FORNADAS DE PÃO NA LAFA AJUDARAM A PAGAR CADEIRA ELÉTRICA A VÍTIMA DE UM AVC
Solidariedade não é ainda uma palavra vã. Vítima de um AVC em janeiro de 2018, Maria de Fátima, residente em Ázere, viu-se impossibilitada de se deslocar, mesmo com a ajuda do marido. A solução para ter uma vida mais digna, para ser mais feliz, passava pela aquisição de uma cadeira elétrica. E logo as gentes de Ázere se movimentaram com esse objetivo. Desde logo, através da LAFA (Liga dos Amigos da Freguesia de Ázere) que desenvolveu várias iniciativas no sentido de angariar fundos: foram as jornadas de venda do pão cozinhado nos próprios fornos da associação, de petiscos, a própria Junta de Freguesia que contribuiu com cerca de 600 euros, a ACUREDEPA também já informou que iria contribuir, uma “onda” humana que não parou de aumentar, quando a iniciativa deveria partir dos poderes públicos, é para isso que se pagam impostos.
“ Logo após o incidente que a vitimou, tentamos mobilizar-nos para fazer alguma coisa, pois toda a ajuda é pouca. A pandemia acabou por atrasar esse processo. Mas as nossas fornadas de pão acabaram por ser o foco dessa mobilização, que depois foi aumentando. Essa iniciativa já constava no nosso plano de atividades todos os últimos domingos de cada mês. Esta última, no primeiro domingo de outubro, foi dedicada a esta jornada solidária, tendo disparado as vendas e encomendas pelo motivo que era, houve, inclusive, pessoas que não compraram pão, mas transferiram o dinheiro”, explicou Tiago Gomes, o presidente da LAFA a “O Tabuense”.
Acrescenta que esta associação procura alargar as suas atividades, não se cingindo ao âmbito cultural e recreativo – no próximo dia 7 de novembro vai promover uma Jornada Ecológica pela freguesia com passagem pelos pontos obrigatórios do seu património arquitetónico e turístico e uma chamada de atenção para as questões ligadas ao ambiente.
“Infelizmente é a terceira vez que promovemos este tipo de ações de ajuda a pessoas necessitadas: foi o caso do Luís Duarte por causa de um acidente que sofreu com os incêndios, do José Dinis, que ficou sem duas pernas. Para além de uma associação, somos uma família”, refere Tiago Gomes. Há cinco anos à frente da LAFA, esta agremiação tem vindo a aumentar o número de membros (que ultrapassa presentemente os trezentos).
Nesta ação solidária com Maria de Fátima foram amealhados 1769 euros, uma parte destinada à compra da cadeira elétrica (950 euros), o restante vai reverter para a aquisição de uma cama articulada.
João Luís, o marido de Fátima, quis agradecer através do nosso jornal todos esses contributos. Há quatro anos que está desempregado e não está a receber nada por ser cuidador da mulher. ”Ainda esta semana estive na Segurança Social e ainda não há nada para cuidadores; Tábua ainda não está abrangida”, sublinha João, lamentando toda a burocracia: “Fazem-me andar em tribunais, nas Finanças, na Assistência Social para ser o cuidador dela e, por enquanto, não tenho direito a nada. Será que só no concelho de Tábua é que não há pessoas inválidas?”. Lembra que a Câmara efetuou obras na casa onde habita, criando condições para uma maior mobilidade da mulher, mas lamenta que, pelo facto de prestar essa ajuda imprescindível, isso o impede de conseguir um emprego. ”Eu andava com camiões e gruas, mas ninguém me dá colocação, pois mesmo que a Fátima fosse para um lar ou um Centro de Dia, teria de estar em casa quando a fossem levar. O que me tem valido foi a ajuda da família e o Fundo de Desemprego”.
Fátima também manifestou a sua gratidão para com as pessoas que lhe possibilitaram ter alguma alegria na vida depois do infortúnio que a vitimou. “Eu gostava de ajudar toda a gente….Agora chegou a vez de ser ajudada. Assim não estou sempre em casa, é bom apanhar este sol. Nesta altura, andava na apanha da azeitona e não o posso fazer aos 50 anos…é muito triste”.
VÍTIMA DAS INJUSTIÇAS DOS FOGOS
João Luís é um homem revoltado. Não só por causa da situação que atingiu a mulher e com todos os problemas que surgiram com essa situação, mas como vítima dos incêndios de 2017 e das injustiças que envolveram todo este processo, em que uns “foram filhos e outros enteados”. Recebeu cerca de 2500 euros de ajudas, insuficientes para pagar as alfaias que arderam, as mangueiras, os animais que morreram, motosserras, geradores, enquanto viu tratores serem entregues, novinhos em folha, a pessoas da freguesia cujas máquinas nunca arderam. ”Foram para o meu terreno tirar fotografias a toda aquela destruição, para quê? Se eu soubesse que não me davam nada, não tinham entrado”, desabafa. Lembra que as candidaturas foram feitas de um modo rápido, não houve investigações. Recorda-se de uma mulher dizer que tinha recebido 3750 euros de árvores que ela registou que lhe tinham ardido. Uma outra questionou-a? “Arderam-te que árvores?”. Ela respondeu: Não sei, nunca lá fui ver”.
João frisa que só se candidatou a ajudas até aos 5 mil euros. “Mas eles até me aconselharam a fazer uma candidatura em meu nome e no nome da minha mulher. Tinha recebido em duplicado”.
Texto e fotos: José Leite
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