“JULGUEI UMA IDOSA QUE ROUBOU UM RÁDIO E UM RELÓGIO PARA OUVIR O SIMPLESMENTE MARIA”

ÁLVARO LABORINHO LÚCIO REGRESSOU À TERRA ONDE FOI JUIZ PARA APRESENTAR A SUA MAIS RECENTE OBRA E LEMBROU EPISÓDIOS JUDICIAIS QUE PROTAGONIZOU. CONSELHEIRO JUBILADO DO STJ DISSE A “O TABUENSE” QUE É IMPORTANTE FAZER UMA REFLEXÃO SÉRIA SOBRE A JUSTIÇA.

   Cinquenta anos depois de ter sido juiz na então Comarca de Tábua, Álvaro Laborinho Lúcio regressou à terra que, segundo diz, lhe deixou boas memórias, “sendo uma honra estar aqui”. E fê-lo na qualidade de escritor – jovem, como também referiu, pois há pouco tempo que entrou nessas andanças literárias – para apresentar a sua mais recente obra intitulada “As Sombras de uma Azinheira”. Aconteceu por ocasião das comemorações no 22º aniversário da Biblioteca Municipal João Brandão, evento realizado no passado dia 20 de julho. Coube a Ricardo Fonseca Mota dar a conhecer a uma vasta e muito participativa plateia, alguns pormenores desta obra que propõe uma reflexão sobre o 25 de abril, traçando, de uma forma pormenorizada, a brilhante biografia de Laborinho Lúcio, Mestre em Ciências Jurídico-Civilísticas pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, atual conselheiro jubilado do Supremo Tribunal de Justiça e antigo ministro da Justiça do governo de Cavaco Silva, tendo integrado, recentemente, a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal.

 De uma forma muito coloquial, entusiasmante, Álvaro Laborinho Lúcio “prendeu” a assistência com as suas histórias de vida, onde se destacou as suas ligações, a Tábua, onde participou na inauguração do Palácio da Justiça e onde foi juiz, em 1973, no tribunal então instalado numas instalações então localizadas no edifício da Câmara. E foi sobre esta sua passagem pelo concelho como magistrado (acumulando esse cargo com a comarca de Oliveira do Hospital) que “O Tabuense” falou com Laborinho Lúcio, que nos relatou alguns curiosos episódios que então protagonizou: ”Lembro-me que nessa altura não havia praticamente nenhum restaurante em Tábua e eu saia do Tribunal para ir comer na pensão da Dona Mariazinha, que ficava ali bem perto. O almoço era sempre servido numa mesa comprida e, certo dia, verifiquei que um réu que eu ia julgar tinha estado a conversar comigo minutos no restaurante, num grande convívio. Passei a ir comer num outro local para evitar estas situações…Recordo-me ainda de um julgamento que fiz de uma velhinha que tinha roubado um rádio e um relógio a uma senhora que era sua vizinha. Acabou por confessar que o fez porque não tinha em casa rádio para ouvir e relógio para ver as horas em que começava aquela novela que fez furor, que se chamava, `Simplesmente Maria`. Teve uma condenação simbólica”.

   Sobre a obra que escreveu, diz que se trata de um romance que ocorre nos 45 anos antes do 25 de abril e nos 45 anos depois, e que nos leva a refletir sobre o que fizemos anteriormente e o que planeamos fazer no futuro, “não sendo um livro político”.

   Diz que começou a escrever quando tinha 72 anos, sublinhando que gosta de ficção e que a sua experiência de vida como juiz foi importante, principalmente introduzindo “uma reflexão sobre o mundo e a vida”. Sobre o momento atual da Justiça, frisa que é importante “fazer uma reflexão séria sobre a justiça, porque julgo que há hoje uma perceção particularmente distanciada da mesma, o que é preocupante para a democracia”

Texto: José Leite

Fotos: Biblioteca Municipal João Brandão

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