JOSÉ OLIVEIRA, EX-CABEÇA DE LISTA DA CDU, UM INDEPENDENTE DA ESQUERDA, NÃO TEM DÚVIDAS…
Diz falar com o coração, é uma voz respeitada em Tábua, que sempre se fez ouvir em defesa dos direitos da população. Falamos de José Oliveira, um homem de esquerda ligado ao Partido Comunista e que nesta entrevista se coloca, de uma forma frontal, ao lado do candidato Fernando Tavares Pereira, “um grande regionalista, que representa o povo, com obra feita”.
Fernando Tavares Pereira (pelo PSD) e Ricardo Cruz (PS) anunciaram já as suas candidaturas. Quer comentar?
José Oliveira – O empresário Fernando Tavares Pereira parte numa posição mais favorável. Desta vez, lançou a sua candidatura com antecedência, não o fez como aconteceu há quatro anos atrás em que avançou de uma forma tardia, substituindo um outro candidato. Foi uma coisa feita à pressa. Agora tem possibilidade de apresentar uma boa candidatura em defesa dos tabuenses. O lema da campanha não me parece mau: ”Coragem para Mudar”. Se é para mudar para melhor, penso que também não é preciso fazer muito, da maneira em que as coisas estão. Esta candidatura de Fernando Tavares Pereira pode ser muito abrangente, popular, pois é uma figura respeitável do nosso concelho, um grande regionalista e um homem vindo do povo, com obra feita. Basta ver a coragem que teve ao fazer todo aquele trabalho de apoio às vítimas dos incêndios de 2017, criando o MAAVIM, contrariando a letargia que deram mostras aqueles que venceram as eleições. Foi um ombro amigo das pessoas que ficaram sem nada contrariamente ao que fizeram os senhores da Câmara. E recordo o excelente trabalho que fez em conjunto com a CNA, nas manifestações que organizou (uma delas na Praça do Comércio, em Lisboa) em que conseguiu com que o governo desse um apoio de 5 mil euros para os agricultores. Foi um trabalho extraordinário à frente do MAAVIM e que deve ser reconhecido pela população. Ele podia ser um homem de posses e não se lembrar dos mais desfavorecidos, o que não foi o caso. Se fosse em alguns concelhos, já devia ser nomeado Comendador, por tudo aquilo que fez em termos solidários, pelo carinho que tem pelas pessoas. Merece ser compensado pelo povo, e digo isto não com o sentido de o favorecer – todos sabem que sou um homem de esquerda, independente como ele – mas por uma questão de justiça.
E o Dr. Ricardo Cruz é o candidato da continuidade da política do PS no concelho?
Se for de continuidade, eu arriscaria que se deve apostar na mudança proposta por Fernando Tavares Pereira. As pessoas é que sabem se querem mais do mesmo. Você disse, o Dr. Ricardo Cruz. Agora há a moda dos Drs.…Comecei a descontar aos catorze anos e, com os impostos que paguei, ajudei a criar essas universidades que são agora autênticas fábricas de Drs. Aqui em Tábua, havia Drs. de prestígio, como foi o caso do Dr. Costa, do Dr. Rui Graça contra o qual concorri numas eleições. Antigamente, em cada esquina havia um amigo, agora há um doutor aos quais se fazem grandes vénias. E esquecemo-nos dos homens que carregam o lixo e que estão em contato direto com as pandemias, os que nos tratam dos esgotos, os enfermeiros que salvam vidas nos hospitais, por exemplo. Gostava de perguntar ao Sr. Presidente da Câmara se já se lembrou de atribuir o subsídio de risco aos trabalhadores que estão na linha da frente, dado que essa medida foi incluída no Orçamento?
Nem sabia que Ricardo Cruz era Doutor. Sempre o conheci como vereador e apenas na Câmara, pois nunca o vi lá pela minha freguesia (Ázere). Acho que foi a uns almoços na LAFA durante a campanha…nunca o vi com disposição para trabalhar com os fregueses de Ázere.
Mas o que falta em Tábua?
É preciso uma mudança, não a continuidade. O nosso concelho está a duas horas e meia de Lisboa, já não é tão interior como isso. O que acontece é que não temos tido a promoção do turismo na região, não há ideias novas, que possam atrair pessoas para esta região. Basta ver uma obra do pelouro da atividade física e lazer da responsabilidade do Dr. Ricardo Cruz: a implantação de um ginásio ao ar livre em frente à central de camionagem e um outro junto ao “Agulhas”, onde estacionam camiões. Não falando já na poluição desagradável dos escapes dos automóveis que ali passam continuamente, dos autocarros e camiões, há o risco de uma criança que esteja a fazer exercício ir para a estrada e ser atropelada, dado que essas máquinas estão ali junto á via pública. Por aí se vê a falta de conhecimento e planeamento para fazer uma coisa dessas nesse local. Podia dar ainda o exemplo de se ter feito uma ciclovia numa zona industrial, quando podia ter sido criada junto à ribeira num circuito em plena natureza.
