto não pode ser amanhã, é tudo para ontem. Este mês de Junho vamos ter milhares de visitantes que se têm estado a organizar para visitar principalmente o Trilho dos Gaios, as cascatas de Sevilha, o Penedo C’Abana e os monumentos em Midões, que foi essencialmente o que chamou as pessoas na reportagem da SIC Noticias. Vai ser o caos. Se correr mal, muitas pessoas não voltarão. Isso tem de ser programado, não é colocar um contador de visitas e esperar por 2ª feira para ver quantas pessoas passaram. Da minha parte, vou fazendo com o meu dinheiro e os meus meios o que posso.
E vou angariar apoios com a marca “Trilho dos Gaios” para ajudar a dar condições e mais-valias para os visitantes, quer através da associação de Vale de Gaios, quer de outros eventos. Tem de se aproveitar agora que está na moda e as modas passam. Temos de nos reinventar para prevenir alterações de tendências. Talvez o tentar fazê-lo com as cascatas de Sevilha, o Penedo C’Abana ou outros pontos de atração. O município não faz, faço eu, ou outras pessoas. Depois, não venham difamar que isto e aquilo e que não sabiam, fazendo-se de virgens ofendidas como já é hábito. Trabalhem em prol de todos. Isso é o que lhes peço.
Tem sido objeto de críticas devido a esse seu empenho e ao facto de ser detentor da marca europeia Trilho dos Gaios. Como as encara?
Uma marca não é um local nem uma atividade, é antes proteger e promover a mesma. Por vezes até fico a pensar se as pessoas estão a dizer o que pensam ou se dizem só por dizer. Têm muita inveja do trabalho e vão pelo que outros dizem. Por exemplo, estou a criar uma rota para Torre de Moncorvo para a visita às antigas Minas que havia antigamente de Ferro. Já andavam a dizer que a Rota era para o Trilho dos Gaios. Essas pessoas são más e não têm credibilidade nenhuma, porque atacam tudo à sua volta só porque sim e porque não têm mais nada que fazer.
Eles ainda não perceberam que não chegam lá sem ajuda. Não é o dinheiro que vale é a divulgação. Eu chego a milhões de pessoas por mês. Isso não tem preço. Pensam que vêm ao Trilho dos Gaios e ao Penedo C’Abana por causa do slogan “Tábua o Encanto das Beiras”. Isso é completamente falso. O que é gasto em milhares de euros é muito pouco para o resultado obtido… Estão muito longe da realidade.
Qual a sua opinião sobre a estratégia camarária para o sector do turismo. Tem sido proficiente?
A estratégia do município no turismo não tem sido a melhor. Gastam milhares de euros a promover eventos e locais e, depois, não vão ao essencial. Os turistas têm enchido povoações como Midões, Casal da Senhora, Vale de Gaios, Várzea de Candosa, Póvoa de Midões, Vila do Mato, São Geraldo, Touriz, enfim, muitas localidades e negócios estão a surgir, mas a Câmara insiste em promover o turismo para irem a Tábua, quando as pessoas são objetivas e querem ir ver os locais que surgem nas redes sociais, fruto da divulgação feita pelas pessoas que vêm e daquelas, como eu, que estão sempre a promover estes locais. A diferença é que os privados gastam do seu bolso e a Câmara gasta dos nossos impostos. Deviam falar com quem está no terreno em vez de se fecharem nos gabinetes e nas salas de teatro só para os amigos. Que divulguem quanto gastam nesses eventos, onde a maioria dos presentes são convidados. Podiam, por exemplo, dar aos alojamentos e restaurantes um determinado número de entradas para os clientes. Isso é que é promover o negócio local, só que não dá para tirar as selfies da praxe.
Quer apontar algumas medidas que pudessem ser tomadas na promoção local?
Por exemplo, porque não falar com os órgãos de comunicação social da região e fazer uma campanha publicitária ao mesmo tempo em todos, dividindo o dinheiro que gastam em 2 ou 3 de órgãos que nem têm leituras através de um orçamento anual? Por exemplo, gastar 5000€ por ano na promoção a dividir por todos. De certeza que a maioria aceitava. O que acontece é que hoje gastam muito mais do que 5000€ por ano só nos órgãos de comunicação social que escolhem. Isso não é servir o território. O esbanjamento do dinheiro público é descarado, quando deveria ser para promover o tecido empresarial do concelho. Podiam colocar o TOMI a funcionar em Vale de Gaios, que sempre tinha utilidade. “Ironiza”.
Isso aplica-se igualmente a outras atividades?
