“GRUPO GREENVOLT” (PELO SENTIDO, “GRUPO VOLTAGEM VERDE”)
INVESTE 40 MILHÕES DE EUROS – MAS PARA LUCRAR AO MÁXIMO – NA “PLANTAÇÃO” DE PAINÉIS SOLARES EM TÁBUA. SERÁ QUE OS CONSUMIDORESVÃO SENTIR NA FATURA DA ELETRICIDADE ESTE PROJETO?
Como teve bastante divulgação, foi inaugurada a autêntica “plantação” de painéis fotovoltaicos (central solar) para produção de energia elétrica. É uma “plantação enxertada” dentro de 90 hectares de terrenos situados de ambos os lados do troço do IC 6, na freguesia de S. João da Boavista, no concelho de Tábua. Mais divulgou a “Greenvolt” – a empresa proprietária desta central solar – representar um investimento de 40 milhões de euros, com 90 mil painéis solares capazes de alimentar com eletricidade 60 mil famílias. Nada pouco, diga-se…
Claro que tudo isto, que aliás é bastante, aparece “embrulhado” no “celofane” propagandístico da moda, em torno das energias ditas “alternativas” ou até “limpas”, no propalado contexto de não sei já quantos “combates às alterações climáticas” e das “metas de descarbonização do CO 2” fixadas pela União Europeia e transpostas para Portugal de forma aliás “mais papista que o Papa”… Enfim.
Entretanto, agora e que se saiba pelo menos, ninguém lá voltou a falar no “retorno” concreto, económico e financeiro, de início prometido, por exemplo em termos da redução da fatura da eletricidade para os Tabuenses e vizinhança ?! E o primeiro a dever falar neste aspeto – que é aquele aspeto que agora mais interessará às pessoas – até deveria ter sido o Presidente da Câmara Municipal de Tábua que é suposto ter andado envolvido, ter “apadrinhado” mesmo, institucionalmente, este projeto desde o início… Mas esta questão também se põe à diretoria da empresa “Greenvolt”. Afinal como é agora? Sempre vai haver e em quanto, a redução da fatura da eletricidade dos Consumidores locais ?? Ou não haverá ? Respondam pois !
E como se diz
pelo Mundo fora:
“O capitalismo não é verde !”
Note-se também que esta “Greeenvolt”, que afirma ter centrais em 16 países – é uma multinacional – aparece, pelo menos entre nós, umbilicalmente ligada à grande empresa “ALTRI” – uma outra multinacional das celuloses e das biomassas. Ora, tendo em conta que nos terrenos, nos tais 90 hectares onde foi “enxertada” esta central solar, houve eucaliptais que foram cortados, é provável que esses terrenos estivessem a ser explorados para a produção de eucalipto celulósico (pasta de papel) precisamente pela ALTRI… Bem, não é que venha mal ao mundo por esses eucaliptais terem sido arrancados mas, a ser como parece, agora o “negócio” é outro e também para a ALTRI…
Entretanto, é de certeza muito atrativo o “negócio” em torno deste tipo de grandes (“mas não gigantescas”…) centrais solares, pois aparecem “plantadas” um pouco por todo o lado, mesmo em cima de terras de aptidão agrícola e florestal. Para isso, para investirem, os grandes grupos económicos e financeiros dispõem de variadas e “interessantes” – para o grande capital em geral – fontes de financiamento – por exemplo, os tais “Green Bonds” – “obrigações (fundos) verdes”, à partida altamente recompensadores, para além de várias vantagens processuais, antes e depois de instaladas estas centrais fotovoltaicas, de entre outras.
Estas mesmas centrais produzem energia elétrica assim como as eólicas, e outras, de outro tipo, produzem biomassas mas, para nós, nem baixa o preço da eletricidade nem das “peletes” caloríficas… Quer dizer, ande lá “a coisa” por onde andar, os lucros vão sempre dar aos mesmos… E convém até verificar se estes dois grandes grupos económicos envolvidos nesta central solar, em Tábua, estão ou não a pagar impostos em Portugal e quais cá pagam eles afinal ?
Portanto, justifica-se a aplicação do “slogan” (lema) acima reproduzido: “O capitalismo não é verde!” – porque, de facto, o capitalismo, no caso o investimento intensivo de capital privado para proporcionar o maior retorno possível como lucros – é o grande responsável pelos maiores problemas ambientais e energéticos que nos afetam e aos níveis, local, nacional e internacional. E um tal “negócio” encontra, na sua génese atual, um mecanismo privilegiado de reprodução global através dos chamados “mercados ou ´bolsas´ do carbono” enquanto mecanismo de grande especulação com repercussões financeiras. Um maná para alguns, para entidades e países com maiores recursos económicos e financeiros, pois claro!…
De facto, é indispensável combater as alterações climáticas mas, para isso, também é necessário salvaguardar o uso dos solos, o equilíbrio ambiental e o interesse coletivo mais prático que este seja.
No contexto, é muito aconselhável que este tipo de projetos seja comandado, de facto, por entidades públicas e publicamente responsabilizáveis. E sim, sendo, como é o caso, o lucro “intensivo” o objetivo central, assim não se vai lá e por maior que seja a barragem de propaganda privada e institucional montada ao seu redor…
Texto: João Dinis, Jano
(Dirigente associativo agrícola)
Faça o primeiro comentário a "O CAPITALISMO NÃO É VERDE"