Quer dizer que não há assim grandes obras que posam servir de trunfo ao PS? Mas anunciam-se milhões para alcatroar as estradas para as freguesias…
Isso é mais alcatrão em cima de alcatrão. Estou a lembrar-me do Eng.º Barata Portugal que fez uma obra extraordinária sem ter fundos vindos da União Europeia. Projetou a vila para o futuro, fez a fonte luminosa que arrastou multidões para a ir ver. Depois tivemos o Eng.º Ivo Portela que fez o Estado Municipal que esteve durante anos entregue aos coelhos. Fez também a Casa da Cultura, estragando o jardim Sarah Beirão. Foi pena não a ter construído nos bombeiros antigos e transferi-los para a zona industrial, desimpedindo a circulação no centro da vila. Só revelou falta de visão. Se o orgulho do desafio que o Dr. Ricardo Cruz diz querer ter em fazer as mesmas coisas, mais vale apostar na mudança. Por exemplo, por que não aproveitar os edifícios das escolas em várias freguesias que estão abandonados para fazer uma cooperativa que venda casas a preços económicos para a terceira idade que queira vir viver para o concelho? Não seria um bom projeto e logo, também, no pelouro do candidato do PS, que nada fez nem nada projetou para criar algo de novo nessas escolas, que se vão degradando. Seria também uma forma de dar vida às freguesias. Por que não projetar um passeio pedonal desde a Torre, Sevilha, ao longo do rio Cavalos até à Aguieira, aproveitando o leito do rio, criando uma praia no Porto do Rio, Ázere.Com o programa 2020 o dinheiro acaba por se gastar e não se veem obras de vulto, só de fachada. Por exemplo, inauguraram agora espaços para colocarem lixo subterrâneo na sede da vila. E as aldeias, vão continuar a ter aqueles contentores todos velhos, onde o lixo mal cabe e que obriga a que os detritos se espalhem pelo chão? As freguesias continuam a ser as parceiras pobres da família.
Projeta-se, por exemplo, um edifício que é uma espécie de ninho de empresas junto aos estaleiros da Câmara que está em fase final de construção. Isso não significa a criação de um espaço onde as empresas emergentes terão potencial de crescimento”, como acentuou o candidato do PS?
Julguei que era para dar melhores condições de trabalho aos funcionários dos estaleiros da Câmara, que há muito ambicionam ter melhores condições laborais, de terem, por exemplo, boas casas de banho. Se se trata de um ninho de empresas, que se lembrem dos pequenos empresários e comerciantes, e que tantas necessidades passam devido à pandemia. Que apenas têm um ou dois postos de trabalho mas que são empresas familiares, têm qualidade, não se tratam daqueles grandes polos que podem implicar grandes prejuízos ao concelho se a coisa correr mal e que apenas trazem pessoas de fora. As empresas devem ser tratadas de igual forma, não pode haver privilégios.
A CDU vai ter candidato próprio nas Eleições Autárquicas?
É claro que sim. É uma força interventiva e que tem feito uma boa oposição, assim como o PSD. Pela primeira vez, houve uma força opositora credível liderada por um grande industrial da panificação, o Carlos Santos, um ilustre tabuense e que não é doutor. Quanto aos cabeças de lista da CDU, devem ser dois doutores, já que estes estão na moda.
E o José Oliveira vai candidatar-se a algum cargo?
Não direi que não, está-me no sangue a defesa do meu povo e da minha gente, pessoas que acreditaram sempre em mim, como aconteceu com o movimento contra o aumento das taxas do cemitério, em Ázere, e que levou a Junta de Freguesia a retroceder nesse seu intento.
TEXTO JOSÉ LEITE
FOTO: MANUEL PEREIRA
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- “Antigamente, em cada esquina havia um amigo, agora há um doutor aos quais se fazem grandes vénias. E esquecemo-nos dos homens que carregam o lixo e que estão em contato direto com as pandemias, os que nos tratam dos esgotos, os enfermeiros que salvam vidas nos hospitais”
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- Não falando na poluição desagradável dos escapes dos automóveis que passam continuamente e dos autocarros, há o risco de uma criança que esteja a fazer exercício ir para a estrada e ser atropelada, dado que essas máquinas estão ali junto á via pública. Por aí se vê a falta de conhecimento e planeamento que houve no pelouro do Dr. Ricardo Cruz
- “É preciso uma mudança, não a continuidade. O nosso concelho está a duas horas e meia de Lisboa, já não é tão interior como isso. O que acontece é que não temos tido a promoção do turismo na região, não há ideias novas, que possam atrair pessoas para esta região”
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