Por José Leite (Editor de “O Tabuense”)
Já se tornam recorrentes estas minhas queixas, mas, parafraseando a letra de um fado da Maria da Fé, vou insistindo até que a voz me doa, ou não seja esse o papel de um jornalista.
O Sr. Presidente da Camara de Tábua, do qual se augurava uma nova postura, mais transparente, assente nos valores de um estado democrático, continua a ignorar as perguntas que o jornal “O Tabuense” lhe faz chegar sobre as mais variadas matérias de interesse geral para o concelho e para os seus cidadãos.
Há cerca de uma semana atrás, enviei um email para o seu gabinete solicitando uma sua resposta a questões relacionadas com a chamada Carta de Perigosidade de Incêndio Rural elaborado pelo ICNF que coloca o concelho de Tábua na zona vermelha de risco de incêndio, condicionando o território no que se refere à alteração ou criação de edificações.
Uma matéria que tem sido alvo de contestação da maioria dos autarcas da CIM – Região de Coimbra, os quais aprovaram um voto de repúdio a esta Carta numa recente reunião.
Pretendíamos saber se partilhava da opinião de outros autarcas da Região, como foi o caso do Presidente da Câmara de Pampilhosa da Serra, referindo que este documento foi elaborado sem avaliação, através de uma matriz computacional que nem sequer teve em conta o que está neste momento construído, o que refletirá um certo alheamento do Poder Central para com a real situação no terreno destas regiões.
O vereador da Câmara de Tábua, Fernando Tavares Pereira, inclusive, igualmente tornou pública a sua posição sobre esta temática, não escondendo a sua revolta para com o silêncio dos deputados eleitos pelas regiões da interior face a essa Carta de Risco que, no seu entender, vem ajudar à desertificação, colocando entraves a qualquer tipo de investimento e que pouco ou nada ajuda na prevenção dos incêndios.
“Nem uma casa ou quinta se podem recuperar nesses espaços considerados de risco elevado ou muito elevado de incêndios. Não se pode investir na floresta. Não se pode fazer nada. Isto não é prevenir os fogos. Isto é um convite para os poucos que por cá resistem também abandonem o território”, acusou o empresário, defendendo apoios para uma reflorestação ordenada, mais resistente e resiliente.
Era, por isso, importante ouvir da parte do Sr. Presidente da Câmara de Tábua a sua opinião sobre esta matéria tão sensível, e não ficarmos apenas pelo seu mero desabafo feito numa das últimas reuniões de Câmara, dizendo que esta Carta vai ter efeitos desastrosos no PDM em elaboração. Importava saber que medidas iria tomar para pressionar junto do Poder Central para que atentasse nas condições intrínsecas e particulares desta região, sempre fustigada por tanta tragédia e ostracismo desse mesmo Poder Central, ao que o sucessivo adiamento da construção do IC-6 não é caso virgem – veja-se que pelo menos até ao principio do próximo ano, o comboio da linha da Beira Alta vai continuar sem circular no troço entre Coimbra até à Guarda, já para não falar nas obras infindáveis do IP-3, sempre a sofrerem cortes cirúrgicos, já se falando que talvez em 2025 essas obras de “recauchutagem” possam estar concluídas.
Ricardo Cruz não enviou qualquer resposta. Ficou mudo e quedo, no alto da sua cátedra de senhor todo o poderoso, ciente que as únicas informações que o povo tabuense tem direito a saber são, apenas, as propaladas pelo Boletim Municipal, pago a peso de ouro pelo contribuinte, ou pela página camarária do Facebook – notícias naturalmente sempre simpáticas, sem contraditório ( a não ser os comentários, por vezes, cáusticos de alguns tabuenses) publicitando obas que, afinal, foram lançadas ao tempo do seu antecessor, Mário Loureiro, como foi o caso do asfaltamento da estrada que liga Tábua a Midões ou a conclusão do Espaço Cultiva.
Uma atitude aberrante, atentatória do Direito de Informar determinado constitucionalmente, e que, a persistir, deverá merecer uma queixa na entidade reguladora da Comunicação Social, a ERC.
É difícil calar “O Tabuense” e, por isso, continuamos a ser a última instância a que recorrem os tabuenses quando se sentem injustiçados, como é o caso do tema da manchete desta edição. E certamente é isso que provoca alguns engulhos ao Sr. Presidente Ricardo Cruz, que gostaria de levar o seu “consulado” de uma forma tranquila, sem “ondas”, à sua maneira…
Nota do editor – Ontem, coincidindo com a saída do jornal “O Tabuense”, o Sr. Presidente tornou público na página do Facebook da Câmara Municipal um comunicado onde se congratulava pela decisão do Governo em suspender a Carta de Perigosidade dos Incêndios Rurais, sublinhando que a mesma “implicava fortes condicionalismos ao desenvolvimento dos concelhos do interior do País, onde Tábua se insere”. Só agora o Sr. Presidente resolveu tomar uma posição pública sobre este autêntico escândalo? E fê-lo, novamente, na sua página de propaganda, o que só veio dar razão ao teor do escrito acima.
Faça o primeiro comentário a "OS SILÊNCIOS DO SR. PRESIDENTE"