Sim, se fazem uma rotunda e um acesso para os “Aquinos”, por exemplo, (concordo que assim seja para ajudarem no acesso à fábrica), porque não o fazem no acesso às outras empresas. Isto é ter visão curta. A sinalização no concelho é uma aberração. Uns têm placas em estradas municipais a indicar negócios, restaurantes e outros nem têm uma placa, e, se as colocarem, ainda estão sujeitos a coimas. O município é que deveria fazer esse trabalho e uniformizar essa sinalética, é assim que se faz, mas parece que uns são filhos de deus e outros do diabo.
Se quiserem estou disponível para reunir e dar a minha opinião sobre todos os assuntos que entenderem para melhorar o território com todos os que assim quiserem. Não tenho qualquer problema. Mas não me convidem para fantochadas e festas de rebanho, onde tudo diz amém e se estoira dinheiro público sem qualquer retorno para a população.
Pensa que os empresários locais têm sido devidamente apoiados nos seus investimentos? O que falta fazer?
Se utilizassem, por exemplo, o boletim municipal para promover os negócios locais, isso sim, seria aproveitar o desperdício de milhares de euros por ano só para tirarem fotografias aos vereadores a andar a desfilar nos eventos. A prioridade do dinheiro público deve ser o desenvolvimento económico e social e não gastar o dinheiro dos contribuintes em fotos de promoção pessoal e política.
Por exemplo, é público que o município, em 2020, gastou mais de 27000€ euros a alcatroar um parque privado do hotel de Tábua. Como sempre tenho dito, o importante é que todos os operadores turísticos e do tecido empresarial sejam apoiados da mesma forma. Não critico o apoio dado à empresa a, b, c ou d, até porque estava a ser hipócrita, mas defendo o apoio a todos de igual forma.
O município nunca pavimentou os acessos aos estabelecimentos dos operadores turísticos, mesmo depois de muitos pedidos. São dezenas no concelho. A entrada do meu hotel está em terra e nós é que reconstruimos o acesso para não parecer mal. Mesmo assim, levamos com a água a entrar no hotel quando chove, porque subiram a quota da estrada. Até parece perseguição. A uns, providenciam apoios para tudo e para outros nem uma alma penada aparece a perguntar se é preciso alguma coisa. O Município é que tem de estar ao dispor da população e das empresas e não o contrário. São pagos pelo orçamento público para servir a população.
Que apoios recebeu da Câmara para a construção do Palace Hotel de Midões?
A única coisa que recebemos de apoio da Câmara foi a isenção de taxas, que isentava todos os edifícios afetados pelos incêndios de 2017. Essa isenção foi dada pelo Município a todos os munícipes na reconstrução dos seus imóveis perdidos. Não pedimos nada. Desde essa altura, nunca nenhum vereador se dirigiu a nós para saber se precisávamos de algum apoio ou ajuda burocrática relativa às enormes perdas que tivemos. Criaram gabinetes de crise, mas nunca ninguém apareceu a não ser os bombeiros, mas que não tinham água nas bocas-de-incêndio para apagar o incêndio. Com a criatividade fértil de alguns, um dia ainda vão dizer que nós é que deitámos o incêndio no edifício. Onde é que essa gente andava, nesse dia?
Sustenta que há uma perseguição camarária às vossas empresas, fruto do seu pai liderar a oposição?
Não peço mais nem menos do que o que dão aos outros. Se vão ao café apoiar o comércio local, também têm de ir aos outros. Somos perseguidos e discriminados. Existe muito mais para além do que tentam dizer por aí. Até uma estrada que abriram uma vez na povoação de Touriz para a povoação ter saída para Midões, alegaram que a mesma era para nós, quando até cedemos terrenos para o caminho, porque é um bem para todos. Sublinho, que nunca pediram para passar nos nossos terrenos para o acesso à ETAR de Touriz que está nas nossas propriedades, mas não preciso que o façam. Mas, pelo menos, deviam ter respeito por quem o cedeu (o meu pai) para o bem da povoação de Touriz. E se eu fechar o acesso? Ainda vão dizer que eu é que sou o mau… Esta gente não fala com quem lhes diz as verdades e os enfrenta. Gostam é de andar com meias verdades.
O meu pai, no mínimo, já deveria ter sido homenageado há muitos anos pelo Município de Tábua e outros concelhos onde ele ajuda e apoia as populações locais e as suas diversas entidades. Pelo menos, que coloquem o nome dele numa rua que surgiu nos muitos terrenos que ele doou para benefício das populações. Se há por aí tantos que foram distinguidos e nada contribuíram para melhorar o concelho, era o mínimo que poderiam fazer.
Quer apontar um caso recente onde afirma haver essa discriminação?
No dia 22 de Janeiro o responsável pelo turismo teve uma reunião com alguns operadores turísticos. Foi o primeiro convite que recebi e fui com muito agrado para tentar perceber o que queriam de nós. Nesse dia 22 revelam que vão à feira de turismo de Madrid (FITUR) a realizar de 24 a 28 de Janeiro de 2024 e convidam-nos para ir à BTL em Lisboa, de 28 Fevereiro a 3 de Março. A feira “Tábua e Sabores da Beira” foi marcada para os dias 2 e 3 de Março, que coincidiram com a BTL. A maioria dos operadores já tinha marcado as suas reuniões com os operadores nacionais e internacionais, como foi o meu caso, que fui um dia a Madrid e outro a Lisboa. Não é a poucos dias da realização dos eventos que se pergunta se querem ir. Tem de haver planeamento, organização e investimento para o público-alvo. O responsável do turismo até disse que este ano não iam levar panfletos, porque agora é tudo digital e que ninguém quer papeis. Pois eu trouxe dezenas de papéis promocionais, quer de Madrid, quer de Lisboa. É muita falta de competência dos responsáveis para uma área com tanto investimento e implantação no concelho. A maioria dos alojamentos é de cidadãos estrangeiros e as reuniões são em português. Concordo, mas tem de haver logo uma tradução para ajudar estes investidores importantes. Eles trazem milhares de pessoas ao território. Temos dezenas de visitantes estrangeiros. Hoje falar inglês é, no mínimo, obrigatório. Se o responsável não sabe falar inglês ou não está à vontade, que contrate alguém. Acredito que alguns cidadãos em Tábua até o possam fazer de forma gratuita. O município e, neste caso, o vereador do turismo, têm de perceber que temos de estar todos juntos e, não, como ele próprio faz, ao publicar textos dos locais onde vai ou dos amigos. Tem de fazer o mesmo para todos. Não pode discriminar. É uma figura pública que tem de estar ao serviço de todos e não só de alguns.
O Vereador David Pinto, que ainda esteve no passado fim de semana na feira do Carregal do Sal, deve ter visto o nível de organização da feira e, quando esteve comigo, podia ter falado do que quer que fosse, mas não, dirigiu-se com o assessor do Presidente para os stands que não são de Tábua. Nós somos o maior representante do concelho em todo o mundo com o nosso vinho Picos do Couto que é de Midões, do concelho de Tábua e vão para eventos sem, muitas das vezes, levar o nosso vinho??? Nós enquanto empresa decidimos os locais onde podemos e devemos ir, mas o município tem de levar todos, seja o vinho dado ou pago. Isso é muita falta de profissionalismo e, até, de ética. Não sei de quem é a culpa. Se do vereador ou se não o deixam fazer, mas o município é que fica mal visto, porque os produtores todos se dão bem, porque as dificuldades são as mesmas, mas discriminar assim a, b, c ou d é mesmo muito feio e pouco ético. Andam em Cabo Verde a promover Tábua. Gostava de saber quantos cabo verdianos vêm de turismo a Tábua e qual o custo dessa dita promoção.
Falo à vontade porque a verdade deve prevalecer sobre o boato e a mentira. Falo porque estou cansado de ver sempre os mesmos erros a serem cometidos. Só querem dividir para poder reinar, quando deveriam unir para triunfar. Esse é o meu lema.
Acusam-no de se estar a vitimizar para tirar proveitos…
Eu levo e divulgo o nome de Tábua, Midões, Candosa, Póvoa de Midões, Oliveira do Hospital, Vilela, Senhor das Almas, Pinhanços, Nabais, entre muitas outras terras, sem qualquer problema. Vão consultar o que publico, o que digo e o que faço para verem muitas das vezes porque é que muitas terras e até empresas são conhecidas muito longe dos seus locais. E o trabalho não é só meu, mas de muitos como eu. Não discrimino ninguém, não sei ser assim, seja qual for o partido, clube, ou religião. Não acho que esse seja o melhor meio. É feio e contraproducente.
Se dizem que me estou a vitimizar, é verdade. Quem não se sente não é filho de boa gente. Falo em meu nome e de muitos que não podem falar e que se revêm em muito do que digo. Sou discriminado e vítima de dualidade por parte da câmara, se quiserem os documento e papeis é pedir que envio tudo, não os escondo
Se o município não sabe o que é preciso e não consegue reagir a esta onda de turistas e visitantes, que entregue os recursos e delibere nas juntas de freguesias que elas sabem bem melhor o que é preciso e sabem gerir melhor o dinheiro no seu território.
Porque é que partilham publicações de várias pessoas dos locais a visitar no concelho e nunca partilharam uma minha? Eu partilho coisas de todo o lado, não tenho peçonha de promover as terras e as nossas tradições. E a isso, o que se chama?
Entrevista: José Leite
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